sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Rapsódias Revisitadas – A Vida é Dura: A História de Dewey Cox

 

Rapsódias Revisitadas – A Vida é Dura: A História de Dewey Cox

Review – A Vida é Dura: A História de Dewey Cox
Cinebiografias de músicos são um filão constantemente explorado pela indústria do cinema. Artistas famosos como Johnny Cash, Ray Charles, Elton John ou Elvis já ganharam filmes inspirados em suas vidas. Com uma produção tão profícua era apenas questão de tempo até que esse tipo de filme fosse parodiado. Isso aconteceu em 2007 com o lançamento de A Vida é Dura: A História de Dewey Cox.

O filme conta a história do fictício músico Dewey Cox (John C. Reilly) e o modo como superou adversidades para alcançar o sucesso. A trama brinca bastante com os clichês de como esse tipo de filme é estruturado, apresentando todos os momentos padrão dessas histórias, como a infância pobre e traumática (ele acidentalmente corta o irmão no meio com um facão), o abuso de drogas, os amores e as influências dele sobre outros músicos.

É tudo construído com um exagero extremo, ciente de como certos formatos já estão batidos em cinebiografias, como o fato da primeira esposa de Dewey, Edith (Kristen Wiig) dizer sem sutileza o tempo todo de como ele precisa desistir do sonho de ser músico ou como o pai de Dewey fala constantemente que o filho errado morreu. Em um dado momento, quando Dewey grava Walk Hard, a música que o tornaria famoso, o filme faz piada no modo como a montagem desses filmes dá a impressão de que o sucesso vem rápido com a cena do estúdio cortando diretamente para um locutor de rádio anunciando a canção que terminou de ser gravada há três minutos atrás.

A trama também apresenta cenas que parodiam filmes específicos. As várias gags com Dewey encontrando os músicos de sua banda usando drogas no camarim fazem piada com um momento semelhante em Ray (2004) quando Ray Charles encontra os membros da banda usando heroína. Em outro momento Dewey discute com um repórter da revista Time durante uma coletiva, dando respostas atravessas com uma fala que soa cifrada e complicada, parodiando a cena do documentário Don’t Look Back (1967) em que o músico Bob Dylan bate boca com um repórter da mesma revista.

O filme ainda faz piada com o modo como o conservadorismo estadunidense reagiu com gêneros musicais populares como o rock. Logo no início do filme Dewy compõe uma música sobre querer andar de mãos dadas com uma garota e todos reagem com ultraje, tratando a música como obscena enquanto as mulheres que ouvem a canção arrancam a roupa e se jogam no palco, lembrando como as letras de outrora eram bem inocentes (especialmente se comparadas aos dias atuais) a despeito da controvérsia que geraram.

Muito da graça vem da atuação de John C. Reilly e o modo como ele lida com extrema seriedade à toda maluquice que acontece ao seu redor. Reilly atua como se estivesse em uma biografia “séria” e muito do humor vem do contraste em como ele constrói com seriedade a caricatura que é seu personagem e toda a maluquice que o roteiro coloca em seu caminho. A produção ainda tem várias pontas divertidas, como Jack White interpretando uma versão exagerada de Elvis ou Jack Black e Paul Rudd interpretando Paul McCartney e John Lennon na fase lisérgica dos Beatles.

A Vida é Dura: A História de Dewey Cox diverte pelo modo como destrincha os clichês de cinebiografias e constrói um senso de humor absurdo elevado pelo trabalho de John C. Reilly


Trailer


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