segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Crítica – Decisão de Partir

 

Análise Crítica – Decisão de Partir

Review – Decisão de Partir
Filme mais recente do diretor sul-coreano Park Chan-wook, Decisão de Partir flerta com o noir e com um clima de suspense hitchcockiano. Apesar da trama investigativa que inicia a narrativa, no entanto, ele está mais interessado na relação entre seus protagonistas do que na resolução do crime.

O detetive Hae-joon (Park Hae-il) é incumbido de investigar a morte de um sujeito que supostamente caiu do alto de um morro. Parece ser acidente, mas há indícios de que possa ter sido assassinato. A principal suspeita é a esposa do morto, Seo-rae (Tang Wei), que trabalha como cuidadora de idosos. A investigação coloca Hae-joon para monitorar Seo-rae de perto e logo os dois começam a se aproximar.

É, logicamente, uma relação fadada ao fracasso já que Seo é claramente culpada e a única maneira de Hae-joon mantê-la em segurança é se afastar dela e não continuar a investigação. Seo, no entanto, se apaixona pelo detetive e tenta encontrar maneiras de chamar sua atenção, incluindo outros assassinatos.

É curioso que as cenas de interrogatório mostrem mais a reação do outro ou a imagem dos dois protagonistas através telas de monitores que filmam as entrevistas, separando as falas dos corpos, nos mostrando reações ou olhares mediados para esses diálogos. É como se o filme sinalizasse ao espectador o jogo sutil entre essas duas pessoas que precisam flertar sem demonstrar diretamente interesse, exalar uma desejo sem parecer que estão fazendo isso. O discurso profissional de Hae-joon e a atitude de viúva enlutada de Seo-rae não correspondem ao que seus corpos de fato querem.

Muito da dinâmica cheia de sutilezas entre esses personagens vem também do desempenho dos atores. Eles constroem pessoas presas em cotidianos infelizes, Seo-rae pelo marido tóxico e exploração do trabalho, enquanto Hae-joon está preso em um casamento frígido no qual não tem nenhum interesse pela esposa, que se veem na infelicidade do outro. Os dois encontram um no outro uma abertura para falar o que não conseguiriam (ou não se fariam compreender) para mais ninguém.

Park Hae-il traz uma vulnerabilidade silenciosa a Hae-joon, como se ele tivesse se resignado a uma existência infeliz até conhecer Seo. Tang Wei, por sua vez, dá uma boa medida de ambiguidade a Seo-rae, tornando ela profundamente solitária e carente ao mesmo tempo que deixa evidente como a jovem é uma hábil manipuladora, nos deixando em dúvida durante boa parte da projeção se sua personagem é movida por um interesse genuíno no detetive e age por não querer se afastar dele ou se ela sente algum prazer em simplesmente manter controle sobre ele.

Aos poucos a fantasia de se completarem um no outro dá lugar à dura realidade que não podem ficar juntos sem se destruírem, como a areia da praia erodindo conforme as ondas quebram com a maré e afundando eles juntos. Uma metáfora visual que Park Chan-wook leva ao limite em seu melancólico clímax conforme os problemas se acumulam ao redor do casal. Ao invés de ponderar sobre a possibilidade do amor o filme se direciona a uma ponderação sobre a impossibilidade de continuar sem um desejo, sem um anseio que possa nos impelir.

Assim, Decisão de Partir se apresenta como um complexo suspense sobre desejo e a impossibilidade de concretização se valendo de uma direção elegante e protagonistas cheios de camadas.

 

Nota: 8/10


Trailer

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