quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Crítica - Esquadrão Suicida

Análise Esquadrão Suicida


Review Esquadrão Suicida
Quando escrevi sobre Batman vs Superman: A Origem da Justiça, falei que torcia para que este Esquadrão Suicida finalmente entregasse um filme que consolidasse o universo DC nos cinemas e gerasse o consenso que os dois divisivos filmes de Zack Snyder nesse universo não conseguiram. Infelizmente ainda não é aqui que a Warner vai conseguir unir todos em torno de seu universo cinematográfico, já que além de repetir muitos dos erros de Batman vs Superman, o filme ainda apresenta vários outros problemas.

A trama começa depois dos acontecimentos envolvendo Superman e Batman, com Amanda Waller (Viola Davis) sugerindo a criação de uma força-tarefa de supercriminosos para lidar com ameaças meta-humanas agora que o Superman não está mais por perto. Com a ajuda do soldado Rick Flag (Joel Kinnaman), Waller monta um time formado por vilões como o Pistoleiro (Will Smith), Arlequina (Margot Robbie), Capitão Bumerangue (Jai Courtney) e outros. Quando uma poderosa entidade ameaça destruir uma cidade inteira, cabe ao grupo de vilões salvar o dia.

Assim como aconteceu com Batman vs Superman e também em alguns filmes da Marvel como Homem de Ferro 2 (2010) ou Vingadores: Era de Ultron (2015), um dos principais problemas é que o filme parece mais interessado em desenvolver as possibilidades para futuros filmes do que do próprio filme em si. Assim um tempo enorme é gasto para deixar ganchos para os futuros filmes da DC como as aventuras solo do Batman, do Flash e a Liga da Justiça enquanto a narrativa presente vai ficando em segundo plano. O resultado é um filme altamente picotado, com uma montagem grosseira que vai pulando rapidamente de uma cena para outra enquanto tenta costurar uma profusão de diálogos expositivos que tentam rapidamente dar conta da enorme quantidade de personagens a serem apresentados pela narrativa.

A trama é simples, o típico formato "vilão x toma uma cidade e tenta construir um dispositivo genérico de destruição global", mas o texto tenta a todo momento enfiar ainda mais e mais elementos para prolongar desnecessariamente algo que deveria ser bem direto, enchendo o filme de flashbacks que nos dizem informações que já sabemos (ou podemos facilmente deduzir) e subtramas que não levam a lugar nenhum. Toda a subtrama envolvendo o Coringa (Jared Leto), por exemplo, não tem nenhum peso na trama e seria melhor se a participação dele se resumisse à última cena dele no filme e talvez a do início que mostra Arlequina sendo presa.

O início parece promissor, com a condução irreverente de David Ayer investindo no humor, colocando os vilões para trocarem frases de efeito divertidas e usando canções pop com certa ironia, como o uso de Sympathy for the Devil dos Rolling Stones em uma das primeiras cenas de Amanda Waller. A questão é que a partir do momento em que a equipe parte para a missão tudo perde um pouco do fôlego e se torna um filme genérico de super-herói, com todos os lugares comuns que estamos mais do que acostumados neste tipo de filme e reviravoltas que podem ser previstas a quilômetros de distância.

O que nos mantêm interessados mesmo quando tudo se torna previsível é o carisma de alguns personagens e as interações divertidas entre eles, em especial a Arlequina de Margot Robbie, que é tão hiperativa, instável e divertida quanto se espera. Robbie ainda traz uma certa pontada de melancolia à personagem, quase como se no fundo houvesse nela um certo arrependimento por não poder levar uma vida normal. Viola Davis (a Annalise da série How to Get Away With Murder) traz com perfeição a personalidade implacável, resoluta e maquiavélica de Amanda Waller, uma mulher sem qualquer poder ou habilidade especial, mas é capaz de intimidar vilões poderosos. Quando ela está em cena todos ao seu redor se apequenam. Ela é tão boa que ao fim o filme até força a barra para mantê-la viva, mesmo não fazendo muito sentido que ela tenha sobrevivido ao que a vilã lhe fez (e que não é exatamente bem explicado). O fato dos personagens fazerem piada com o fato dela continuar viva não torna a situação mais perdoável.

Cara Delevigne se esforça como a vilã Magia, conseguindo criar uma entonação e linguagem corporal diferente para as duas facetas da personagem, nos fazendo crer que são realmente duas pessoas diferentes. Apesar de seu esforço para tornar Magia uma presença imponente, ela é sabotada por um texto que transforma a personagem em uma vilã saída de algum seriado dos anos noventa, com uma motivação e plano vago de destruição/dominação global, algo similar ao que aconteceu com Oscar Isaac e seu vilão em X-Men: Apocalipse.

Will Smith diverte como o Pistoleiro, mas é praticamente uma repetição da mesma persona que o ator faz na maioria de seus filmes e ainda é prejudicado por um roteiro que pesa a mão no sentimentalismo ao construir a relação entre ele e a filha. Joel Kinnaman (do recente remake de Robocop), por sua vez, nunca consegue convocar a aura de autoridade e liderança que se imagina de que alguém encarregado de manter sob controle um grupo de criminosos loucos e violentos, sem mencionar que a relação afetiva entre ele e Magia não é desenvolvida de modo satisfatório. O roteiro fala da paixão arrebatadora dele por ela, mas Kinamman não consegue trazer a impressão de um afeto realmente poderoso movendo seu personagem. Uma surpresa é o El Diablo vivido por Jay Hernandez que, apesar da motivação e passado serem bem clichês (e o filme ainda comete o erro de tratar tudo como uma revelação surpreendente), consegue transmitir uma dor bem verdadeira com seu personagem.

Os demais personagens não conseguem engajar, seja pelo pouco tempo tela (como acontece com o Crocodilo e a Katana) ou pela inaptidão de seus atores, como o caso do Capitão Bumerangue (Jai Courtney). Famoso pela apatia de suas atuações (a exemplo do péssimo Duro de Matar: Um Bom Dia Para Morrer e o fraco Exterminador do Futuro: Gênesis) Courtney até consegue inicialmente trazer um certo humor ao personagem, mas conforme o filme avança e ele começa a insistir na repetição das mesmas caretas e cacoetes, ele vai se tornando mais aborrecido do que divertido.

O Coringa de Jared Leto parece deslocado do restante do filme, já que sua trama mal converge com a narrativa principal, e não chega a impactar como outras encarnações do personagem. Tudo bem que aqui é a história da Arlequina e não dele, mas ainda assim é esquisito ver um Coringa que não rouba a cena quando aparece, diferente do que acontecia com Heath Ledger, Jack Nicholson e até mesmo com Cesar Romero. É difícil avaliar o personagem pelo pouco que aparece, mas é, até então, a versão menos memorável do Palhaço do Crime.

As cenas de ação são atrapalhadas pela montagem epilética, incapaz de dar o menor senso de coesão ou mesmo continuidade, cortando rápida e grosseiramente entre os muitos personagens sem sequer dar tempo de mostrar direito o que cada um pode fazer. São também desprovidas de qualquer sentimento de perigo ou urgência já que durante boa parte da fita eles enfrentam umas criaturas sem rosto (e design pouco inspirado) criadas pela vilã (e que remetem vagamente às criaturas do jogo The Last of Us) que são facilmente despachadas e nunca parecem posar qualquer ameaça para o grupo. O 3D não acrescenta praticamente nada à experiência e é melhor ser evitado.

Esquadrão Suicida acaba desperdiçando personagens carismáticos e bons momentos de humor em uma trama insípida e desnecessariamente inchada. Era um material com um potencial enorme para dar certo e consolidar o universo compartilhado da DC nos cinemas e é lamentável que não tenha funcionado tão bem quanto deveria. Agora é torcer para que os próximos filmes (Mulher Maravilha e Liga da Justiça) consigam fazer esse projeto de universo cinematográfico engrenar.

Nota: 5/10


Obs: Há uma cena adicional no meio dos créditos.

Trailer:

2 comentários:

Elainne Ducloux disse...

O trailer foi a chave para captar o espectador. Eu adoro o estilo de Harley Quinn!! Em 2016 houve estréias cinematográficas excelentes, mas o meu preferido foi a Esquadrão Suicida por que além de ter uma produção excelente, a história é linda. achei um filme ideal para se divertir e descansar do louco ritmo da semana. Muito bons personagens.

Lucas Ravazzano disse...

Que bom que você gostou Elainne. Infelizmente não funcionou tão bem assim pra mim.