segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Crítica – História de Um Casamento


Análise Crítica – História de Um Casamento


Review – História de Um Casamento
As primeiras cenas de História de um Casamento mostram narrações dos dois protagonistas, Nicole (Scarlett Johansson) e Charlie (Adam Driver), dizendo o que mais amam um no outro. São falas cheias de afeto e admiração que nos fazem entender os motivos dos dois personagens estarem juntos. Essa narração no entanto, é contraposta com as imagens dos dois em uma sessão de mediação na qual deveriam escrever coisas positivas um sobre o outro, as exatas palavras que vimos no começo do filme, mas nenhum deles lê para o outro o que escreveu, escolhendo seguir com a separação.

Esses primeiros quinze minutos servem como uma síntese de toda trama. Uma história sobre o doloroso processo do fim de um relacionamento no qual ambos perdem de vista o fato de que ainda nutrem um sentimento genuíno um pelo outro ainda que tenham optado por não permanecerem mais juntos. No percurso desses personagens, as palavras de carinho nunca ditas são substituídas por palavras agressivas ou acusatórias ditas diretamente um para o outro ou através de advogados. É como se a escolha de não comunicar para o cônjuge seu afeto tenha desgastado a relação ao ponto de que a única coisa que tenham a dizer para o outro sejam ofensas.

A batalha judicial é mostrada exatamente dessa forma, como uma disputa. Se antes do processo o casal tentava conversar e pensar o que seria melhor para cada um deles ou para o filho de ambos, conforme o processo começa e a acusações virulentas começam a ser trocadas as prioridades dos dois protagonistas parecem mudar. Ao ter seus egos feridos pelas acusações do outro, cada um deles parece mais disposto a “vencer” o processo, o que quer se seja isso, do que agir racionalmente.

O texto também evidencia como o fim de relacionamento não envolve apenas o casal ou mesmo seus filhos, mas também as famílias e amigos que acabam tendo que “escolher um lado” em todo processo e como isso pode ser difícil. O melhor exemplo é a mãe de Nicole, Sandra (Julia Hagerty), que tem uma relação muito próxima com Charlie e lamenta ter que se afastar dele, ainda que secretamente o ajude a conseguir um advogado durante o processo do divórcio porque, apesar de tudo, ela ainda se importa com o ex-genro.

O diretor Noah Baumbach filma tudo sem grandes floreios estilísticos, preferindo planos em close e com poucos cortes, deixando que os atores façam as emoções emergirem da cena. É um retrato cru e agridoce da dinâmica de uma relação adulta na qual mesmo havendo amor, o casal muitas vezes escolhe caminhos diferentes e a separação é inevitável. Acho que desde Closer: Perto Demais (2004) o cinema hollywoodiano não fazia um retrato tão cru, sincero e complexo sobre términos de relacionamentos.

Tudo isso não seria capaz de se sustentar, porém, se não fosse o trabalho dos dois protagonistas, mas tanto Driver quanto Johansson entregam suas melhores performances em anos. Os dois funcionam tanto individualmente quanto em conjunto. Um exemplo é a cena da primeira conversa entre Nicole e a advogada Nora (Laura Dern). Em um único plano fechado em seu rosto e sem cortes, Nicole conta toda a história de sua relação com Charlie, do momento em que se apaixonaram ao instante em que Nicole decidiu se separar e Johansson transita com naturalidade entre a gama complexa de emoções de Nicole, indo da paixão à frustração, passando também pela raiva e tristeza. É o tipo de cena que faz uma atriz ser indicada a prêmios.

Do mesmo modo essa complexidade também é percebida quando os dois personagens estão juntos e percebemos o quanto conhecem um ao outro mesmo que não precisam dizer nada. Na cena em que Charlie e Nicole estão na primeira negociação com os advogados e um assistente chega com cardápios para que peçam o almoço, Nicole instintivamente estende a mão para pegar o cardápio de Charlie quando ele tem dificuldade de decidir. Charlie se mostra satisfeito com a escolha de refeição da ex-esposa para ele, denotando o quanto eles se conhecem bem e se preocupam um com o outro apesar de tudo.

Na cena em que os dois discutem no apartamento de Charlie, trocando acusações e ofensas, percebemos que o choro dos personagens não é apenas porque se sentem magoados pelas palavras duras do outro, mas também porque verbalizar aquela virulência contra o antigo cônjuge é doloroso para quem está falando, tanto que eles se abraçam ao final.

História de um Casamento faz um retrato cuidadoso e complexo sobre uma relação que chega ao fim, reconhecendo que um término acontece por múltiplos fatores e que o fim não significa que aquelas pessoas deixaram de nutrir alguma medida de afeito ou cuidado uma pela outra.

Nota: 9/10


Trailer

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