segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Crítica – Fale Comigo

Análise Crítica – Fale Comigo

 

Review – Fale Comigo
Sem que ninguém esperasse o terror australiano Fale Comigo se tornou um fenômeno de bilheteria e chegou a ser alardeado como o melhor terror do ano. Não chega a ser tudo isso, mas é uma produção bem envolvente por conta do cuidado com seus personagens e da maneira singular com a qual apresenta seu mundo de espíritos.

A trama acompanha um grupo de jovens que encontra uma mão embalsamada que tem o poder de entrar em contato com os espíritos. Por diversão eles usam a mão em festas como se tudo fosse uma grande brincadeira. Mia (Sophie Wilde) fica mais tempo do que deveria com um espírito no corpo e passa a ver coisas mesmo quando não usa a mão, sendo assombrada inclusive pelo espírito da falecida mãe. Aos poucos a garota vai perdendo o senso de realidade e passa a ser manipulada por esses espíritos.

Enquanto premissa não há exatamente nada de novo em histórias de jovens que brincam com o sobrenatural e esbarram em forças muito além de seu controle, o que chama atenção aqui é a maneira com a qual o filme trabalha essas ideias. É um terror com um ritmo bem deliberado, que toma seu tempo para estabelecer seus personagens e sua mitologia. Talvez o ritmo soe lento para alguns, mas essa construção de como o trauma da perda da mãe pesa sobre Mia e o que significa para ela a amizade com Jade (Alexandra Jensen), Riley (Joe Bird), bem como o acolhimento que recebe da mãe de Jade, Sue (Miranda Otto) são importantes para que sintamos o risco de tudo que está em jogo para Mia uma vez que a crise se estabeleça.

É justamente pelo filme ter dado o devido tempo para nos conectarmos com esses personagens, suas dores e relacionamentos, que muito do conflito funciona em nos envolver, já que sem isso seria só mais um filme de possessão. Outro elemento importante é a própria mitologia envolvendo a sinistra mão que serve para contatar os espíritos e todo o processo que isso envolve. A narrativa estabelece regras delimitadas o suficiente para entendermos do que precisamos ter medo, ao mesmo tempo que deixa certos aspectos desse mundo sobrenatural sem explicação permitindo uma aura de mistério e incerteza que evita que toda a ameaça soe previsível demais.

A produção apresenta visuais sinistros para os espíritos que se apresentam diante dos personagens e para o modo como os corpos dos jovens se debatem no momento em que esses seres tomam seus corpos. As cenas de possessão de valem do modo como a câmera gira em seu eixo fixo para dar uma sensação de desorientação e mudança de perspectiva conforme o controle do corpo de algum personagem muda para os seres espirituais. O trabalho de maquiagem também é eficiente nos machucados de Riley, conferindo ao garoto um aspecto grotesco e deixando claro o risco que todos correm ao mexerem com forças muito além de sua compreensão.

O clímax, por outro lado, é relativamente previsível. Era óbvio que Mia estava sendo manipulada pelos espíritos e que o desdobramento disso seria ela, já desconectada da realidade, tentasse ferir os amigos. A decisão final da protagonista perde um pouco do impacto por ter sido telegrafada com pouquíssima sutileza no momento em que ela encontra um canguru ferido na estrada.

Fale Comigo não exatamente reinventa o terror de invocação de espíritos, mas sua narrativa constrói de maneira competente seus personagens e uma mitologia interessante para seu sinistro artefato que nos deixa imersos na tensão de sua trama.

 

Nota: 7/10


Trailer

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