sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Crítica – Mulher Maravilha 1984

 

Análise Crítica – Mulher Maravilha 1984

Review – Mulher Maravilha 1984
O primeiro Mulher Maravilha (2017) foi uma grata surpresa, então logicamente fiquei mais do que empolgado com a possibilidade de uma continuação. Quando saíram as primeiras informações temi que Mulher Maravilha 1984 fosse usar a ambientação oitentista como mera muleta afetiva para um nostalgismo rasteiro como muitos blockbusters recentes. Felizmente isso não aconteceu, ainda que tenha alguns problemas na construção das regras que regem alguns elementos de seu universo.

Como o título diz, a trama se passa em 1984 e Diana (Gal Gadot) trabalha em segredo como Mulher Maravilha ao mesmo tempo que mantem uma fachada de normalidade com um emprego em um museu. Depois de recuperar artefatos raros roubados, Diana encontra uma estranha pedra que concede desejos a quem a segura. A gema é usada pela colega de Diana, Barbara Minerva (Kristen Wiig), que acaba ganhando estranhos poderes. Em busca da joia também está o empresário Maxwell Lord (Pedro Pascal), que deseja o artefato para obter ainda mais poder e dinheiro.

Logicamente o roteiro brinca com a moda e os costumes da década de oitenta, mas não fica exclusivamente preso ao passado. Seus temas principais, na verdade, são bastante contemporâneos. A ideia de que obter poder com base em mentiras e promessas enganosas pode levar ao colapso de civilizações dialoga diretamente com o que vivemos hoje, com políticos se elegendo com base em notícias falsas, tentando construir uma espécie de realidade paralela que não tem outro destino senão ruir diante do peso da realidade que se impõe e das consequências cobradas por essas mentiras. O arco envolvendo Maxwell Lord é uma ótima ilustração de como um poder baseado em distorcer a realidade não tem como se sustentar.

Dito isso, o texto trabalha a mecânica dos desejos de maneira relativamente vaga, principalmente durante o desfecho, que encerra sem explicitar as consequências de determinados fenômenos, em especial o destino de alguns personagens. Alguns eventos, como o surgimento do jato invisível, são jogados de qualquer jeito na tela, sem a devida construção, o que tira o pouco do impacto deles porque não soa devidamente merecido. O final corre para resolver a trama, mas deixa muitas pontas soltas, elementos mal explicados, com algumas coisas não tendo a devida repercussão. De todo modo, o texto funciona não só pelo tratamento do tema principal quanto pela jornada de Diana.

Assim como no filme anterior, há um claro senso de encantamento pela figura da heroína e a compreensão de como ela pode ser um símbolo de esperança e retidão moral, mesmo quando tem que tomar decisões difíceis. Claro, o mérito não é apenas do texto, mas do carisma e presença de Gal Gadot que traz força e afeto para a personagem. Temi que o retorno de Steve Trevor (Chris Pine) fosse tirar o impacto do sacrifício do personagem no primeiro filme, no entanto, a presença dele aqui faz certo sentido para a protagonista e os temas que o filme tenta tratar.

Kristen Wiig, mais conhecida por seus trabalhos como comediante, é ótima em trazer o senso de solidão e carência de Minerva, bem como o fascínio da personagem ao descobrir os novos poderes e o modo como ela se deixa inebriar pelas habilidades recém adquiridas. O modo como ela perde a identidade e se torna alguém bem diferente reforça as ideias de que construir poder a partir de mentiras tem um custo severo. Já Pedro Pascal traz uma certa medida de fragilidade e insegurança a Maxwell Lord que impede que o antagonista se reduza a um “mega empresário maligno” genérico.

Mulher Maravilha 1984 é mais uma competente aventura da heroína amazona que entende o papel dela como símbolo de virtude e surpreende com sua temática que dialoga como a realidade que vivemos hoje.

 

Nota: 7/10

 

Trailer

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