sexta-feira, 5 de abril de 2024

Drops – Feriado Sangrento

 

Crítica – Feriado Sangrento

Review – Thanksgiving
Começando sua vida como um trailer falso no projeto Grindhouse de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez, Feriado Sangrento seguiu o caminho de Machete e se tornou um longa metragem. Não esperava muita coisa, mas o resultado é um competente slasher. A narrativa começa quando uma liquidação de Black Friday dá errado e várias pessoas são mortas quando uma multidão enfurecida invade uma loja de departamentos. Um ano depois, o Dia de Ação de Graças se aproxima mais uma vez e um misterioso assassino fantasiado de peregrino começa a matar os envolvidos no incidente do ano anterior. Um grupo de adolescentes se vê na mira do assassino enquanto o xerife Eric (Patrick Dempsey) tenta manter a paz na cidade.

A cena inicial da Black Friday tem ecos do O Despertar dos Mortos (1978) do George Romero no modo como constrói um brutal retrato da zumbificação do individuo dentro do capitalismo e como as pessoas são reduzidas a feras irracionais que existem apenas para consumir, não importando a destruição causada. Apesar dos personagens em cena não serem de fato zumbis e sim pessoas normais, eles se comportam como feras enfurecidas, com uma brutalidade que remete a vídeos do mundo real de liquidações que terminaram em tragédia.

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Crítica – Todos Nós Desconhecidos

 

Análise Crítica – Todos Nós Desconhecidos

Review – Todos Nós Desconhecidos
Dirigido por Andrew Haigh, Todos Nós Desconhecidos é uma história sobre luto, solidão, intimidade e estranhamento. Sua narrativa sobre se manter preso ao passado e não se abrir para o presente, preferindo conviver os fantasmas de outrora poderia render um filme bem piegas, daqueles feitos para forçar o público ao choro, mas Haigh traz uma leveza e uma sensibilidade na condução que faz tudo ser emotivo sem cair na pieguice.

A trama é protagonizada por Adam (Andrew Scott), um escritor que aparentemente é a única pessoa morando em um alto prédio de habitação popular. O único outro morador que ele parece encontrar no local é Harry (Paul Mescal) e ambos começam a conversar. Com o tempo, Harry demonstra interesse em Adam, mas o escritor passa seu tempo revisitando a casa que cresceu na infância, tentando escrever um roteiro de cunho autobiográfico a respeito de sua relação com os pais falecidos. Em uma dessas idas, nas quais o trem funciona como uma máquina do tempo, ele encontra o pai (Jamie Bell) em uma loja de conveniência e vai jantar com ele e a mãe (Claire Foy), como se nada tivesse acontecido. Ele passa a dividir seu tempo entre os pais e Harry, mas esses mundos não demonstram facilidade em coexistir.

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Crítica – Uma Família Feliz

 

Análise Crítica – Uma Família Feliz

Review – Uma Família Feliz
Um final bem construído pode fazer toda a diferença. Pode até salvar uma produção que não é grande coisa. De maneira análoga, um final ruim, mal desenvolvido, pode afundar um filme que até então estava bom. Isso é infelizmente o que acontece em Uma Família Feliz suspense bem conduzido pelo diretor José Eduardo Belmonte (responsável por filmes como Carcereiros, Alemão e Billi Pig) que naufraga por um péssimo clímax que abandona tudo que fora desenvolvido até então.

A trama é protagonizada por Eva (Grazi Massafera), prestes a ter seu primeiro filho com o marido, Vicente (Reynaldo Gianecchini), que tem duas filhas de um casamento anterior. Cuidando do recém nascido e também das duas enteadas, Eva começa a se sentir sozinha em casa e o cansaço de fazer tudo sozinha começa a afetá-la. Ao mesmo tempo seu bebê e as duas enteadas começam a exibir machucados desconhecidos, que Eva não sabe como explicar e Vicente começa a desconfiar dela.

terça-feira, 2 de abril de 2024

Drops – Em Ruínas

 

Resenha Crítica – Em Ruínas

Review – Badland Hunters
A produção sul coreana Em Ruínas é um daqueles casos em que o filme não tem nada de fundamentalmente errado, mas também não tem nada muito digno de nota. A narrativa se passa em uma Seul que foi devastada por um terremoto anos atrás e agora a sociedade regrediu a um grupo de facções que tenta sobreviver do pouco que restou. O grupo liderado por Nam San (Ma Dong-Seok, de Força Bruta e Eternos) tem uma oportunidade de melhorar de condição quando são abordados por um grupo que vive em um prédio ainda intacto e com água limpa. O local, claro, guarda segredos sombrios e aqueles que aceitam a suposta utopia são usados como cobaias pelo cientista que lidera o local. Assim, Nam San e outros sobreviventes de seu grupo vão resgatar os amigos.

É um cenário pós-apocalíptico bem típico, que já foi explorado a rodo em produções televisivas e cinema do mundo todo. Tanto narrativa, quanto visualmente o filme carece de elementos marcantes. Não é exatamente mal executado, já que os acampamentos e prédios em ruínas prezam por cenários físicos e razoavelmente amplos, que ajudam a tornar crível o clima de desolação, a questão é que a produção não oferece nada que já não tenhamos visto antes.

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Crítica – Matador de Aluguel

 

Análise Crítica – Matador de Aluguel

Review – Matador de Aluguel
Estrelado por Patrick Swayze, o primeiro Matador de Aluguel (1989) era um marco do cinema de ação canastrão dos anos 80. Era um filme tão estúpido, tão absurdo, tão exagerado que se tornava genial e divertia pelo modo sério como a direção e elenco abordavam um texto tão risível, conferindo um charme canastrão à fita. A nova versão de Matador Aluguel produzida pela Prime Video, por outro lado, parece não se decidir entre o camp e a seriedade resultando em uma produção sem muita personalidade.

Na trama, Dalton (Jake Gyllenhaal) é um ex-lutador de MMA que deixou o ambiente profissional das lutas depois de um evento traumático. Sem trabalho e sem perspectiva, ele é procurado por Jackie (Jessica Williams) para ser segurança em seu bar no sul da Flórida. A casa tem sido alvo de gangues de motoqueiros e ela precisa de alguém para por ordem no lugar. Chegando lá Dalton se envolve com a médica Ellie (Daniella Melchior) e descobre que o bar está na mira de um magnata local.

quarta-feira, 27 de março de 2024

Crítica – O Homem dos Sonhos

 

Crítica – O Homem dos Sonhos

Review – O Homem dos Sonhos
Com uma premissa bastante insólita, é difícil não ficar curioso para conferir O Homem dos Sonhos. O filme narra a história do pacato e frustrado professor universitário Paul (Nicolas Cage). Apesar de uma carreira estável, Paul anseia mais reconhecimento, algo que vem quando várias pessoas ao redor do país começam a dizer que estão vendo o professor em seus sonhos. O fenômeno ganha atenção da mídia e Paul logo se torna uma espécie de celebridade. O problema é que a fama não é o que o professor esperava.

É uma trama que transita entre comédia, drama, terror e surrealismo, com muito do que sustenta essa variação sendo a performance de Nicolas Cage. Logo quando conhecemos Paul o vemos como um sujeito pacato e relativamente patético, exemplificado na cena em que ele cobra de outra acadêmica os créditos por um termo que ele crê ter cunhado. A cena em questão nos mostra o anseio do personagem ao mesmo tempo em coloca algo de ridículo no modo como ele parecer exigir do mundo algum reconhecimento. Conforme a trama progride e a fama passa a ser um fardo para Paul e sua família, Cage transita entre a dor e a frustração de ver que nem assim suas ambições irão se realizar.

terça-feira, 26 de março de 2024

Crítica – Madame Teia

 

Análise Crítica – Madame Teia

Review – Madame Teia
Depois do horrendo Morbius (2022) a Sony parece não ter aprendido a lição e continua a insistir na ideia equivocada de construir um universo com personagens que gravitam em torno do Homem-Aranha sem, no entanto, usar o herói. A mais nova adição nesse plantel de erros é Madame Teia, um filme tão equivocado, tão sem sentido e incompetente que acaba se tornando divertido e, nesse sentido, acaba sendo um pouco melhor do que Morbius. Um patamar fácil de superar, admito.

A trama acompanha Cassandra Webb (Dakota Johnson) uma paramédica que desenvolve a capacidade de ver o futuro depois de um incidente de quase morte. Ela passa a ter visões com três garotas sendo assassinadas e quando as encontra no metrô decide protegê-las do perigoso Ezekiel Sims (Tahar Rahim). Assim, Cassie coloca as jovens Julia (Sydney Sweeney), Anya (Isabela Merced) e Mattie (Celeste O’Connor) sob sua proteção, já que elas estão destinadas a serem super-heroínas e Sims tem visões de que elas o matarão no futuro.

segunda-feira, 25 de março de 2024

Crítica – Final Fantasy VII Rebirth

 

Análise Crítica – Final Fantasy VII Rebirth

Review – Final Fantasy VII Rebirth
Depois que Final Fantasy VII Remake se mostrou um bom começo para a reimaginação do clássico RPG para as gerações atuais, ficava a dúvida de como uma segunda parte lidaria com os ambientes mais abertos do game após a linearidade do segmento em Midgar. Outra dúvida também seria de quantas partes mais o remake teria. Felizmente Final Fantasy VII Rebirth entrega tudo que esperávamos, com mais exploração, minigames e personagens, além de explicitar que esse será a segunda parte de uma trilogia que comporá o remake do Final Fantasy VII original.

A trama segue no ponto em que o anterior parou, com Cloud e seus aliados fugindo de Midgar e iniciando uma busca por Sephiroth. Ao longo do caminho encontrarão as consequências das ações da Shinra extraindo a energia do planeta, serão alvos do novo presidente da empresa, Rufus, e também lidarão com seus próprios problemas pessoais.

sexta-feira, 22 de março de 2024

Crítica – Not Dead

 

Resenha Crítica – Not Dead

Review – Not Dead
Quando falamos em música em Salvador normalmente pensamos em axé music, mas o cenário musical da cidade é muito mais diverso que isso e o documentário Not Dead visa falar de uma das formas musicais que teve (e tem) uma presença na cidade que é o punk rock. Como alguém que viveu praticamente a vida toda em Salvador, achei interessante conhecer um aspecto da vida cultural da cidade que é pouco falado e pouco visto nas representações midiáticas.

O filme segue um grupo de pessoas influentes no surgimento da cena punk em Salvador nos anos 80, contando sobre a criação da loja Not Dead, que vendia roupas e mercadorias com estética punk e servia como um espaço para congregar a cultura punk em Salvador. A partir disso ele nos mostra como está a cena punk hoje, as bandas que surgiram naquela época que ainda estão ativas e como a ideologia punk transformou a vida dos envolvidos mesmo aqueles que não seguem diretamente engajados na cena punk soteropolitana hoje.

quinta-feira, 21 de março de 2024

Crítica – A Flor do Buriti

 

Análise Crítica – A Flor do Buriti

Review – A Flor do Buriti
Depois de Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos (2018) os diretores João Salaviza e Renée Nader Messora voltam a falar sobre a população indígena Krahô no interior do Tocantins. Em A Flor do Buriti os realizadores focam em narrar a história de luta pela terra dessa população e como eles resistiram a múltiplos massacres.

A narrativa vai da década de 1940 aos dias atuais, mas sem seguir uma cronologia, acompanhando a população da Aldeia Pedra Branca no presente e se deslocando no tempo conforme eles contam as histórias do passado ou seus espíritos entram em contato com ancestrais no passado, misturando cenas encenadas e personagens reais para narrar como a opressão aos indígenas sempre foi uma constante em suas vidas.

Se filmes como Martírio (2016) mostram anos de descaso ou políticas questionáveis da parte do Estado brasileiro, aqui essas décadas de descaso e perseguição são apresentadas do ponto de vista dos próprios indígenas, narrado, inclusive em sua própria língua. O fato dos Krahô falarem seu em sua língua é uma escolha estética e política, permite que eles se coloquem em seus próprios termos, com seu vernáculo e com toda a construção subjetiva e visão de mundo imbricada na própria língua.