sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Crítica - The Invitation

Análise O Convite (The Invitation)


Review O Convite (The Invitation)
Eu confesso que às vezes é difícil entender a lógica das distribuidoras brasileiras. Porcarias que nos Estados Unidos são lançadas direto para home video e execradas por público e crítica como o pavoroso Visões do Passado (2016) são lançados aqui nos cinemas. Enquanto que bons e premiados filmes, como o caso do excelente Ex Machina: Instinto Artificial (2015) são lançados no Brasil diretamente em DVD de modo totalmente displicente. O mesmo aconteceu com este The Invitation, elogiado suspense da diretora Karyn Kusama (de Garota Infernal e Boa de Briga) que chega ao nosso país diretamente pelo serviço de streaming da Netflix.

A história acompanha Will (Logan Marshall-Green), que recebe um convite para um jantar na casa da ex-mulher, Eden (Tammy Blanchard), a quem não vê a dois anos. Chegando lá, Will descobre que o jantar é mais do que um evento para reencontrar velhos conhecidos depois de anos ausente, mas uma tentativa de apresentá-los a um culto ou seita ao qual se juntou durante suas viagens para tentar afastar o trauma que se abateu sobre ela e Will e acabou com seu casamento. Aos poucos, Will começa a suspeitar que há algo errado com sua esposa e seu novo namorado, David (Michiel Huisman, o Daario de Game of Thrones).

A premissa aparentemente simples esconde uma multitude de camadas sob si. É uma história sobre a dificuldade do luto e como não há uma maneira simples de lidar com isso, mas também trata de nossa complexa (e complicada) relação com as religiões e o modo como muitas vezes as usamos para preencher e esquecer nossos próprios vazios internos.

A tensão vai se construindo aos poucos e com cuidado, dando pequenos indícios aqui e ali que algo errado pode estar acontecendo naquela casa, da conduta de Eden e seu namorado, aos convidados estranhos que eles trazem ou ao fato de quererem manter a casa trancada. Para além da sensação de perigo iminente, a tensão também vem do fato de durante boa parte do tempo não sermos capazes de ter certeza de onde a ameaça realmente vem, já que num instante suspeitamos das intenções de Eden e David para no seguinte considerarmos a possibilidade de que é Will quem não está em seu juízo perfeito, implodindo sobre o peso das memórias dolorosas que inundam sua mente ao retornar para sua antiga casa.

Há um jogo lento, mas bastante hábil de manejo da tensão e relaxamento, construindo aos poucos as tensões entre os velhos conhecidos e novos estranhos até que tudo exploda violentamente no terceiro ato. O elenco é preciso em nos fazer crer que aquelas pessoas se conhecem há um bom tempo e tem bastante intimidade entre si, do mesmo modo como são capazes de dizer muito uns para os outros mesmo através de longos silêncios e gestos. A confiança que o filme tem na inteligência e atenção de seu público é outro ponto positivo já que muito não é falado ou mostrado explicitamente, deixando os indícios para que o público seja capaz de preenchê-los ao seu modo. Inclusive no angustiante e desolador desfecho que parece apontar para uma sociedade tão afundada em suas próprias angústias e vícios que se dispõe a qualquer coisa para eliminar de si os sentimentos que considera negativos.

Assim sendo, The Invitation não é apenas um eficiente suspense, mas um cuidadoso estudo sobre luto, trauma e religião.


Nota: 9/10

Trailer

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