terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Crítica - Armas na Mesa

Análise Armas Na Mesa


Review Armas Na Mesa
Controle de armas é um assunto que vem sendo bastante discutido nos Estados Unidos, em especial pela constância dos tiroteios massivos que vem se tornando quase que corriqueiros. Este Armas na Mesa é um suspense político que tenta discutir a questão ao mesmo tempo que mostra as táticas das empresas de lobby para manter a situação do jeito que está. Apesar das boas intenções, o filme acaba caindo na vala comum do thriller, reproduzindo vários clichês e fazendo pouco para efetivamente debater as questões que se propõe.

A trama segue a lobista Elizabeth Sloane (Jessica Chastain), uma profissional que adquiriu uma reputação de nunca falhar e de ser capaz de qualquer coisa para conseguir seus objetivos. Quando um conglomerado de empresas de armas tenta contratá-la para gerenciar uma campanha contra uma nova lei que irá promover restrições ao acesso às armas, Sloane decide pedir demissão de sua empresa e vai trabalhar para a oposição, uma empresa menor com orçamento muito mais limitado que quer que a lei seja aprovada. A partir daí, vemos como o lobby das empresas de armas joga sujo e como Sloane precisa ultrapassar certos limites éticos para vencer.

Jessica Chastain é excelente como Sloane, uma mulher que adquiriu para si uma reputação tão implacável que mesmo um veterano executivo da indústria de armas se mostra nervoso momentos antes de conhecê-la. Ela traz uma ferocidade e frieza à personagem, mas ao mesmo tempo nos deixa vislumbrar certas pontadas de melancolia e arrependimento, como se ela de algum modo lamentasse a criatura implacável que se tornou e como sua personalidade que beira a sociopatia, tratando os outros como coisas que ela usa como bem entender, alienou todos ao seu redor e a deixa completamente solitária. Chastain construiu uma carreira sólida para si, mas esse é um de seus melhores trabalhos e é uma pena que o resto do filme não esteja à altura de sua personagem.

As conversas entre Sloane e Esme (Gugu Mbatha-Raw) servem justamente ao propósito de evidenciar as falhas da protagonista conforme ela usa e manipula a idealista Esme desde o início até o ponto em que arrisca sua vida. Um filme menos ciente dos limites cruzados por Sloane celebraria o comportamento da personagem, mas a narrativa é esperta o bastante para reconhecer que ela está longe de ser uma heroína e por mais que sua causa seja justa, seus métodos são questionáveis e sua motivação tem um fundo relativamente egocêntrico. Ela abraça a causa tanto por crer nela, mas também para satisfazer seu desejo de se mostrar a melhor e que pode vencer mesmo em condições desfavoráveis.

A vitória, aliás, é algo do qual nunca duvidamos. Sloane é concebida como alguém tão no controle e à frente de seus oponentes que nunca realmente sentimos que ela está acuada ou temos dúvidas em relação à sua habilidade em resolver a situação. Assim, parte da tensão e do suspense acaba se perdendo, embora haja um indubitável sentimento de satisfação cada vez que ela vira a mesa em cima de seus adversários e os pega desprevenidos.

A questão do controle de armas ou mesmo como os lobistas corrompem a política acaba sendo relegada a um mero pano de fundo para os jogos de manipulação dos protagonistas do que um assunto a ser desenvolvido. A cena do debate entre Sloane e Pat (Michael Stuhlbarg) seria um ótimo momento para levantar um diálogo sobre a questão das armas, mas o filme rapidamente abandona a argumentação em prol de uma revelação bombástica. Do mesmo modo, o discurso de Sloane no senado ao fim não vai além dos sensos comuns (que não deixa de ser verdadeiro, mas o roteiro não se esforça para ir além da superfície) de que o sistema precisa ser reestruturado e que os políticos se importam mais com as próprias carreiras do que com o bem comum. Algumas reviravoltas e personagens acabam acrescentando pouco à trama, como o garoto de programa interpretado por Jake Lacy. Lacy não apenas não convence como o arquetípico "canalha com coração de ouro" como a presença do personagem e seu reaparecimento próximo ao fim acabam não tendo nenhum impacto no resultado final.

Ao menos o filme retorna às suas raízes cínicas em seus últimos minutos, reconhecendo que mesmo com a legislação sobre armas mudando, ainda assim há um longo caminho a trilhar no combate à violência e que as ações de Sloane provavelmente não causaram nenhuma grande transformação no sistema político.

Armas na Mesa é um suspense político cheio de boas intenções, mas se sustenta praticamente pelo talento de Jessica Chastain, já que o restante do filme acaba refém dos clichês do gênero e deixa de lado as complexas questões que suscita.


Nota: 7/10

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