quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Crítica – Young Justice: Outsiders

 

Análise Crítica – Young Justice: Outsiders

Review Crítica – Young Justice: Outsiders
Lançada em 2011 no Cartoon Network, Young Justice era uma das melhores séries animadas do universo DC. Era tão boa que foi uma surpresa quando a emissora anunciou o cancelamento da série depois de uma excelente segunda temporada que, por sinal, acabava com um gancho. Desde então os fãs pedem o retorno da série, mas isso só aconteceu em 2019 quando a Warner lançou um streaming exclusivo para produtos da DC e uma terceira temporada intitulada Young Justice: Outsiders foi lançada. O streaming não existe mais e seus produtos foram incorporados à HBO Max, sendo através dela que essa terceira temporada finalmente chega ao Brasil (junto com a estreia da quarta temporada).

Depois dos eventos do segundo ano, os membros sêniores da Liga da Justiça estão em missão no espaço tentando reparar a imagem da Terra e ajudar os planetas afetados. Em uma dessas missões eles descobrem meta-humanos da Terra empregados por vilões intergalácticos como escravos. Assim, cabe aos membros que ficaram no planeta, em especial aos heróis da Justiça Jovem, resolver a crise. O problema é que a ONU, agora liderada por Lex Luthor, limita a ação da Liga, então vários membros da Liga, jovens e experientes, deixam o posto para agir na ilegalidade e prender os traficantes de pessoas. A investigação da equipe secreta os leva à pequena nação da Markovia, na qual a jovem princesa Tara e o príncipe Brion foram sequestrados supostamente por terem o meta-gene.

Esse terceiro ano preserva muitos dos elementos que tornaram a série tão bacana, principalmente o modo como entende o funcionamento da Liga. Mais que apenas um grupo de heróis, a Liga é mostrada como uma grande agência de inteligência e policiamento, com sua burocracia interna e divisões secretas para evitar se comprometer aos olhos do público ou comprometer a integridade dos membros públicos da equipe. O ardil também se mostra relativamente necessário considerando que a Luz, um grupo de supervilões liderados por Vandal Savage, opera nas sombras para influenciar os eventos do mundo e a Liga não tem como combatê-los sem também embarcar nas sombras. Assim, a série usa todo esse arco para discutir o que significa ser herói e como usar as estratégias do inimigo podem tirar o rumo da missão. O Raio Negro acaba servindo como a consciência da equipe, sempre lembrando os riscos de cruzar limites éticos e tentando direcionar todos para um caminho mais correto.

A trama usa a posição de Lex Luthor como líder da ONU como uma metáfora para a onda corrente de políticos reacionários que usam de notícias falsas para instilar pânico, preconceito e acumular ainda mais poder. Não é acidente, por sinal, que muitos diálogos de Luthor aqui referenciem diretamente frases ditas por Donald Trump (embora eu ache o paralelo ofensivo para Luthor, léguas de distância mais inteligente e articulado do que Trump) ao longo de sua presidência. O arco do Mutano na temporada serve para mostrar como não basta aos heróis agirem corretamente, mas que precisam exibir para a opinião pública como eles são corretos, conquistando os corações e mentes da audiência para que fiquem ao lado deles no debate público sobre super-heróis. Não é apenas uma guerra para derrotar os vilões, é um embate também no campo da comunicação para desmontar notícias falsas e lembrar o público da verdade.

Além de intriga, a série também é eficiente no desenvolvimento de seus personagens, conseguindo dar a cada um dos muitos heróis e vilões algum espaço para se desenvolverem. O trauma dos membros originais da Justiça Jovem em relação à morte de Wally West ajuda a mostrar como viver basicamente como uma criança-soldado afeta a mente desses personagens. Conner e Megan tem a relação abalada por terem ideais diferentes de como proceder. Tara lida com o fato de ter sido traída por todos que conheceu e pela Síndrome de Estocolmo do tempo em que ficou cativa sob o Exterminador. Violet busca sua própria identidade ao se descobrir como uma híbrida de humana e Caixa Materna, enquanto que Brion lida com sua raiva de ter visto o tio corrupto ter destruído seu país.

Ao final, a temporada consegue amarrar bem os arcos que construiu até aqui, como Artemis finalmente conseguindo seguir adiante em relação à morte de Wally, e também aqueles que vêm desde o início da série, como Conner finalmente se revelando em público. O desfecho ainda tem o choque de uma ação extrema de Brion que o afasta do resto da equipe, algo que é inesperado, mas não incoerente com o personagem e ajuda a mostrar como alguém pode se perder em meio a boas intenções.

É algo que ajudaria a dar nuance ao personagem e é por isso que a revelação em uma das últimas cenas que de que ele foi manipulado psiquicamente pelo embaixador da Markóvia soa como uma covardia tão grande. Isso esvazia todo o choque e toda a complexidade da ação, colocando-o meramente como uma vítima. Entendo a ideia do embaixador ser um espião da Luz direcionando o governo de Brion, mas ele poderia fazer isso simplesmente recorrendo a uma argumentação venenosa que apelasse para os piores instintos do jovem monarca ao invés de efetivamente controlar a mente dele com super poderes.

Mesmo depois de mais de seis anos entre sua segunda e terceira temporada, Young Justice: Outsiders segue sendo uma das melhores animações do universo DC, tentando entender o lugar do heroísmo em um mundo dominado por redes sociais, narrativas e notícias falsas, além de explorar os impactos de tudo isso sobre os próprios heróis.

 

Nota: 8/10


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