segunda-feira, 18 de julho de 2022

Crítica – O Telefone Preto

 

Análise Crítica – O Telefone Preto

Review – O Telefone Preto
Dirigido por Scott Derrickson (responsável pelo primeiro Doutor Estranho) e produzido pela Blumhouse, O Telefone Preto é um competente conto de terror sobre sobrevivência e alcançar o próprio potencial. Em geral não costumo ficar atraído por essas histórias de pessoas em cativeiro, já que costumam ser tramas que se baseiam meramente na espetacularização do sofrimento de seus protagonistas. Aqui, no entanto, o texto consegue usar a situação para dizer algo sobre seus personagens.

Na trama, Finney (Mason Thames) é um garoto tímido, mas inseguro e pouco afeito a conflitos. Ele mora com a irmã mais nova Gwen (Madeleine McGraw) e ambos tem uma relação complicada com o violento pai, Terrence (Jeremy Davies). O fato de Finney sofrer bullying na escola e também ser agredido pelo pai só colabora para que ele seja ainda mais retraído.

O garoto acaba sendo levado por um misterioso sequestrador (Ethan Hawke), que vem abduzindo e matando crianças da cidade. No cativeiro Finney encontra um misterioso telefone preto na parede. O aparelho não funciona, mas Finney começa a receber ligações de outras crianças mortas pelo sequestrador e a partir das informações que obtém começa a tentar encontrar um meio de fugir.

A narrativa se desenvolve sem pressa, primeiro estabelecendo o cotidiano de violência e repressão no qual Finney navega até colocá-lo na situação do sequestro. A condução de Derrickson, que preza por tons dessaturados e uma paleta de cores tomada por marrons e cinzas consegue estabelecer uma atmosfera de solidão e frieza afetiva para o protagonista, cujo único relacionamento positivo é com a irmã mais nova.

Uma vez no cativeiro, o filme é hábil em criar uma atmosfera de tensão e urgência conforme Finney percebe que seu tempo ali está contado e seus planos de fuga, com a ajuda das misteriosas ligações, não dão frutos. Sim, é uma lógica narrativa relativamente previsível e não muito diferente de alguns outros produtos similares, entretanto é bem executado o suficiente para envolver. Muito da urgência vem também da performance de Ethan Hawke como o sequestrador. A narrativa não nos dá muita informação sobre o passado dele ou como ele ficou assim, mas o trabalho de Hawke não apenas dota o vilão de uma presença imponente, assustadora e imprevisível por conta da instabilidade mental do personagem, mas também nos permite ver vislumbres de vulnerabilidade como se ele também fosse fruto de um lar abusivo como Finney.

O garoto Mason Thames mostra aos poucos como a natureza assustada e insegura de Finney vai se fortalecendo a partir dos desafios que encontra no cativeiro e o garoto percebe, ouvindo os fracassos das vítimas anteriores através das ligações telefônicas, que só pode contar consigo mesmo para sobreviver. Quem rouba a cena, no entanto, é o trabalho de Madeleine McGraw. De certa forma sua personagem cai no tropo da “irmãzinha espertalhona” por conta de sua língua ferina, comentários ácidos e o fato dela tentar bater boca até mesmo com adultos. No entanto, McGraw é tão precisa em seu timing cômico, tão natural no modo como a garota transita entre o sarcasmo (um claro mecanismo de defesa), a tensão e o desespero que é difícil não se deixar levar pela personagem.

Os elementos sobrenaturais são usados com parcimônia no telefone ou nas visões de Gwen, evitando explicações plenas que tornem tudo previsível ou banal demais, mas situando o expectador o suficiente na lógica interna desses elementos para que não vire uma muleta para o roteiro fizer o que bem entende. A trama faz um claro paralelo entre o sequestrador e o pai violento de Finney, como que mostrando ao garoto que não importa onde ele vá, sempre haverão valentões tentando colocá-lo na posição de vítima e que ele precisa encontrar meios de resistir e superar essas dificuldades. É um lembrete de como a infância inevitavelmente nos impõe alguns traumas e a necessidade de enfrentá-los sob o perigo de sermos pegos em um círculo vicioso das mesmas situações nocivas.

Apesar de recorrer a uma estrutura narrativa bem comum e não desviar muito do que se espera, O Telefone Preto envolve pela construção eficiente da atmosfera de tensão e pela consistência dos atores principais.

 

Nota: 7/10


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