terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Crítica - Operação Red Sparrow

Análise Operação Red Sparrow


Review Operação Red Sparrow
Minha primeira reação ao ver o trailer de Operação Red Sparrow foi "nossa, esse é o filme solo da Viúva Negra que a Marvel deveria ter feito". Eu não fui o único a pensar desta forma e conforme a divulgação do filme se ampliava via mais e mais pessoas refletindo sobre como esse longa-metragem colocaria ou não em risco os planos da Marvel em dar um filme próprio para sua heroína espiã. Depois de ver Operação Red Sparrow, no entanto, devo dizer que a Marvel pode respirar aliviada, já que ele é tão ruim que não deve ser nenhum empecilho para que Natasha Romanoff ganhe sua própria aventura. Pelo contrário, ele coloca as expectativas tão baixas que mesmo a Marvel faça um filme ruim com a personagem as pessoas provavelmente irão dizer: "bem, ao menos não é tão ruim quanto Operação Red Sparrow".

A trama é centrada em Dominika (Jennifer Lawrence), uma bailarina que se vê impossibilitada de dançar depois de uma grave fratura na perna. Prestes a perder tudo, ela ganha uma nova oportunidade quando seu tio Ivan (Matthias Schoenaerts, do excelente Ferrugem e Osso), um agente do alto escalão da inteligência russa, lhe oferece a possibilidade de se tornar uma Sparrow, espiãs de elite que usam a sedução como arma de manipulação. A primeira missão de Dominka como Sparrow é encontrar o espião americano dentro do governo russo, para isso ela terá que se aproximar do agente da CIA Nate (Joel Edgerton), que é o único que sabe a identidade do espião.


Existem dois filmes em Operação Red Sparrow e nenhum deles é particularmente bom. O primeiro diz respeito à metade inicial do filme ao treinamento de Dominika. Essa primeira parte tenta ser uma espécie de thriller erótico cheio de sensualidade, mas acaba parecendo mais como uma versão de maior orçamento dos filmes que passavam no antigo Cine Privê da Band. Na "escola de espionagem", Dominika é ensinada a seduzir, mas para o filme seduzir consiste apenas de tirar a roupa e realizar atos sexuais.

Não me entendam mal, não tenho nada contra representações de sexo ou nudez no cinema, tudo isso é natural, faz parte da vida e a vida é a matéria-prima da arte. A questão é como se constrói essa representação e aqui tudo é feito de maneira bem preguiçosa e rasa. O filme parece achar que basta exibir os seios ou pênis de seus personagens para despertar volúpia ou excitação, como se a exposição do corpo nu bastasse (e como se não fosse super fácil ter acesso a esse tipo de imagem via internet nos dias atuais) para despertar desejo. Assim, o que devia ser envolvente, sedutor, magnético, torna-se uma visão juvenil e apelativa do ato de seduzir, algo que é vulgar sem ser sexy.

Eu imagino que tudo tenha sido concebido para dar uma jornada de empoderamento à protagonista, mas tentar ver as coisas sob esta ótica faz algumas questões emergirem. Primeiro, que essa jornada não se concretiza plenamente, já que ela termina o filme ainda sendo uma espiã que usa sua aparência para manipular os outros (ainda que trabalhando para um "patrão" menos abusivo). Segundo que pelo modo como o filme constrói o arco dramático da protagonista, todo o discurso sobre ter controle do próprio corpo mais parece uma desculpa para poder explorar de modo sensacionalista as muitas cenas de abuso do que uma preocupação em formar um discurso consistente sobre objetificação da mulher.

Na segunda metade as coisas melhoram um pouco (mas não muito) quando o filme se torna uma trama de espionagem mais tradicional. Poderia funcionar se fosse hábil no manejo de seu jogo de intrigas, criando o mesmo tipo de xadrez cerebral tenso de obras como Jogo de Espiões (2001), O Espião que Sabia Demais (2011) ou O Homem Mais Procurado (2014). Essa habilidade, porém, não aparece. O filme investe em um maniqueísmo simplório, deixando claro desde o início que os russos são um bando de corruptos, cruéis e depravados, enquanto que os americanos são altruístas, idealistas e preocupados com o bem-estar dos espiões que empregam.

Ora, boa parte do suspense de um filme do gênero nasce justamente de não termos certeza à respeito do caráter dos personagens e essa falta de clareza moral nos deixa apreensivos pelo que farão à seguir porque confere algo de imprevisível a esses sujeitos. Se o filme já deixa evidente desde o início quem é "bom" e quem é "mau", então é impossível haver suspense porque sabemos de antemão exatamente como aquelas pessoas irão reagir. A cena em que Nate é capturado, por exemplo, deveria ser o ápice da tensão, com Dominika sendo obrigada a definitivamente escolher sua lealdade. Deveria nos deixar na beira da poltrona, roendo as unhas diante da incerteza do que a protagonista irá fazer, mas nada disso ocorre. Como há um lado indiscutivelmente bom e outro indiscutivelmente maligno, a decisão da personagem se torna óbvia.

Completando o tédio, a trama faz questão de apresentar personagens tão unidimensionais que se tornam caricaturas insuportáveis, a exemplo da burocrata bêbada interpretada por Mary-Louise Parker, tão exagerada que parece saída de um filme completamente diferente. Se toda essa inabilidade na construção do suspense já não fosse em si um problema, isso piora quando o filme faz questão de se arrastar ao longo de duas horas e vinte, tornando a experiência um insuportável exercício de paciência.

Em resumo, Operação Red Sparrow é uma mistura de thriller erótico e filme de espião que não tem nem erotismo ou suspense, sendo também prejudicado por uma duração inchada. É um filme que tenta atrair diferentes públicos, mas não tem elementos capazes de satisfazer nenhum.

Nota: 3/10


Trailer

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