sexta-feira, 26 de maio de 2023

Crítica – Império da Luz

 

Análise Crítica – Império da Luz

Review – Império da Luz
Dirigido por Sam Mendes, Império da Luz tenta falar sobre solidão, nostalgia e o poder do cinema, mas nem sempre consegue costurar todas as suas ideias em um conjunto coeso. O cenário na Inglaterra da década de 80 parece evocar experiências pessoais do diretor, embora não seja um filme calcado na relação dele próprio com o cinema como aconteceu em produções como Belfast (2021) ou Os Fabelmans (2022).

A narrativa se passa em uma pequena cidade litorânea da Inglaterra. Hilary (Olivia Colman) é uma mulher solitária de meia idade que parece ter perdido o ânimo, fazendo tudo mecanicamente, inclusive sexo com o dono (Colin Firth) do cinema no qual trabalha, muito por causa da pesada medicação que ela toma depois de um período internada por problemas mentais. As coisas mudam quando ela tem que treinar o novo funcionário, Stephen (Micheal Ward), um jovem negro cheio de energia. Aos poucos eles se aproximam e aprendem mais sobre o outro.

Olivia Colman é ótima em nos fazer perceber as várias camadas e variações bruscas de humor de Hilary. Com um olhar que evoca fragilidade e solidão, mas também uma quantidade enorme de frustração por uma que ela vem deixando passar diante dela embora ainda guarde uma fração de esperança de encontrar felicidade. Sentimos a dor que ela carrega, inclusive por afastar as pessoas ao seu redor com seu jeito abrasivo, e o desejo de transformar a vida. Colman nos faz embarcar na jornada de Hilary mesmo quando o roteiro não desenvolve bem seus caminhos.

Um exemplo é o envolvimento sexual entre ela e Stephen, que vem do nada, sem a devida construção do porquê aquela amizade entre duas pessoas solitárias desembocaria em desejo, e quando pensamos que essa relação será um elemento central ela é rapidamente deixada de lado ao ponto que nos perguntamos qual a razão desse envolvimento em primeiro lugar. Além da jornada de autoaceitação de Hilary, o filme também é sobre Stephen encontrar um rumo na vida e o modo como ele enfrenta o racismo do país (afinal estamos da Inglaterra sob Tatcher) e também sobre o poder do cinema.

É na costura dessas três narrativas que o filme peca, já que o percurso de Stephen acaba se desconectando da relação com Hilary e levando em outras direções e o fato das questões de racismo serem tratadas de maneira superficial, com o filme não conseguindo ir além da óbvia constatação de que racismo é ruim. Do mesmo modo as reflexões sobre a força do cinema (e aqui faço a distinção de que a produção está falando do lugar das salas de cinema e não dos filmes em si) também fazem muito pouco para realmente transmitir a magia e a capacidade transformadora dessa experiência coletiva de sentar em uma sala escura para assistir imagens em movimento projetadas em uma tela.

Nesse sentido, o único elemento que trabalha bem esse senso de encantamento e afeto pelas salas de cinema é a fotografia do veterano Roger Deakins. Enchendo os salões do cinema de luz que refletem em matizes de dourado e sépia, a iluminação de Deakins confere esplendor e nostalgia ao cinema, como que evocando uma era dourada e mágica desse tipo de lugar.

É uma pena, portanto, que o resto de Império da Luz não esteja à altura da performance de Olivia Colman ou da fotografia de Roger Deakins, sendo prejudicado por um texto desconjuntado e um olhar superficial para os temas que a trama tenta apresentar.

 

Nota: 5/10


Trailer

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