domingo, 26 de maio de 2013

Crítica – Além da Escuridão: Star Trek

Com Star Trek (2009) o diretor J.J Abrams conseguiu trazer de volta aos cinemas a famosa franquia de ficção científica que estava distante das telas desde o fracasso de Nêmesis (2002), trazendo um novo fôlego e um novo olhar a estes personagens tão queridos e interessantes sem se esquecer de suas origens. Pois bem, este Além da Escuridão: Star Trek (a colocação bizarra do subtítulo na frente do título é culpa da distribuidora brasileira e não minha) é um capítulo igualmente sólido da franquia que traz novas dinâmicas aos seus personagens sem se esquecer de suas origens e o que fez a série original ser tão memorável.
O filme já começa movimentado com os integrantes da Enterprise tendo que salvar um planeta primitivo da ação de um vulcão que pode destruir toda vida que há nele. No curso da ação Kirk (Chris Pine) ignora os regulamentos de não-interferência da Federação e empreende um plano arriscado para conter o desastre. O capitão é então chamado de volta para Terra para prestar contas sobre suas ações ao almirante Pike (Bruce Greenwood) quando um ataque terrorista perpetrado pelo ex-oficial John Harrison (Benedict Cumberbatch) coloca a Frota em alerta. Cabe então a Kirk, Spock (Zachary Quinto) e o resto da Enterprise deterem o vilão.
Assim como no longa anterior são as relações entre os personagens que movem o filme e são elas que nos deixam engajados na trama e boa parte do mérito reside no talentoso elenco. As composições de Quinto e Pine dão várias camadas de nuances a Kirk e Spock e os dois atores exibem uma sinergia que torna a relação entre eles bastante orgânica e verossímil.

Vemos isso no modo natural com qual Kirk dirige seu olhar para Spock ao tomar uma decisão difícil e o quanto eles dizem um para o outro nesse momento sem precisarem realmente falar nada. A cena em que Kirk é notificado por Pike que irá perder o comando da Enterprise, também é outro bom momento do personagem e o modo como Pine exibe um olhar perdido e voz gaguejante mostra o quanto aquilo lhe magoa e a vulnerabilidade e insegurança que esconde sob sua fachada destemida. É claro que ainda temos os momentos bem humorados entre os dois quando suas personalidades colidem, mas por trás disso é possível perceber o respeito e admiração que tem um pelo outro.
O restante do elenco é igualmente competente, mas Uhura (Zoe Saldana) e Scotty (Simon Pegg) aparecem um pouco mais que os outros e tem suas próprias subtramas. McCoy (Karl Urban), por sua vez, continua sendo o ponto de equilíbrio entre Kirk e Spock, intervindo quando necessário. Entretanto, Sulu (John Cho) e Chekov (Anton Yelchin) acabam ficando um pouco de lado Os personagens ainda tem seus momentos de importância, mas por serem tão carismáticos quanto os outros acabamos por desejar passar um pouco mais de tempo com eles também.
Quem rouba a cena, no entanto, é o vilão John Harrison que se beneficia da profunda voz de barítono de Cumberbatch para soar agressivo e ameaçador. Seu personagem é um sujeito que conhece os segredos mais sombrios da Federação, além de um exímio estrategista e combatente. Nas mãos de um ator menos competente o personagem poderia soar excessivamente cartunesco, mas aqui surge como uma figura fascinante e é difícil não construir certa empatia pelo personagem numa cena incrivelmente eficiente onde ele expõe seu passado e suas motivações, mostrando a profunda amargura e ressentimento que o tornaram implacável e o fato dele se colocar de costas para Kirk e Spock nesse momento revela o quanto é difícil para ele se expor desse modo. Se há qualquer dúvida acerca da extensão de sua ameaça, a cena em que ele sozinho elimina um grupo de militares klingons deixa bastante claro o tamanho do seu poder e do perigo que ele representa.
Assim sendo é uma pena que o outro antagonista do filme, o almirante Marcus (Peter Weller, o eterno Robocop), seja uma caricatura demasiadamente clichê do tradicional militar belicista. Felizmente passamos pouco tempo com ele e sua presença acaba não prejudicando o resultado final.
A ação funciona bem e o diretor J.J Abrams consegue conferir a elas um ritmo tenso e movimentado, engrandecido pela excelente trilha de Michael Giacchino que dá um tom épico e grandioso ao desenrolar do filme. É interessante como a direção de Abrams jamais deixa de lado o fator humano da coisa, a cada disparo sofrido pela Enterprise vemos os furos no casco e os membros da tripulação caindo o vácuo do espaço ou morrendo nas explosões. O mesmo acontece durante os ataques de Harrison, onde vemos as vítimas tombarem e as pessoas correndo em desespero. Ao colocar rostos nas vítimas, o filme nos aproxima da ação e deixa claras as consequências de tudo aquilo e ao termos essa dimensão do que está em jogo caso os heróis falhem acaba nos envolvendo mais no que ocorre. A ressalva fica apenas pelo modo como o confronto final se encerra de modo abrupto.
O filme ainda aproveita a noção de uma realidade paralela tentando se reajustar ao trazer claras menções a eventos ocorridos na série clássica, mas aqui realizados por personagens diferentes justamente por conta desse conhecimento futuro. Inclusive há tempo para que Leonard Nimoy retorne como o Spock primordial em uma pequena ponta. Claro, apenas trekkers veteranos irão perceber as referências, mas ainda assim o filme não deixa de surtir efeito, mesmo quando temos alguma ideia do que pode ocorrer.
Além da Escuridão: Star Trek é o cinema hollywoodiano em grande forma, entregando não apenas um bom espetáculo em termos de ação, mas sem esquecer-se de construir bons personagens com quem possamos nos relacionar.
Vida longa e próspera.
Nota: 9/10

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