quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Crítica – A Máfia dos Tigres: 2ª Temporada

 

Análise Crítica – A Máfia dos Tigres: 2ª Temporada

Review – A Máfia dos Tigres: 2ª Temporada
A primeira temporada de A Máfia dos Tigres se tornou um fenômeno de audiência ao estrear durante o início do lockdown da pandemia. Todo mundo trancado em casa sem saber o que fazer e de repente surge essa série documental sobre sujeitos bizarros donos de zoológicos improvisados e uma denúncia sobre a falta de regulação dos EUA sobre a posse de animais silvestres. Parecia a distração perfeita para as incertezas pandêmicas. Mais de um ano depois a segunda temporada estreia na Netflix com a esperança de replicar o fenômeno e o resultado é muito ruim.

A primeira temporada tinha como eixo central as denúncias de precariedade, maus tratos e violações trabalhistas cometidas por uma série de donos de “zoológicos” de beira de estrada que lucravam em cima de animais silvestres. No meio do caminho a série se detinha sobre as maluquices e excentricidades desses indivíduos, mas ao menos havia um foco muito claro.

Essa segunda temporada é desprovida de foco ou de uma trama que unifique as histórias, partindo das tentativas de libertar Joe Exotic, depois falando sobre o sumiço do marido de Carole Baskin e sobre os problemas legais de Jeff Lowe, mas não há nada que una direito essas tramas, são uma série de histórias soltas. Mais que isso, os personagens que entram nessa temporada, já que os da anterior ou foram presos ou se recusam a falar, são completamente desinteressantes.

A maioria deles são pilantras e oportunistas que meramente querem aparecer às custas das polêmicas da série, como o sujeito que lidera uma campanha para conseguir um perdão presidencial para Joe ou o detetive de internet que tenta investigar o sumiço do marido de Carole. Diferente dos sujeitos apresentados na primeira temporada que tinham alguma complexidade (como Joe Exotic, um caubói conservador e amante de armas que também é um gay polígamo), nenhum desses indivíduos introduzidos no segundo ano tem qualquer história interessante e é bem visível que são picaretas com pouca capacidade de fazer a diferença para os casos.

Mais grave, na verdade, é que o documentário dê palco para essas pessoas sem sequer questionar as credenciais ou qual o valor da contribuição de completos amadores lidando com áreas que não dominam. Parece que o interesse é simplesmente o sensacionalismo (que a primeira temporada já exibia) rasteiro e a exploração da bizarrice tosca dos personagens sem qualquer preocupação com uma apuração séria dos fatos.

Num contexto de fake news e desinformação correndo solta é inaceitável que um documentário que se pretende a ser sério deixe um bando de idiotas delirantes falarem paranoias especulativas sem sequer questionar a competência desses indivíduos. Um exemplo é Ripper, um “detetive” de internet que resolve investigar o caso do marido de Carole, inclusive sendo contrato pelas filhas do Don Lewis.

Ripper não tem qualquer experiência ou treinamento formal em investigação ou processo penal. Não é advogado, detetive particular licenciado, nunca foi membro de uma força policial, não tem qualquer networking ou acesso a essas instituições. Ele é apenas um sujeito que conversa no Youtube com outros amadores sem conhecimento e, ainda assim, o documentário acompanha a investigação dele sem nunca questionar qual a capacidade real que alguém como ele, um completo amador, teria em resolver o caso. Aliás, os realizadores nunca sequer perguntam se Ripper já alguma vez chegou a contribuir ativamente com a resolução do caso.

A série simplesmente dá protagonismo a um maluco qualquer das margens da internet e deixa-o especular livremente sobre o caso sem produzir nenhuma informação concreta e nunca o questiona. Considerando que a maioria das novas informações vem dos testemunhos e entrevistas que o próprio documentário coletou em Porto Rico (e que não ajudam muito a elucidar a questão, apenas mostrando que Don se envolvia com pessoas suspeitas) chega a ser incompreensível que tanto tempo seja dedicado ao detetive de internet que não contribui com nada. Em pleno 2021 ficar batendo palma para um maluco dançar e alçar ele ao status de celebridade é uma irresponsabilidade enorme.

Isso se aplica também à toda cobertura que a temporada dá ao processo para tentar soltar Joe Exotic. Todas as entrevistas com Joe na prisão não parecem ter qualquer objetivo além de mostrar o quanto ele é tosco e bizarro, dando amplo palco para que ele vomite teorias conspiratórias delirantes e desconectadas da realidade. É estranho que o filme acompanhe todo esse esforço para soltá-lo considerando que a primeira temporada deixa bem evidente que Joe merece estar na prisão. É igualmente estranho que essa temporada trate como uma grande revelação o fato de Jeff ter armado o flagrante que prendeu Joe por encomendar o assassinato de Carole sendo que a primeira temporada já mostrava isso.

Inclusive toda defesa pela soltura de Joe passa apenas por esse crime, ignorando que ele foi condenado por vários outros crimes de maus tratos contra animais que o próprio documentário já exibiu fartas evidências de que Joe é culpado. O erro no processo não é que Joe tenha sido preso, mas que as pessoas ao seu redor, como Jeff ou Tim Stark não tenham sido presas também. Tratar Joe como injustiçado diante de tudo que a primeira temporada mostrou é negar a realidade.

Sem oferecer um fio narrativo coeso, uma mensagem ou sequer novas informações relevantes, a segunda temporada de A Máfia dos Tigres existe apenas para lucrar em cima do inesperado sucesso do primeiro ano, apresentando apenas um sensacionalismo rasteiro e irresponsável permeado por personagens desinteressantes. Assim como aconteceu com a fraca segunda temporada de Making a Murderer talvez tivesse sido melhor esperar mais tempo para fazer uma nova temporada.

 

Nota: 3/10


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