sexta-feira, 5 de maio de 2023

Crítica – O Exorcista do Papa

 

Análise Crítica – O Exorcista do Papa

Review – O Exorcista do Papa
Levemente baseado nos casos reais do padre Gabriele Amorth, cujos exorcismos já foram narrados por William Friedkin no péssimo documentário O Diabo e o Padre Amorth (2018), este O Exorcista do Papa não faz muito além de repetir os lugares comuns que já vimos em outros filmes de exorcismo. A narrativa se passa na década de 80 e leva o padre Amorth (Russell Crowe) até a Espanha para investigar a possível possessão de uma família que vive próxima a uma igreja em reforma. Lá Amorth encontra a pior ameaça sobrenatural que encontrou até então.

Não tem nada aqui que já não tenhamos visto antes em produções similares. Possuídos mutilam o próprio corpo, gritam profanidades, testam a fé dos envolvidos, se contorcem em posições humanamente impossível e arremessam coisas com o poder da mente. Temos também um padre em crise por conta de erros do passado e o demônio que possui a família irá tentar explorar essa fraqueza para se alimentar das dúvidas do protagonista. Russell Crowe tenta dar alguma personalidade a Amorth, com seu jeito desafiador que tenta tirar o próprio demônio do sério, mas o ator esbarra em um texto que não lhe dá muito além de uma série de clichês.

Durante a primeira metade da projeção é um filme correto, ainda que nada memorável, podendo até agradar os fãs do gênero. O problema é quando acontece uma reviravolta lá pela metade, quando o padre Amorth descobre catacumbas ocultas na igreja espanhola que serviam como prisão para centenas de demônios que foram liberados quando a reforma quebrou uma das paredes. Se até então a narrativa era calcada em algum senso de realismo, no sentido que experimentávamos um universo bem análogo ao mundo real e a ação do sobrenatural era relativamente limitada, essa reviravolta muda o escopo da trama que mais soa como algo saído de uma história do Hellboy, do John Constantine ou os suspenses de conspiração do Dan Brown do que algo próximo ao que o filme vinha apresentando até então.

A reviravolta também insere algumas ideias problemáticas, como a noção de que a inquisição espanhola teria acontecido por influência de demônios, tirando da igreja toda a responsabilidade pelo genocídio cometido nesse período. É uma solução covarde, que varre para debaixo do tapete o lado sombrio da igreja católica para poder pintá-los como heróis para o espectador com mais facilidade. Seria mais interessante confrontar esses erros do passado e explorar a moral questionável da instituição do que esse desenvolvimento simplório.

O final entra ainda mais no terreno de filmes de super-heróis, com Amorth e o padre Esquibel (Daniel Zovatto) se unindo para criar uma unidade de exorcistas no Vaticano para buscar os outros 199 demônios que teriam escapado das catacumbas espanholas. A intenção parece ser criar todo um universo de continuações e derivados centrados na figura de Amorth, uma espécie de Vingadores do exorcismo, em mais um péssimo exemplar da tendência hollywoodiana de querer transformar qualquer propriedade em um grande universo compartilhado se revelando como um produto cínico que não mira em muito mais do que sinergia corporativa. Ao invés de se concentrar em fazer um filme que envolva a sua audiência a produção comete o equívoco de achar que é a promessa de mais histórias que vai tornar essa produção interessante para seu público.

Com uma trama que amplia tanto seu escopo ao ponto de ficar ridículo e uma construção de terror que não tem nada digno de nota, O Exorcista do Papa é possuído pelos pecados da preguiça e da ganância corporativa.

 

Nota: 4/10


Trailer


Nenhum comentário: