quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Crítica – O Porteiro

Review – O Porteiro


Análise Crítica – O Porteiro
A comédia tem sido um dos gêneros mais rentáveis do cinema brasileiro nos últimos anos. Depois do sucesso de adaptações de produções teatrais como Minha Mãe é Uma Peça ou Os Homens São de Marte e é pra lá Que Eu Vou era de se imaginar que voltássemos ao teatro em busca de novos sucessos. O Porteiro é a nova tentativa de fazer uma comédia audiovisual de carona em um sucesso teatral.

A trama acompanha Waldisney (Alexandre Lino), porteiro de um prédio de classe média na zona sul do Rio de Janeiro. Quando uma confusão irrompe no condomínio todos são levados para a delegacia e o porteiro precisa explicar o que aconteceu para um impaciente delegado (Maurício Manfrini). O relato de Waldisney rememora tudo que aconteceu ao longo do dia e suas interações com os pitorescos habitantes do prédio.

A estrutura de testemunho permite que a trama vá e volte no tempo construindo momentos cômicos que são quase desconectados um do outro e da trama principal. É uma esquema que faz tudo soar demasiadamente episódico, como se fossem uma série de esquetes soltos colados juntos, ao invés de uma trama coesa. O assalto que acontece no clímax tem sua parcela de momentos pouco plausíveis e a revelação de quem era o informante dos ladrões é relativamente previsível.

A comédia, no entanto, é bem sucedida em extrair humor e criar situações absurdas em cima de elementos do cotidiano, em especial pela humildade sincera com a qual Waldisney reage a todo caos ao seu redor. É como se ele fosse a única pessoa normal em um universo de caricaturas, precisando simplesmente ignorar a maluquice e fazer o melhor para lidar com tudo porque precisa do emprego para sobreviver, não muito diferente de outros porteiros do país que necessitam lidar com toda sorte de morador bizarro, inconveniente ou mesmo mal intencionado.

Contribuindo para o senso de absurdo está a faxineira interpretada por Cacau Protásio. Abraçando o exagero e se jogado com tudo em qualquer situação, não importa o quão sem noção seja, Protásio faz funcionar suas piadas com um timing preciso. Do mesmo modo, Daniela Fontan traz pura energia caótica a Laurizete, a briguenta esposa do calmo Waldisney. Seria fácil que a personagem descambasse para uma caricatura ofensiva de mulher megera, mas Fontan consegue nos fazer ver a humanidade e afeto que há por trás da fachada agressiva da personagem de uma maneira semelhante ao que acontece com a Rochelle (Tichina Arnold) de Todo Mundo Odeia o Chris, que é indubitavelmente doida, mas nunca é reduzida a apenas isso. Confesso que fiquei surpreso com o trabalho de Maurício Manfrini como um delegado pavio curto. Ao longo dos anos me acostumei a ver o comediante repetir variações do Paulinho Gogó e aqui ele faz um tipo mais “sério” que serve de escada para o humor dos personagens mais excêntricos.

Nem todas as situações cômicas funcionam, porém. Algumas delas, como o segmento de personagens presos em um elevador, se alonga mais do que deveria, enquanto outras, como a das duas adolescentes feitas de reféns, irrita mais do que faz rir. Ainda assim, o saldo geral de O Porteiro é positivo, oferecendo uma diversão leve e despretensiosa a despeito de uma trama excessivamente episódica.

 

Nota: 6/10


Trailer


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