quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Crítica - Creed 2


Análise Crítica - Creed 2


Review - Creed 2
Eu não esperava que Creed (2016) fosse tão bom como foi, mas o resultado era bastante digno do legado do universo criado por Sylvester Stallone, apresentando novos e interessantes personagens, além de levar velhos conhecidos por novos caminhos. Creed 2, por sua vez, não tem o mesmo frescor do primeiro, mas ainda assim é um desenvolvimento competente do que foi apresentado no filme anterior.

A narrativa começa com Adonis Creed (Michael B. Jordan) se tornando campeão dos pesos-pesados. Após ganhar atenção da mídia mundial, Adonis é desafiado por Viktor Drago (Florian Munteanu), filho de Ivan Drago (Dolph Lundgren), o boxeador que matou Apollo Creed (Carl Weathers) e foi derrotado por Rocky (Sylvester Stallone). Sentindo a necessidade de defender a memória do pai, Adonis decide aceitar a luta mesmo com os conselhos contrários de Rocky, da mãe e da noiva, Bianca (Tessa Thompson).

Apesar de remeter a eventos de Rocky IV (1985), a estrutura da trama é mais parecida com a de Rocky III: O Desafio Supremo (1982), com o protagonista recebendo um desafio de um lutador novato e bruto, embarcando em uma luta para a qual não estava plenamente preparado e precisando se refazer depois. Nesse sentido, Creed 2 acaba sendo bem mais previsível do que seu antecessor, repetindo batidas já conhecidas e deixando pouca dúvida em relação ao que vai acontecer.

O elenco, no entanto, tem um entrosamento tão verdadeiro e uma emoção tão genuína que é difícil não se conectar à dinâmica de Adonis, Rocky e Bianca. Eles nos fazem crer que aquelas pessoas convivem há muito tempo e se conhecem muito bem, uma naturalidade que não é fácil de alcançar. Jordan dá a Adonis uma espécie de petulância insegura, alguém ciente de sua habilidade, mas temeroso a respeito do próprio legado e da possibilidade de sair da sombra do pai e da Rocky.

Eu cheguei a achar que a Bianca de Tessa Thompson seria desperdiçada como a típica esposa que fica choramingando pelos cantos, mas o filme é inteligente em dar a ela um papel bastante ativo na jornada de Adonis e na conexão dele com sua família. Stallone, por sua vez, confere um compreensível grau de hesitação a Rocky, que recusa tomar parte não por descrença em Adonis, mas por não querer revisitar eventos traumáticos do seu passado. Isso fica evidente no momento em que ele desliga a televisão antes que a reportagem informe o que aconteceu com Adonis, como se fosse doloroso demais para ele passar por isso de novo depois da perda de Apollo décadas atrás.

A família Drago, por outro lado, acaba sendo sub utilizada. Ivan até tem motivações compreensíveis, tendo perdido tudo após a derrota por Rocky e vivendo com uma crescente amargura e desejo de revanche nas últimas décadas. Viktor, por sua vez, é uma página em branco, passando boa parte da projeção apenas fazendo cara de mau e com pouquíssimos diálogos para desenvolvê-lo. A trama chega a sugerir que ele é praticamente uma vítima dos maus tratos de Ivan, que não teve nada a oferecer para o filho além de ódio. É uma pena que esses personagens recebem um tratamento superficial, pois como Viktor é um antagonista tão vazio, praticamente não há dúvida que Adonis sairá triunfante ao final. Além disso a falta de desenvolvimento entre Ivan e Viktor tira o peso dramático da decisão final de Ivan e da transformação que esses personagens passam.

É curioso que mesmo os resultados sendo previsíveis, as lutas permanecem empolgantes e cheias de emoção. Parte disso vem da já citada qualidade do elenco, mas o mérito vem também de como as lutas são filmadas e do design sonoro. Cada soco de Viktor Drago soa como se uma pilha de tijolos caísse sobre Adonis nos fazendo sentir o peso de cada golpe sobre o corpo do lutador. Mesmo não tendo nada parecido com a luta em aparente plano contínuo do primeiro filme, ainda assim me peguei torcendo e vibrando como se estivesse assistindo uma luta de boxe de verdade e o fato do filme me conseguir colocar nesse estado de empolgação é um testamento de sua habilidade em nos deixar imersos na trama.

Creed 2 acaba sendo relativamente previsível, mas tem uma emoção tão genuína que é difícil não embarcar na jornada de seus personagens.

Nota: 7/10

Trailer

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