segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Crítica – Babilônia

 

Análise Crítica – Babilônia

Review – Babilônia
Dirigido por Damien Chazelle (de Whiplash e La La Land) Babilônia é praticamente uma versão “para maiores” de Cantando na Chuva (1952). Conta a história do período de transição entre o cinema mudo e o cinema sonoro, mas ao contrário do musical estrelado por Gene Kelly explora toda a devassidão e vida de excessos da Hollywood de outrora.

A narrativa acompanha três pessoas que estão tentando vencer em Hollywood no final da década de 1920. Manny (Diego Calva) é um imigrante mexicano que trabalha como faz-tudo para um figurão da indústria e sonha em ser produtor. Nellie (Margot Robbie) é uma jovem recém chegada do interior que espera se tornar uma grande estrela, enquanto que Jack (Brad Pitt) é um astro já estabelecido. O cotidiano do trio em Hollywood mudará radicalmente quando os filmes sonoros passam a ser norma e eles lutam em se adaptar.

A primeira hora retrata muito bom a opulência da indústria do cinema, com festas grandiloquentes e hedonistas nas quais tudo é possível. Do mesmo modo, o ritmo da produção de filmes mudos, onde não havia a preocupação com diálogos ou condições de captação de som é um frenesi industrial que nunca para e tudo está em movimento o tempo todo. O modo como Chazelle capta essa energia caótica que queima como uma chama perto de se extinguir é o principal mérito do filme.

Uma vez que a mudança para o sonoro chega, a trama não tem muito a dizer que não tenha sido dito antes, inclusive com situações e diálogos que soam diretamente tirados de Cantando Na Chuva (que é explicitamente citado na cena final) ao ponto em que me pergunto o porquê de se fazer isso. Nunca é uma boa decisão lembrar a audiência de um filme melhor que eles preferiam estar assistindo do que o seu. Eu sei que a narrativa tenta amarrar os eventos do filme com o eventual lançamento de Cantando Na Chuva, mas são momentos tão similares e acrescentam muito pouco ao que já foi dito. Incomoda que ao longo de desnecessárias três horas o filme não tenha nada de novo a dizer sobre esses temas ou sobre seus personagens e apenas recicle o que já foi feito.

Os arcos de sua trinca de protagonistas são tão previsíveis e simples que me pergunto porque estender tanto a narrativa, que parece andar em círculos em sua metade final. O filme tenta transitar entre o drama e a comédia, no entanto, esse diálogo nem sempre funciona, sendo estranho sair de um momento de introspecção de um personagem para uma cena de completa escatologia como o momento em que Nellie vomita em cima de convidados de uma festa em algo que mais parece saído de O Pestinha 2 (1991). Ao invés de dialogar com as ideias do filme sobre um mundo de excesso e o ocaso de um momento do cinema, essas variações abruptas de tom criam um senso de inconsistência, de um filme que quer ser várias coisas ao mesmo sem fazer nenhuma plenamente bem.

É curioso, inclusive, que apesar dos excessos e diferentes estilos que remetem a cineastas como Baz Luhrmann (na festa inicial) ou David Lynch (na cena subterrânea envolvendo o gângster interpretado por Tobey Maguire) é justamente nos momentos mais quietos que o filme encontra sua força dramática. Um exemplo é a cena entre Conrad e a fofoqueira Elinor (Jean Smart), na qual eles conversam sobre vida, morte e legado artístico, lembrando sobre como a arte permanece mesmo décadas depois da morte do arte. Outro momento particularmente eficiente é a cena final em que Manny chora ao assistir Cantando na Chuva nos cinemas, lembrando da própria trajetória enquanto a montagem insere filmes de diferentes épocas.

A cena nos lembra como, de certa forma, o cinema sempre está morrendo e também sempre nasce de novo. Que essa morte não significa esquecimento e que esses legados, ainda que pareçam morrer, sempre viverão nas memórias e afetos das pessoas e servirão para a construção de novos cânones. A morte do cinema mudo não nos fez esquecer de Buster Keaton, por exemplo, apesar da carreira ter também morrido durante a passagem o advento do som. O filme entende que Hollywood é uma máquina de moer pessoas e sonhos, mas também é o espaço que permite criar algo que pode viver para sempre. É uma pena, porém, que essas ideias sejam transmitidas em uma trama tão superficial e inconsistente que poderia ser melhor se fosse ou filme mais curto ou expandida como minissérie.

Babilônia tenta falar sobre morte de um estilo de vida e da permanência do cinema, mas se perde em uma trama desnecessariamente longa e redundante.

 

Nota: 5/10


Trailer

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