segunda-feira, 3 de julho de 2017

Crítica - Eu, Deus e Bin Laden

Análise Eu, Deus e Bin Laden


Review Army of One
O cinema hollywoodiano já produziu inúmeras histórias sobre um homem sozinho, lutando contra um grupo de vilões e tentando fazer a diferença. Este Eu, Deus e Bin Laden não é uma dessas histórias, embora seu protagonista creia que seja e é daí que vem a graça do filme.

A trama é baseada na história real de Gary Faulkner (Nicolas Cage), um homem de meia idade do interior dos EUA que diz que Deus (Russell Brand) lhe incumbiu de capturar Osama Bin Laden. Faulkner então compra uma espada e uma passagem só de ida para o Paquistão e decide caçar o líder terrorista.

Nicolas Cage traz uma energia insana para Faulkner, um sujeito largado e delirante com sua barba desgrenhada e cabelos sebosos. O ator usa uma voz extremamente anasalada e uma cadência incessante para a fala do personagem, fazendo-o soar como alguém inoportuno e inconveniente. Através da verborragia do personagem, Cage também deixa claro o quanto ele se sente solitário (ele fala daquele modo porque não tem lá muito traquejo social) e a extrema necessidade de aprovação que ele tem. Não é um protagonista fácil de torcer, mas a ideia parece ser exatamente transformá-lo em uma caricatura e expor ao ridículo sua conduta, afinal de contas, considerando as ações do sujeito, não dá para realmente levá-lo a sério.

Eu sei que muita gente não se agrada com o tipo de interpretação exagerada que Cage vem entregando nos últimos anos, mas confesso que me divirto bastante em vê-lo devorando o cenário e suas escolhas aqui fazem sentido com o espírito de escracho da obra. A questão é que apesar da entrega de Cage com o personagem, a narrativa não tem muito o que fazer com ele a não ser mostrar suas perambulações delirantes atrás de Osama (Amer Chadha-Patel), reduzindo tudo a um "filme de uma piada só" que começa a ficar cansativo e repetitivo lá pela metade. O material poderia render uma ótima sátira sobre o complexo de superioridade dos Estados Unidos e sua postura como "polícia do mundo", mas se limita a mostrar Nicolas Cage surtado, correndo por Islamabad com uma espada nas mãos.

Por mais que ocasionalmente apresente momentos hilários como a ida de Gary a um "dentista" paquistanês ou ele imaginando como seria seu confronto final com Osama, não há muito estofo para manter o filme de pé. Russell Brand acaba sendo ele mesmo como Deus e suas piadas simplesmente não funcionam. Eu entendo que a ideia era ter alguém bem atípico para interpretar o divino, mas toda vez que Brand entra em cena o vemos como ele próprio e não como o personagem, o que acaba "quebrando" a imersão.

Assim sendo, por mais que Nicolas Cage consiga divertir com a composição caricata do seu personagem, Eu, Deus e Bin Laden acaba prejudicado por um roteiro que não sabe o que dizer ou fazer com seu protagonista.


Nota: 5/10

Trailer

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