terça-feira, 12 de novembro de 2019

Crítica – Ford vs Ferrari


Análise Crítica – Ford vs Ferrari


Review – Ford vs Ferrari
Apesar do título, Ford vs Ferrari é menos focado nas duas empresas e mais na amizade de seus dois protagonistas. É uma decisão esperta, já que eles são os mais interessantes da trama e a questão da duas empresas acaba servindo como mero pano de fundo para o percurso dos dois.

A trama, baseada em uma história real, é centrada em Carroll Shelby (Matt Damon), o primeiro estadunidense a vencer as 24 Horas de Le Mans, uma das mais difíceis do automobilismo. Depois da prova, ele se aposenta de pilotar por conta de um problema no coração e se torna vendedor de carros esportivos, iniciando também sua equipe de automobilismo tendo como principal piloto o genioso Ken Miles (Christian Bale). Carroll é procurado pelo executivo Lee Iacocca (Jon Bernthal) da montadora Ford, Lee quer que Carroll inicie uma equipe para a Ford para poder ganhar as 24 Horas de Le Mans e desafiar a supremacia da italiana Ferrari, que venceu a prova por cinco anos seguidos.

Para um filme cujo título se refere a duas grandes empresas, não deixa de ser curioso que a Ferrari mal aparece e seu dono, Enzo Ferrari (Remo Girone), é reduzido ao clichê do europeu esnobe, muitas vezes caindo para o caricato e soando como um vilão de comédia adolescente dos anos oitenta. Filmes sobre rivalidades normalmente tentam entender os dois lados e o que os impele a essa disputa, mas o presente não faz isso. Ao invés desse esforço de dar nuance aos envolvidos, prefere reduzir tudo a um discurso patriótico ufanista rasteiro dos Estados Unidos quererem mostrar sua soberania.

Preciso, no entanto, ser justo e dizer que os executivos da Ford não são exatamente mais fáceis de torcer. O Henry Ford II (Tracy Letts) é meramente um bufão ególatra que quer sair da sombra do avô (a despeito do ótimo trabalho de Letts como o personagem) e o executivo Leo Beebe (Josh Lucas) é uma caricatura de burocrata sem escrúpulos, servindo apenas de obstáculo para dois protagonistas. Já o personagem de Jon Bernthal acaba sendo um mero figurante de luxo, tendo pouca importância na trama. Assim, Ken e Carroll passam tanto tempo brigando com a própria Ford quanto focados em superar a Ferrari e só por conta dos dois que nos importamos com essa disputa corporativa.

Matt Damon e Christian Bale são ótimos em construir a complicada amizade entre Shelby e Ken, homens com personalidades opostas que constantemente entram em conflito, mas que respeitam o talento um do outro e entendem como suas habilidades se complementam. É por conta dessa dinâmica genuína de afeto e animosidade que o filme funciona, inclusive encontrando alguns bons momentos de humor. Aos dois somam-se Noah Jupe e Caitriona Balfe (a Claire da série Outlander) como Peter e Mollie, o filho e esposa de Ken e embora ambos tenham papéis secundários, ambos ajudam a dar humanidade tanto a Ken quanto a Shelby. Uma das cenas mais divertidas do filme envolve Mollie puxando uma cadeira e se sentando para assistir Shelby e Ken protagonizando a briga masculina mais vergonhosa do cinema desde O Diário de Bridget Jones (2001).

Outro ponto positivo são as cenas de corrida, eficientes em ilustrar a sensação de velocidade e perigo experimentadas pelos pilotos, bem como a atmosfera abafada e claustrofóbica de estar dentro de um automóvel por horas a fio naquelas longas provas de resistência. É uma pena, no entanto, que os personagens da Ferrari são tão ausentes e superficiais que quando chegamos na corrida final as tentativas de criar tensão entre Ken e o piloto da Ferrari não funcionam porque nunca vimos o sujeito antes, não sabemos nada a seu respeito e assim o roteiro solicita um investimento emocional que nunca foi devidamente construído.

Se muito da narrativa é apoiada no ufanismo de ver os EUA superando outros países e provando sua supremacia, o melancólico final aponta para outras questões que o material não trata com o devido cuidado. O desfecho de Ken mostra o modo como grandes corporações mastigam e cospem fora seus funcionários, mas ao invés disso o filme prefere apenas celebrar o amor que Ken e Shelby tinham pelo automobilismo.

Assim, Ford vs Ferrari vale pela dupla de protagonistas e pelas cenas de corrida, mas falta nuance para criar um senso de rivalidade verdadeiramente complexo como aconteceu no excelente Rush: No Limite da Emoção (2013).

Nota: 6/10


Trailer

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