segunda-feira, 14 de maio de 2018

Crítica - O Alienista (The Alienist)


Resenha Crítica - O Alienista (The Alienist)


Review - O Alienista (The Alienist)Enquanto gênero literário, a narrativa policial surge na segunda metade do século XIX embalada pela força que o pensamento positivista vinha ganhando no campo das ciências e pela maneira como essas ciências positivistas desenvolviam métodos e técnicas que auxiliavam nas investigações criminais. A série O Alienista, baseada no romance de Caleb Carr, trata justamente desses primeiros passos das ciências criminais.

A trama se passa na Nova Iorque do século XIX e é centrada no médico alemão Laszlo Kreizler (Daniel Bruhl). Laszlo é um alienista, alguém que pesquisa e trata pessoas com problemas mentais, basicamente sendo um psiquiatra rudimentar. Quando uma série de assassinatos brutais envolvendo jovens homossexuais começa a aterrorizar a cidade, o alienista decide investigar que tipo de pessoa seria capaz de cometer tais crimes. Para isso, ele conta com a ajuda do desenhista e jornalista John Moore (Luke Evans) e da policial Sara Howard (Dakota Fanning), a primeira mulher a integrar a polícia de Nova Iorque.

Laszlo e John tem uma dinâmica bem ao estilo de Sherlock Holmes e Watson, no sentido que Laszlo é um sujeito dotado de uma extrema acuidade mental, relativamente excêntrico e misantropo, enquanto que Moore é uma representação do "homem comum" de sua época, muitas vezes servindo como auxiliar de Laszlo ou como orelha para que ele verbalize suas deduções. Não tem nada que já não tenhamos visto em inúmeras outras narrativas investigativas, mas Bruhl injeta personalidade suficiente na natureza atormentada do alienista para que ele não soe como uma mera repetição de clichês.

Sara acaba sendo a mais interessante do trio principal. A única mulher em um ambiente masculino, o percurso dela revela o machismo de uma época na qual as mulheres eram consideradas naturalmente inferiores e tinham alguns direitos (como o de voto) ainda negados. Na verdade, toda a ambientação do século XIX é usada para mostrar uma sociedade baseada em preconceitos, que exclui e brutaliza aqueles que não se conformam às normas dos "bons cidadãos", privilegiando uma pequena elite enquanto os demais ficam à míngua.

Isso é evidenciado pela oposição visual entre os suntuosos restaurantes e teatros de elite, cheios de pessoas bem vestidas, grandes lustres, tapetes e intensa iluminação, com os espaços escuros, decadentes, degradados e imundos das zonas marginalizadas habitadas por gays, imigrantes, judeus e outras minorias vistas como inferiores. A narrativa ainda utiliza figuras históricas reais como Theodore Roosevelt (Brian Geraghty) ou J.P Morgan (Michael Ironside), mas não chega a fazer nada interessante com eles e, no fim das contas, o fato de serem figuras reais acaba tendo pouco impacto na trama.

A jornada investigativa é construída com atenção aos processos científicos e tecnológicos utilizados pelos personagens para traçar o perfil psicológico do culpado e descobrir sua identidade. A trama é competente em demonstrar o impacto que as ciências desenvolvidas durante o século XIX, como a psicologia ou o exame de impressões digitais, teve durante os processos de investigação criminal e contribuiu para conter os excessos e equívocos da polícia, que muitas forçava confissões de pessoas inocentes na base da violência. Por outro lado, a trama ocasionalmente perde tempo demais com falsos suspeitos e digressões da investigação principal, estendendo os eventos para além do necessário e fazendo a temporada perder parte do fôlego em sua metade.

Mesmo não reinventando a roda e sendo uma narrativa policial bem esquemática, O Alienista funciona graças ao seu mistério envolvente e o uso que faz de sua ambientação.


Nota: 7/10

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