terça-feira, 27 de junho de 2023

Crítica – Indiana Jones e a Relíquia do Destino

 

Análise Crítica – Indiana Jones e a Relíquia do Destino

Review – Indiana Jones e a Relíquia do Destino
Responsável pelo excelente Logan (2017), o diretor James Mangold provavelmente foi chamado para encabeçar este Indiana Jones e a Relíquia do Destino para dar ao herói vivido por Harrison Ford um desfecho tão competente e emocionante quanto o Wolverine. Considerando a recepção negativa que o filme teve quando foi exibido em Cannes, temi, porém, que Mangold tivesse feito o Durode Matar 5 (2013) da franquia. Felizmente não é o caso e a produção tem lá seus méritos ainda que fique aquém do seu potencial.

A trama se passa em 1969, às vésperas do pouso da Apollo 11 na Lua. Indy (Harrison Ford) agora é professor em Nova Iorque, prestes a se aposentar. No seu último dia de trabalho ele recebe a visita da afilhada Helena (Phoebe Waller-Bridge) que pede a ajuda dele para localizar a relíquia de Arquimedes, que seria capaz de localizar fissuras no tempo. Helena, porém, não é a única atrás da relíquia. O cientista Voller (Mads Mikkelsen), um ex-nazista repatriado pelos Estados Unidos, busca a relíquia para voltar no tempo e devolver a glória aos nazistas.

Situar o filme no dia do pouso na Lua não parece ser por acidente. Ao trazer uma história sobre o ocaso da vida de seu protagonista a narrativa casa isso com uma espécie de ocaso do “sonho americano” ao trazer o último grande momento de hegemonia dos EUA antes do país embarcar na década de 70 e toda a instabilidade política e social que se seguiu com o fracasso do Vietnã, o escândalo Watergate, a ascensão de serial killers como Zodíaco e Charles Manson, entre outros eventos. É como se Indy representasse uma época de ouro que se perdeu, então ele não poderia viver outra aventura após esse período.

A ideia do governo dos EUA ter sido conivente com nazistas, repatriando alguns de seus cientistas e fazendo vista grossa para suas ideologias, permitindo eles ficassem dormentes para retornar em um momento oportuno poderia ser usada para pensar em como tudo isso desemboca na ascensão do reacionarismo atual, lembrando que essa inação foi um dos fatores que chocou o ovo da serpente que vive hoje. De maneira semelhante, o desejo de Voller em voltar ao passado e reconstruir a glória de outrora poderia ser usado para falar dos perigos da nostalgia e como as coisas precisam viver em seu tempo, algo que refletiria no próprio Indiana Jones, uma figura do passado que Hollywood insiste em não deixar em paz porque sabe que nossa nostalgia dá dinheiro.

Digo poderia porque uma vez que a trama deixa Nova Iorque para ser o tour global típico das aventuras de Indy e boa parte desses temas é deixada de lado para as perseguições e trapaças que estamos acostumados nesse tipo de história. Tudo bem que Mangold conduz bem a ação, mas não tem nada que já não vimos antes e fica a impressão que a jornada de Indy pediria uma aventura menos grandiosa e mais intimista, como o próprio Mangold fez em Logan. Ao ser obrigado a se conformar com a estrutura padrão de uma trama de aventura, o filme acaba deixando de lado suas ideias mais interessantes.

Harrison Ford continua ótimo como Indy, um personagem que ele demostra conhecer muito bem e ter apreço por interpretar. Ele vende bem a solidão e o arrependimento do herói por conta de tragédias recentes em seu passado ao mesmo tempo em que exibe o reconhecível charme cafajeste do arqueólogo. Ford também tem uma boa química com Phoebe Waller-Bridge, mas a personagem dela, seu humor e seu timing parecem pertencer a um filme completamente diferente. A impressão é que os diálogos de Helena foram reescritos quando Bridge entrou para o elenco e ninguém se deu ao trabalho de manter tudo consistente com o resto do filme. A subtrama envolvendo Helena e um criminoso marroquino é descartada tão rápida quanto é apresentada e não faz nenhuma diferença para a narrativa.

O principal problema de Helena, no entanto, é que ela está ali para simbolizar o senso de família de Indy, mas é alguém que acabamos de conhecer. Assim, todas as cenas entre ela e Jones, especialmente durante o clímax, que deveriam evocar uma forte conexão familiar, não tem o impacto que deveriam. Era para ter sido Marion (Karen Allen) ou Mutt (Shia Labeouf), que a Disney obviamente não trouxe de volta por conta das polêmicas envolvendo o ator. Quando Marion finalmente aparece nos momentos finais é quando temos algum senso de emoção genuína, ainda que a reconciliação entre eles não seja devidamente construída e aconteça porque a trama precise que ela aconteça por conta de uma conversa off camera entre Helena e Marion.

Indiana Jones e a Relíquia do Destino começa com boas ideias sobre a relação com o passado e a iconografia de seu herói, mas nunca aproveita o potencial dos conceitos que tenta desenvolver e prefere se acomodar em território mais familiar às aventuras de Indy.

 

Nota: 6/10


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