quinta-feira, 13 de maio de 2021

Crítica – Últimas Notícias de Yuba County

 

Análise Crítica – Últimas Notícias de Yuba County

Review – Últimas Notícias de Yuba County
É difícil olhar para esse Últimas Notícias de Yuba County e não pensar na filmografia dos irmãos Coen, especialmente Fargo (1996) por conta de também ser um filme que transita entre vários gêneros e também contar a história de uma pessoa aparentemente comum que se envolve em um crime e desencadeia uma série de fatos bizarros. A questão é que enquanto o filme dos Coen usava isso para falar como não temos nenhum controle sobre as nossas vidas ou os laços caóticos que unem as vidas das pessoas, aqui o diretor Tate Taylor tem pouco a dizer sobre as ideias que sua narrativa apresenta.

Sue Buttons (Allison Jenney) é uma mulher classe média frustrada e desesperada por atenção. No dia do seu aniversário Sue descobre que o marido, Karl (Matthew Modine), a estava traindo e Karl tem um infarto fulminante no momento em que é descoberto. Ao invés de ter que explicar a morte do marido para as autoridades, Sue simplesmente decide ocultar o cadáver e avisar a polícia que ele desapareceu. O que ela não sabia é que Karl usava o trabalho dele em um banco para lavar dinheiro para criminosos e tinha roubado 3 milhões dele, o que torna Sue um alvo dos gângsteres Ray (Clifton Collins Jr.) e Mina (Awkwafina).

Allison Jenney é ótima em convocar a dor, frustração, amargura e imaturidade emocional de Sue. Alguém com uma personalidade quase infantil que quer ser amada pelas pessoas ao redor, mas cuja motivação é compreensível considerando o quanto ela era ignorada ou maltratada pelas pessoas ao seu redor. Além de Jenney, o filme tem um ótimo elenco de coadjuvantes, como Awkwafina, Wanda Sykes e Regina Hall. O problema é que o texto nunca alcança a ironia de algo como Fargo ou a acidez sombria de Bernie: Quase um Anjo (2011).

Na verdade, o filme não consegue transitar com muita organicidade entre as várias mudanças de tom, muitas vezes saindo de uma cena completamente absurda para uma mais dramática sem o devido tempo para nos ajustarmos a essas diferentes situações. Além disso a trama tem sua parcela de furos e situações pouco críveis. É difícil crer, por exemplo, que no mundo de hoje o circo midiático que Sue constrói ao redor dela em cima de mentiras se sustentaria por muito tempo. A fala de que Karl era um teórico da conspiração seria algo rapidamente desmentido por qualquer um que o conhecesse.

Do mesmo modo, é curioso que a policial Harris (Regina Hall) desconfie da história de Sue por ela ter cancelado os planos do jantar antes de supostamente saber que o marido tinha desaparecido, mas nunca vá checar no restaurante para ouvir a versão deles. Se ela o fizesse perceberia uma contradição fundamental no testemunho (ela cancela dizendo que o marido não está se sentindo bem) que faria desmoronar toda a história. A impressão é que isso não acontece apenas pela conveniência de roteiro, já que impossibilitaria a trama de tomar os rumos nos quais se direciona.

Na verdade, durante boa parte da narrativa falta a sensação de caos que o roteiro tenta construir. Ocasionalmente temos alguma situação maluca, como a que leva à morte de Mina, mas no geral o texto nunca traz a sensação de absurdo que a premissa sugere. As ideias sobre o desejo de se tornar celebridade, mesmo que à base de mentiras e o comportamento complacente da mídia poderiam render alguma discussão sobre os tempos em que vivemos, mas o filme tem muito pouco a dizer sobre qualquer uma dessas ideias, soando como uma exploração vazia desses temas.

Apesar de um elenco competente, Últimas Notícias de Yuba County é bem menos esperto e mordaz do que acha que é, carecendo de anarquia, humor e de uma transição mais orgânica entre os diferentes gêneros que tenta explorar.

 

Nota: 4/10


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