sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Crítica - Quase 18

Análise Quase 18


Review Quase 18
Histórias sobre adolescentes e amadurecimento já foram contadas aos montes. Dos filmes de John Hughes na década de 80 ao experimento de Richard Linklater em Boyhood: Da Infância à Juventude (2014), a sensação é que não há muito mais a ser dito. Ainda assim, vez ou outra surge um filme sobre adolescência, descobertas e chegada à maturidade que nos ganha pela sua autenticidade e compreensão sincera das angústias da juventude e esse é exatamente o caso deste Quase 18.

A trama acompanha Nadine (Hailee Steinfeld), uma garota de dezessete anos que sempre teve dificuldade de se enturmar e vive em um constante senso de deslocamento em relação ao resto dos adolescentes de sua escola. Sua única amiga é Krista (Haley Lu Richardson) que lhe ajuda a tornar tudo mais suportável depois da morte de seu pai. Seu irmão, Darian (Blake Jenner), faz parte da turma popular da escola e deixa Nadine se sentindo ainda pior consigo mesma. Quando Darian e Krista começam a namorar, ela sente que não pode contar com mais ninguém.

O filme é bem hábil em traduzir as angústias e inadequações adolescentes de uma maneira bem natural, sem recorrer aos exageros e situações absurdas da maioria desses filmes constroem. É apenas uma garota que não sabe seu lugar no mundo, que não se sente confortável em sua própria pele e teme que todos esses sentimentos de não pertencimento se estendam pelo resto de sua vida. Nadine não é uma garota extraordinária, com uma sagacidade e compreensão das coisas acima de sua idade (embora ela pense que é), é uma garota comum, alguém que você pode ter conhecido no colégio, na sua rua ou mesmo alguém que foi como você nessa época. É justamente todo esse naturalismo e impressão de "real", que parece simples mas não é fácil de atingir, que nos faz sentir tão próximos e conectados à protagonista.

Hailee Steinfeld é ótima não apenas em trazer as inseguranças, nervosismos e falta de traquejo social de Nadine, mas também traz à personagem aquela petulância juvenil que normalmente encontramos em adolescentes. Aquela postura que todo jovem tem de se achar mais preparado para a vida do que realmente é, que tem uma sabedoria para além da sua idade, que seus problemas são maiores do que os dos outros e ninguém pode compreendê-los. Ela é uma personagem falha, que faz escolhas erradas e imaturas e precisa lidar com as consequências delas. O arco da personagem gira em torno justamente de desfazer esse casulo de autoimportância que adolescentes por vezes constroem para si e entender que as pessoas ao nosso redor também tem sua parcela de problemas e inseguranças, sendo melhor dialogar do que se isolar.

O roteiro, escrito pela diretora Kelly Fremon Craig, é inteligente ao evitar maniqueísmos fáceis, dando aos seus personagens suas próprias motivações, interesses e personalidades. Seria fácil transformar Darian no atleta popular babaca ou sua mãe (Kyra Sedgwick) na louca histérica, mas o filme vai aos poucos nos fazendo entender que eles não são meros estereótipos e tem seus próprios problemas e inseguranças. A cena em que Darian desnuda seus sentimentos para a irmã, emociona pela verdade que Blake Jenner e Hailee Steinfeld trazem aos diálogos e ao laço fraternal que fortalecem naquele momento.

O professor sarcástico vivido por Woody Harrelson provavelmente está mais do que acostumado em lidar com os dramas exagerados de uma adolescente, já tendo passado por várias "Nadines" ao longo de sua carreira, e por isso sempre se mostra tranquilo quando ela vem lhe contar seus problemas. Os diálogos entre os dois são divertidos e bem humorados, mas sem forçar a barra na linguagem pop (como fez Juno, por exemplo), sempre soando bastante naturais. Do mesmo modo, as conversas desajeitadas entre Nadine e Erwin (Hayden Szeto) trazem uma espécie de constrangimento bem humorado que transmite a timidez e retração de ambos, que querem conversar um com o outro, mas não sabem bem como fazer isso.

Em alguns momentos o filme entra em situações bastante previsíveis, como o momento em que Nadine escreve uma mensagem, digamos, erótica para um "crush" e obviamente a envia por acidente. Igualmente óbvio é o fato do tal rapaz popular se comportar da pior maneira possível, sem corresponder à imagem idealizada que a garota fazia dele. Tudo bem que situações como essa não estão presentes por preguiça dramatúrgica, mas por serem ações impetuosas bastante comuns em adolescentes e, sob este ponto de vista, faz sentido que estejam presentes no filme.

Quase 18 acaba funcionando tão bem e se elevando acima das muitas comédias dramáticas adolescentes graças ao seu texto afiado e afetuoso que entende que não há caminho fácil para amadurecer, que os problemas daqueles ao nosso redor são tão importantes quanto os nossos, mas que nem tudo é tão ruim quanto pensamos que é quando passamos por essa fase. Provavelmente é o melhor filme sobre adolescência e amadurecimento desde As Vantagens de Ser Invisível (2012). Sem mencionar que não tenho como não gostar de um filme no qual a protagonista ouve a canção Save Me de Aimee Mann, um dos temas de Magnólia (1999), que figura entre meus filmes favoritos.


Nota: 8/10

Trailer

2 comentários:

BRENNO BEZERRA disse...

Estou curioso em vê-lo e fico feliz em ver o amadurecimento da Haille, mostrando que todas as apostas da época que ela era criança surtiram efeito.

Lucas Ravazzano disse...

Brenno, vale a pena, é bem bacana. É uma pena que a distribuidora foi tão displicente com o filme, merecia mais visibilidade.