terça-feira, 1 de setembro de 2015

Crítica - O Agente da U.N.C.L.E



Ao sair da sessão deste O Agente da U.N.C.L.E, não consegui deixar de pensar como o Armie Hammer está no caminho para se tornar o novo Taylor Kitsch e não digo isso de uma maneira elogiosa. Se a comparação não fez sentido, explico: lá pelo fim dos anos 2000 Kitsch despontou na série Friday Night Lives e logo começaram a falar de seu potencial como astro. A questão é, embora não seja exatamente um mau ator, Kitsch engatou uma sequência de projetos equivocados que transformaram seu nome em sinônimo de fracasso e bilheteria negativa, o trinômio X-Men Origens: Wolverine (2009), Battleship: A Batalha dos Mares (2012) e John Carter: Entre Dois Mundos (2012) praticamente encerrou a carreira dele, até que ele voltou à televisão na segunda temporada de True Detective para lembrar do seu potencial.

Hammer está passando por algo similar, depois de chamar a atenção em A Rede Social (2010), amargou um retumbante fracasso no bagunçado O Cavaleiro Solitário (2013) e agora este O Agente da U.N.C.L.E teve uma recepção morna da crítica americana e estreou em um decepcionante terceiro lugar nas bilheterias. Claro, é perfeitamente possível que o filme se recupere na arrecadação internacional, mas a esse ponto todos sabem que se esse filme resultar em outro fracasso, a posição dele em Hollywood fica bem precária. Falo tudo isso para dizer que é o principal problema deste O Agente da U.N.C.L.E reside justamente em Hammer e Cavill.

A trama se passa nos anos sessenta, no auge das tensões entre Estados Unidos e União Soviética, a "era de ouro" da espionagem. O espião americano Napoleon Solo (Henry Cavill) é obrigado a cooperar com agente russo Ilya Kuryakin (Armie Hammer) para encontrar um cientista que desenvolveu uma forma mais fácil e rápida de criar bombas nucleares, para encontrar o cientista, ambos precisam da ajuda de sua filha, Gaby (Alicia Vikander).

O diretor Guy Richie traz a mesma energia e estilo que sempre marcam seus filmes, com uma ótima reconstrução de época e cria um clima bastante similar aos antigos filmes de espionagem ao mesmo tempo que não soa como antiquado. Chama atenção também sua seleção musical que resulta em uma trilha sonora eclética que vai de Ennio Morricone a Tom Zé. Richie filma as cenas de ação com bastante elegância e criatividade, o modo como ele recorta a tela em quadros que vão se abrindo e fechando para retratar ações múltiplas é particularmente curioso.

Além disso, temos a maneira como sua câmera passeia por um amplo espaço aberto durante uma perseguição envolvendo três veículos diferentes e o uso da câmera acerta com precisão no tom de urgência e no dinamismo. Ele também cria momentos engraçados graças ao enquadramento e uso da música como a cena em que Solo fica sentado em um caminhão enquanto Ilya está ao fundo envolvido em uma perseguição marítima ou quando os dois discutem o que fazer com um prisioneiro sem perceberem que ele está sendo acidentalmente eletrocutado.

Se a direção de Richie eleva o filme acima do banal que sua narrativa sugere, Hammer e Cavill rebaixam o filme no que eu diria ser um enorme equívoco de casting. Cavill é certamente capaz de fazer um herói certinho e bom moço (ele é o atual Super-Homem, afinal), mas simplesmente não funciona como um personagem que é um misto entre James Bond e Han Solo e boa parte de suas piadas, bem como sua atitude de escroque bon-vivant mulherengo, não conseguem convencer e ele exprime mais "bom mocismo" do que dissimulação. Do mesmo modo, Hammer precisa reter seu carisma nos maneirismos rígidos e contidos do agente russo, ele até acerta no sotaque, mas jamais consegue passar a sensação de instabilidade e intimidação que Ilya deveria transmitir. Além disso a química dos dois não funciona tão bem quanto deveria e não chegam a convencer da rivalidade ou da amizade que há entre eles. Claro, existem alguns bons momentos em que eles disputam suas habilidades, como quando eles jogam um no outro as escutas plantadas em seus quartos ou a disputa de gadgets quando tentam invadir um lugar, mas isso é mais mérito do texto do que dos atores.

Enquanto os homens não conseguem se sair bem, a bela Alicia Vikander (do excelente Ex Machina: Instinto Artificial) traz uma personagem cuja astúcia e perspicácia costuma surpreender seus dois "guardiões", jamais aceitando a posição de donzela indefesa, e rouba a cena na maioria das vezes em que aparece. A vilã, apesar de clichê e com motivações vagas, funciona porque ela jamais demonstra que é facilmente enganada pelos personagens e mais de uma vez os pega desprevenidos ao antecipar seus movimentos. Completando o time, Hugh Grant aparece em uma participação pequena, mas divertida.

O Agente da U.N.C.L.E certamente tem mais estilo do que substância, mas a condução enérgica e classuda de Guy Richie consegue divertir apesar da trama genérica e dos protagonistas não convencerem como deveriam.

Nota: 6/10

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