sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Crítica - Stranger Things: 2ª Temporada

Análise Stranger Things: 2ª Temporada


Review Stranger Things: 2ª Temporada
A primeira temporada de Stranger Things pegou todo mundo de surpresa com sua trama nostálgica e seu universo que misturava terror, ficção científica e uma trama juvenil de amadurecimento. Essa segunda temporada consegue manter o nível da anterior, ampliando seu universo e desenvolvendo as relações entre seus personagens. Aviso que alguns pequenos SPOILERS estão presentes no texto a seguir.

A trama começa um ano depois dos eventos da temporada anterior. Mike (Finn Wolfhard) sente falta de Onze (Millie Bobby Brown) e tenta se comunicar com ela via rádio. Will (Noah Schnapps) continua tendo visões sobre o Mundo Invertido e é acompanhado por sua mãe, Joyce (Winona Ryder), e pelo delegado Hopper (David Harbour) ao Dr. Owens (Paul Reiser), cientista que é agora responsável pelo projeto do governo que abriu o portal para o mundo invertido e limpar a bagunça feita pelo Dr. Martin (Matthew Modine) na temporada anterior. As plantações da cidade começam a apodrecer e Hopper acha que os incidentes tem relação com o Mundo Invertido.

Assim como a temporada anterior a série continua criando um simulacro preciso da década de 80, na arquitetura, nos figurinos e também nos fenômenos culturais, explorando, por exemplo o sucesso feito por filmes como O Exterminador do Futuro e o primeiro Caça Fantasmas em 1984. A música também é um elemento que traz grande carga nostálgica, seja no uso de canções do período, seja através das composições originais que constantemente se valem de sintetizadores e sons eletrônicos que eram moda na época.

Apesar de não ter nada tão urgente quanto a busca por Will no primeiro ano, esta temporada consegue produzir um clima crescente de tensão conforme vai aos poucos apresentando os fenômenos estranhos ocorrendo em Hawkins. Dos problemas das plantações, passando pela estranha criatura encontrada por Dustin (Gaten Matarazzo) e o controle cada vez maior que uma criatura sombria passa a ter sobre Will, há uma sensação de temor por uma ameaça que está sempre à espreita. A trama da temporada também amarra algumas pontas soltas da anterior, em especial a morte de Barb (Shannon Purser) que tinha passado a primeira temporada sem repercussão.

Millie Bobby Brown continua ótima como Onze e sendo capaz de dizer muito mesmo falando pouco. A personagem precisa lidar com sua frustração por mais uma vez se sentir em um cativeiro e de não conhecer seu passado. Assim como é possível compreender a raiva da personagem em se ver novamente isolada, também é compreensível o temor de Hopper em relação a ela, principalmente nas reações violentas de Onze quando não consegue o que quer. A personagem também é confrontada com a possibilidade de ceder à sua raiva e usá-la para fins vingativos ao invés de proteger seus amigos. A relação de pai e filha entre ela e Hopper é construída com bastante sensibilidade conforme eles vão aprendendo a lidar com o melhor e o pior um do outro. Ela vê no policial a  possibilidade de finalmente ter uma vida normal e ele vê nela uma segunda chance depois de perder a filha (reparem que ele sempre está com uma das presilhas azuis da filha no pulso).

Dustin e Lucas (Caleb McLaughlin) vivenciam sua primeira paixão com a novata Max (Sadie Sink) e o roteiro é esperto ao não tentar forçar um triângulo amoroso ou usá-la para meramente semear a discórdia entre os protagonistas. A paixão dos dois por ela é tratada com leveza e certa dose de humor, mas sem deixar de explorar o peso de ter o coração partido. É interessante perceber a rejeição de Mike por Max, já que a presença dela no grupo seria como admitir a morte ou a ausência permanente de Onze, algo que o garoto claramente não está preparado para fazer.

A narrativa ainda encontra espaço para desenvolver laços entre personagens que não esperávamos, como a inesperada amizade entre Dustin e Steve (Joe Keery) e como ambos acabam criando um vínculo em virtude de suas decepções amorosas e rendem alguns momentos bem divertidos, como a cena em que Steve explica a "receita" do seu penteado.

O elo fraco acaba sendo Dacre Montgomery (o Jason do recente reboot dos PowerRangers) como Billy, o irmão bruto de Max. Em uma série que tem tanto cuidado com seus personagens é decepcionante que ele não tenha um arco próprio, servindo de mero obstáculo para a irmã e sua presença poderia ser suprimida sem nenhuma perda. Tudo bem que a narrativa até consegue nos fazer entender o motivo de seu comportamento, mas em meio a tantos personagens interessantes ele acaba fazendo pouco para dizer a que veio ou chamar atenção a despeito do seu divertido visual de bad boy oitentista com direito a um mullet enorme e super brega (para os padrões atuais, claro).

O desfecho consegue amarrar bem todas as tramas construídas ao longo da temporada, dando desfechos satisfatórios e alguns cheios de emoção, em especial os que envolvem Onze, ao mesmo tempo que abre novas possibilidades e relacionamentos para as temporadas vindouras. Além disso também deixa claro que as ameaças do mundo invertido estão longe de acabar.

Assim sendo, a segunda temporada de Stranger Things consegue manter o nível da primeira, expandindo seu universo, aprofundando seus personagens e oferecendo uma competente trama cheia de nostalgia, suspense, bom humor e jornadas de amadurecimento.


Nota: 8/10

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