terça-feira, 25 de setembro de 2018

Crítica – Crimes em Happytime


Análise Crítica – Crimes em Happytime


Review – Crimes em Happytime
Crimes em Happytime começa como uma versão adulta de Uma Cilada Para Roger Rabbit (1988), trocando desenhos animados por fantoches e colocando-os em situações não apropriadas para o público infantil, usando palavrões, drogas e sexo. O resultado, porém, acaba mais próximo de algo como Bright (2017), que não tem muito a dizer sobre o próprio universo ou metáforas sociais que tenta traçar.

A narrativa acompanha o fantoche Phillips (voz de Bill Baretta), um ex-policial que agora trabalha como detetive particular. Um dia Phillips testemunha o assassinato de um famoso fantoche que era parte do elenco de uma série de sucesso nos anos 90 e a polícia o pede para ajudar na investigação ao lado de sua antiga parceira, a detetive Connie Edwards (Melissa McCarthy).

O universo criado pela trama concebe os fantoches como cidadãos de segunda classe, sempre subestimados por serem pequenos e fofos, tratados como inferiores e incapazes. Poderia render alguma metáfora social sobre preconceito, mas, tal como Bright, não vai além do lugar comum de falar sobre como o ser humano tem dificuldade de lidar com o que é diferente. O desenvolvimento desses temas também se perde pelo fato do caso investigado serem uma simples trama de vingança, não servindo para reverberar as metáforas sobre sociedade e preconceito que o texto inicialmente tenta emplacar.

Seria possível também entender a construção desse universo como um comentário sobre o quanto o uso de fantoches é subestimado pelo cinema e televisão, sempre tratando-os como um elemento que não pode pertencer a outro domínio que não o da produção infantil e o filme tenta mostrar que fantoches podem ser usados em praticamente qualquer tipo de narrativa e não há nada de inerentemente infantil nesses bonecos. Mesmo olhando por esse lado, o diretor Brian Henson, filho do criador dos Muppets, Jim Henson, tem pouco a dizer sobre a possibilidade do uso de fantoches que Matt Stone e Trey Parker (criadores de South Park) já não tenham dito no hilário Team America: Detonando o Mundo (2004) há mais de dez anos atrás.

Boa parte das piadas gira em torno de colocar os fantoches para fazerem coisas pouco apropriadas e isso rende alguns momentos divertidos pela criatividade em tentar imaginar como funcionaria um mundo em que bonecos são reais. Um exemplo é a cena de sexo protagonizada por Phillips que nos mostra o que acontece quando um fantoche ejacula. Por outro lado, durante boa parte do tempo o filme parece crer que basta vermos um fantoche falando palavrão ou usando drogas para rirmos e isso fica cansativo bem rápido. As repetidas piadas envolvendo a conduta masculinizada de Connie também cansam e rapidamente se tornam entediantes. No fim das contas, é uma daquelas comédias em que as melhores piadas estão no trailer.

Não ajuda que o arco narrativo de Phillips seja o lugar comum do policial traumatizado por um erro do passado, além dele e Connie serem a típica dupla de personalidades opostas que está em constante atrito. Ao invés de tentar subverter esses clichês, o filme simplesmente adere a eles confiando que o fato desse tipo de história estar sendo protagonizada por fantoches é o suficiente para oferecer algo diferente a esses lugares-comuns velhos.

Crimes em Happytime poderia ter sido uma ótima sátira social e de filmes policiais, mas se contenta em ficar na superfície desses temas, preferindo investir em um humor repetitivo e adesão desnecessária a clichês.


Nota: 4/10


Trailer

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