sexta-feira, 15 de julho de 2022

Crítica – Sob Pressão: 5ª Temporada

 

Análise Crítica – Sob Pressão: 5ª Temporada

Review – Sob Pressão: 5ª Temporada
Confesso que não esperava que Sob Pressão fosse ter mais uma temporada. O quarto ano da série acabou tão bem que podia tranquilamente ser o fim da série. Ainda assim, estou feliz por Sob Pressão ter chegado à sua quinta temporada (que provavelmente será a última), já que ela continua a ser uma das melhores séries brasileiras dos últimos anos. Aviso que o texto contem SPOILERS da temporada.

Nesta temporada Evandro (Júlio Andrade) reencontra o pai, Heleno (Marco Nanini), de quem estava afastado há anos. Heleno está com Alzheimer e precisa de cuidados constantes, então Evandro, mesmo não querendo se reaproximar do pai, o leva para casa, já que é o único parente que ele tem. Enquanto isso, Carolina (Marjorie Estiano) descobre um nódulo no seio e procura o mastologista Daniel (Emilio Dantas), com quem ela teve um caso no passado. As duas crises colocam bastante tensão no relacionamento entre Evandro e Carolina.

Além das tramas contínuas dos protagonistas, a série também tem seus típicos “casos da semana” com os pacientes que chegam diariamente ao hospital. Como em outras temporadas, esses casos servem para pensar questões da realidade brasileira. Um deles, por exemplo traz uma mulher com problemas de saúde depois de anos vivendo sob condições de trabalho análogo à escravidão. Em outro um jovem negro é brutalmente agredido na rua ao ser confundindo com um ladrão por uma mulher branca. Uma da influenciadora digital que sofre complicações de uma plástica mal feita por um médico picareta, algo que lamentavelmente tem ocorrido com certa frequência. Além de doenças físicas, são tramas que revelam as doenças sociais de um país marcado por desigualdades e outros problemas.

Essas tramas contam com um ótimo elenco coadjuvante, como Lázaro Ramos que interpreta dois irmãos gêmeos, Fábio Assunção vive um homem cuja personalidade se altera depois de uma lesão cerebral. A participação mais impactante, no entanto, é a de Tony Ramos e Irene Ravache como um casal de idosos casado há décadas que contempla a morte de um deles. Ramos emociona ao convocar em cena um afeto do tamanho de uma vida inteira, nos dando a precisa dimensão e peso de como um amor tão grande marca uma pessoa e o impacto de contemplar a iminente morte de uma pessoa amada.

Emocionante também é a construção da relação entre Evandro e Heleno, no modo como Evandro aos poucos desapega de mágoas do passado e começa a conhecer facetas do pai (nos breves momentos de lucidez que ele consegue exibir) que fazem o médico perceber como Helena foi uma influência mais presente na vida dele do que se lembrava. Marco Nanini mostra muito bem como uma doença degenerativa devasta a mente de uma pessoa, exibindo uma vulnerabilidade de cortar o coração.

A temporada aproveita para resolver as tramas de alguns de seus coadjuvantes. Décio (Bruno Garcia) resolve priorizar seu relacionamento com o marido. Vera (Drica Moraes) e Mauro (David Júnior) assumem o relacionamento, embora os problemas de alcoolismo de Vera sejam subaproveitados na temporada. O arco mais emocionante, porém, acaba sendo o de Charles (Pablo Sanábio), que mostra o quando ele amadureceu do residente inseguro que conhecemos no início da série, sendo reconhecido como um igual por Evandro, selando a relação de mentoria e amizade entre os dois, o que torna a partida de Charles bastante dolorosa.

Já Carolina lida com as inseguranças de estar com uma doença potencialmente letal e a confusão de sentimentos trazidas pela proximidade com Daniel. De um lado é compreensível que alguém em um estado de insegurança e fragilidade acabe projetando sentimentos em um antigo namorado que também é seu médico. Por outro, considerando as muitas crises que se montam nos personagens ao longo da temporada, não sei se um bom e velho triângulo era realmente necessário. Eu entendo que esse elemento está ali para que ela e Evandro reavaliem a relação, já que eles se magoaram várias vezes ao longo dos anos, e também para que a própria Carolina perceba o quanto ela se negligenciou ao tentar resolver os problemas dos outros.

Ainda assim, há algo de trágico e relativamente amargo ao ver esses personagens que acompanhamos ao longo de anos se afastarem, principalmente se esse for mesmo o fim da série. É coerente com o arco de Carolina, de fato, considerando que a doença a faz reavaliar a vida e decidir se priorizar, é realista no senso que as vezes mesmo relacionamentos com amor verdadeiro não dão certo, no entanto, talvez pelos tempos em que vivemos ou pelo tempo que acompanhamos os dois, esse desfecho soa um pouco anticlimático.

De todo modo, a quinta temporada de Sob Pressão continua sendo um ótimo exame da realidade brasileira, elevado pelas performances envolventes do elenco principal e dos atores convidados.

 

Nota: 8/10


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