quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Crítica – Twisted Metal

 

Análise Crítica – Twisted Metal

Review – Twisted Metal
Tive pouco contato com os games da franquia Twisted Metal. Joguei brevemente no Playstation original, mas não tenho muita memória. Lembro de alguns personagens, como o palhaço Sweet Tooth e o fato de que os combates veiculares giravam em torno de um torneio de embates até a morte. Era algo bem básico que tinha minhas dúvidas se seria capaz de render uma série, mas Twisted Metal, criada pelos mesmos responsáveis por Zumbilândia, entrega uma aventura apocalíptica inesperadamente divertida.

A trama se passa em um futuro no qual a sociedade colapsou. As poucas cidades que restaram se tornaram fortalezas muradas nas quais ninguém mais entra. A comunicação entre as cidades é feita pelos “leiteiros” entregadores que cruzam o país em carros cheios de blindagem e armas para sobreviverem aos perigos da estrada. John Doe (Anthony Mackie) é um desses leiteiros. Tendo vivido nos ermos a vida inteira, ele recebe a chance de morar em São Francisco se cumprir uma perigosa entrega para a governante local, Raven (Neve Campbell). No caminho ele conhece tipos perigosos como o insano Sweet Tooth (Samoa Joe/Will Arnett) ou o policial Stone (Thomas Haden Church), obcecado em fazer a lei valer nos ermos. Para sobreviver John se alia à misteriosa Quiet (Stephanie Beatriz), de quem vai se aproximando aos poucos.

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Crítica – A Batalha de Natal

 

Análise Crítica – A Batalha de Natal

Review – A Batalha de Natal
Dezembro chega e inevitavelmente começam a pipocar filmes natalinos nos streamings e canais a cabo. A Batalha de Natal, produzido pela Prime Video, é o mais novo exemplar de produção feita à toque de caixa para capitalizar no espírito das festas de fim de ano. Sim, eu sei que em pleno 2023 fazer um filme de natal que seja muito diferente ou inovador é complicado considerando o volume de produções desse tipo que inundam os catálogos todo ano, mas, ainda assim, A Batalha de Natal não afasta a sensação de que já vimos tudo isso antes e que o filme funciona como uma espécie de checklist de clichês do gênero sem muita imaginação.

A trama gira em torno Chris (Eddie Murphy), um homem recém desempregado que decide vencer a qualquer custo o concurso de decoração de Natal de seu bairro para conquistar o prêmio em dinheiro da competição. Chris acaba fazendo um pacto com a elfa natalina Pepper (Jillian Bell) para vencer, mas a elfa cobra um custo e se ele não encontrar cinco anéis dourados até a noite de Natal, Chris será transformado em uma decoração natalina.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Crítica – Vale o Escrito: A Guerra do Jogo do Bicho

 

Análise Crítica – Vale o Escrito: A Guerra do Jogo do Bicho

Review – Vale o Escrito: A Guerra do Jogo do Bicho
A contravenção do jogo do bicho é um esquema que existe faz tempo no Brasil e ocupa um lugar de destaque principalmente no Rio de Janeiro, onde se originou. A série documental Vale o Escrito: A Guerra do Jogo do Bicho, produzida pela Globoplay, conta a história desse esquema de jogo e como ele se relaciona com diversas dimensões da vida carioca, do carnaval à política, passando também pela origem de outros grupos criminosos.

Dividida em oito episódios, a série foca cada um deles em personalidades diferentes da contravenção, começando nas origens do jogo do bicho e encerrando nos dias atuais. Em termos estilísticos a série entrega aquilo já se tornou convencional em documentários sobre crimes, se estruturando ao redor de entrevistas, imagens de arquivo e ocasionalmente algumas cenas encenadas.

Apesar de tradicional em seu formato, o que chama a atenção na série é a ampla pesquisa jornalística feita sobre o caso, cobrindo um longo período de tempo e o amplo escopo da rede de crimes desses contraventores. A série nos mostra como é o jogo do bicho que amplia e organiza o carnaval carioca e o desfile das escolas de samba, não apenas ao assumirem e financiarem individualmente certas escolas de samba, mas na criação da Liga que representa o coletivo das escolas e organiza a competição. Do mesmo modo, vemos como muitos dos bicheiros da chamada “alta cúpula” do jogo tem ligação com vários políticos em posição de destaque no Rio e na política nacional.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Drops – A Lista de Beijos

 

Crítica – A Lista de Beijos

Review – A Lista de Beijos
Eu não esperava nada muito inovador ou diferente quando fui assistir A Lista de Beijos, mas queria ao menos ver uma comédia adolescente minimamente bem realizada e carismática. O que encontrei, no entanto, foi uma coleção de lugares comuns pouco imaginativos que não servem para dar ao filme nenhum tipo de personalidade própria.

A narrativa gira em torno de Camille (Megan Suri) que consegue beijar um dos garotos populares da escola. O que deveria ser um sonho se torna um pesadelo quando o garoto espalha para toda escola que ela beija mal. Quando fazem uma enquete no colégio e apenas quatro pessoas dizem que ficariam com Camille, ela decide procurar essas pessoas para provar que não beija mal. 

É uma típica história de despertar afetivo adolescente. Uma personagem que sente que está “atrasada” em suas experiências afetivas e sexuais e decide correr atrás do tempo perdido de uma maneira que não é exatamente saudável. Já assistimos vários filmes assim, de American Pie (1999) a Superbad (2007) passando pelo recente e ótimo Clube da Luta para Meninas (2023) e A Lista de Beijos não faz nada de interessante com sua premissa.

quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Drops – A Freira 2

Análise Crítica – A Freira 2
 


Review – A Freira 2
O primeiro A Freira (2018) não tinha nada de muito espetacular, mas funcionava principalmente por conta do visual sinistro de sua criatura. Este A Freira 2, ainda que se apoie nesse mesmo elemento, soa como uma continuação protocolar, feita só para tentar arrancar dinheiro do público, sem muito a dizer sobre seus personagens ou o mal que seu demônio representa.

A trama se passa em 1956. A irmã Irene (Taissa Farmiga) reconstruiu sua vida depois dos eventos do primeiro filme, mas a igreja lhe incumbiu uma nova missão: investigar uma série de mortes em locais religiosos através da Europa que indicam que o demônio Valak está à solta mais uma vez. A investigação aponta para um convento na França que serve de escola para jovens garotas.

A trama demora a colocar Irene e a irmã Debra (Storm Reid), sua aliada da vez, em meio ao conflito principal, jogando as duas ao redor da Europa investigando pistas e tentando encontrar um artefato sagrado, os olhos de Santa Luzia, que supostamente deteriam a freira demoníaca. É algo que mais parece saído de um filme do Indiana Jones do que de uma trama de terror e com tanto tempo gasto com o isso o filme desperdiça as possibilidades de usar a presença de um demônio que assombra igrejas para ponderar sobre a natureza do mal, a falibilidade humana ou como os mais santos entre nós também tem a mácula do pecado.

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Crítica – Quiz Lady

Análise Crítica – Quiz Lady


Review Crítica – Quiz Lady
Estrelado por Awkwafina e Sandra Oh, Quiz Lady é um road movie bem típico que envolve pelas duas protagonistas. A trama é centrada em Anne (Awkwafina) uma contadora solitária cujo ponto alto de suas noites é assistir o mesmo programa de perguntas e respostas que ela acompanha desde a infância. Tendo começado a assistir durante o divórcio dos pais, o programa virou para ela uma espécie de porto seguro e um momento no qual ela se sente em controle da própria vida.

As coisas se complicam quando seu cachorro é sequestrado por agiotas para quem sua mãe viciada em jogo deve dinheiro. Como a mãe de Anne fugiu do país e voltou para a China, o agiota resolve cobrar de Anne e sequestra seu cachorro para obrigá-la a pagar. A irresponsável irmã mais velha de Anne, Jenny (Sandra Oh), a encoraja a participar do programa que assiste diariamente para levantar o dinheiro. Assim as duas iniciam uma viagem pelo país para tentar entrar no programa.

terça-feira, 28 de novembro de 2023

Crítica – Clube da Luta Para Meninas

 

Análise Crítica – Clube da Luta Para Meninas

Segundo longa metragem da diretora Emma Seligman (do ótimo Shiva Baby), é uma pena que este Clube da Luta Para Meninas tenha chegado ao Brasil com um título tão genérico ao invés da tradução não oficial Passivonas com o qual ele circulava pela internet, já que é mais fiel ao título original Bottoms e também ao espírito de sátira do filme. É uma produção que mergulha no absurdo, mas que comenta de maneira consistente sobre o senso de invisibilidade e inadequação da juventude.

A trama é protagonizada por PJ (Rachel Sennott) e Josie (Ayo Edebiri), duas garotas pouco populares, solitárias e lésbicas que, na tradição das comédias adolescentes estadunidenses, decidem que o próximo ano escolar será finalmente aquele em que perderão suas respectivas virgindades. Para fazer isso inventam uma mentira de que passaram as férias em um reformatório e que tiveram que lutar contra toda sorte de agressor e abusador. A partir daí elas decidem iniciar um “clube da luta” supostamente para ensinar as garotas da escola a se defenderem, mas na verdade querem usar isso como um pretexto para se aproximarem das meninas de quem gostam.

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Crítica – Invencível: Segunda Temporada (Parte 1)

 

Análise Crítica – Invencível: Segunda Temporada (Parte 1)

Review – Invincible: Segunda Temporada (Parte 1)
Depois de um hiato de quase dois anos após sua primeira temporada, a animação Invencível chega ao seu segundo ano com uma divisão em duas partes, com os primeiros quatro episódios sendo lançados agora em novembro de 2023 e a segunda parte chegando em algum momento no início de 2024. A decisão foi tomada supostamente para que o público não se dispersasse por conta das festas de fim ano, um raciocínio que não faz sentido considerando que se trata de uma produção de streaming e não de TV convencional, que é exibida em um horário específico e requer que as pessoas sintonizem naquele momento. Digo isso porque a trama claramente não foi construída pensando em uma divisão.

A narrativa se passa cerca de seis meses depois dos eventos do ano de estreia, Mark e mãe, Debbie, ainda lidam com os sentimentos resultantes do ataque do Omni-Man e a revelação que ele veio à Terra para conquistá-la. Enquanto isso, o Robô se acostuma ao seu novo corpo e treina os Guardiões do Globo para estarem à altura de enfrentarem Omni-Man em um eventual retorno. Eve Atômica, por sua vez, pensa em como usar seus poderes para ajudar as pessoas agora que não é mais uma super-heroína enfrentando vilões.

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Crítica – Scott Pilgrim: A Série

 

Análise Crítica – Scott Pilgrim: A Série

Review – Scott Pilgrim: A Série
Meu primeiro contato com a obra de Bryan Lee O’Malley foi a adaptação para os cinemas de Scott Pilgrim Contra o Mundo (2010), de Edgar Wright. Um tempo depois fui ler o quadrinho homônimo que inspirou o filme e gostei ainda mais, já que ele aprofundava mais os vários personagens e dava mais evidência ao fato de Scott estar longe de ser um “cara legal” e que Ramona tinha seu grau de responsabilidade no modo como tratava aqueles com quem se relacionava. Agora, cerca de vinte anos depois do lançamento do quadrinho, ele é adaptado como série animada pela Netflix neste Scott Pilgrim: A Série.

Inicialmente pensei que fosse ser uma adaptação mais fiel da HQ e me empolguei pelo fato do elenco de dubladores ser o mesmo do filme do Edgar Wright, já que todos funcionavam muito bem. A série, no entanto, é mais uma releitura do material original do que uma transposição direta, o que acaba se revelando uma boa escolha. Primeiro que evita a estrutura de uma ordem linear no enfrentamento com os ex-namorados de Ramona, algo que fez o quadrinho e o filme soarem repetitivos em certos pontos. Segundo que com o distanciamento de vinte anos de sua própria obra, O’Malley, que escreveu os roteiros dos oito episódios, pode examinar melhor alguns aspectos que não foram tão bem trabalhados no original e expande muito de suas ideias.

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Crítica – Crescendo Juntas

 

Análise Crítica – Crescendo Juntas

Adaptando o romance Are You There God? It’s Me Margaret, de Judy Blume, o filme Crescendo Juntas é uma típica história de amadurecimento e descobertas que envolvem a chegada da adolescência. Apesar de ser um tipo de história similar a várias outras que já vimos, o filme conquista pela sua sensibilidade e doçura.

A trama se passa em 1970 e é protagonizada por Margaret (Abby Ryder Fortson), uma garota prestes a fazer 12 anos que começa a contemplar as mudanças trazidas pela adolescência. Ela também lida com uma mudança literal, já que sua família se muda de Nova Iorque para os subúrbios de Nova Jersey, começando em uma nova escola e precisando fazer novas amizades.

A narrativa traz tópicos presentes em muitas tramas sobre juventude, como a primeira menstruação, o primeiro sutiã ou o despertar do interesse por garotos. São temas passíveis de discussão franca e aberta hoje, mas não tanto na época em que a história se passa e na qual o livro foi escrito. É um período onde não há internet, informação não estava disponível tão fácil e mesmo locais de aprendizado, como a escola, lidavam com esses temas de maneira relativamente tabu.

O texto, porém, evita que tudo isso soe excessivamente didático ao enquadrar tudo sob a perspectiva de Margaret e transitar com bastante sensibilidade entre esses temas, fugindo de simplismos que diluiriam suas ideias. A trama também é esperta ao não eleger vilãs para a história, entendendo a imaturidade de suas personagens e como muito das ações dessas garotas são movidas por senso de insegurança e necessidade de pertencimento. Assim, mesmo quando Nancy (Elle Graham), uma garota que posava de avançada e já desenvolvida, é revelada como mentirosa, a narrativa trata isso mais como uma evidência da fragilidade da menina e seu desejo desesperado de adequação do que como uma falha moral de seu caráter, entendendo que jovens eventualmente fazem besteira, agem com imaturidade e se magoam.

Muito da sensibilidade do filme vem também do elenco. A jovem Abby Ryder Fortson traz uma doçura e ingenuidade encantadora a Margaret e estabelece uma química afetuosa com o resto da família, o pai, Herb (Benny Safdie), a mãe, Barbara (Rachel McAdams), e especialmente a avó paterna, Sylvia (Kathy Bates), que funciona como um porto seguro para a garota. As relações entre esses personagens estabelecem um lar cheio de calor humano que contribui para o olhar afetuoso que o filme constrói sobre juventude.

Inclusive a fotografia preza por tons de sépia, com matizes de laranja e marrons, que parecem evocar uma certa nostalgia pelo passado e pela infância. Esse componente visual de nostalgia ajuda a justificar o retrato mais inclusivo que faz da vida suburbana nos EUA da década de 70, aqui mostrado como um espaço mais inclusivo e menos preconceituoso do que realmente era. Esse retrato soa menos como uma tentativa de reescrever ou romantizar a história e mais com o fato de tudo ser filtrado pela subjetividade de Margaret, que observa tudo com sua ingenuidade infantil e, talvez por isso, não atente para certas coisas.

Isso não significa, no entanto, que o filme faça um retrato completamente idílico da sociedade estadunidense na década de 70. Como o cerne do conflito de Margaret está em sua relação com deus por ter uma mãe cristã e um pai judeu, a narrativa explora como intolerância ou imposição religiosa pode afastar as pessoas ao nos informar que Barbara foi expulsa de casa pelos pais conservadores cristãos ao se relacionar com o judeu Herb. A descoberta desses fatos por Margaret representa a mudança na visão que temos de nossos pais conforme crescemos. Se na infância os vemos como super-heróis infalíveis, conforme chegamos na adolescência vamos percebendo a humanidade e como eles são pessoas com falhas e problemas como quaisquer outras.

O debate sobre a relação de Margaret com deus e que caminho ela deveria seguir em sua vida espiritual é inteligentemente deixado em aberto para a interpretação do espectador, evitando assim respostas fáceis sobre algo tão complexo e reconhecendo que esse é um elemento íntimo de cada sujeito a ser resolvido dentro da subjetividade de cada um. Assim, ainda que se estruture como uma típica história de amadurecimento, Crescendo Juntas envolve pela doçura de sua protagonista e pela sensibilidade com a qual transita sobre seus temas de juventude.

 

Nota: 8/10


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