quarta-feira, 11 de maio de 2022

Crítica – O Homem do Norte

 

Análise Crítica – O Homem do Norte

Review – O Homem do Norte
Depois de explorar o folclore colonial dos Estados Unidos em A Bruxa (2015) e o folclore do mar em O Farol (2019), o diretor Robert Eggers mira seu interesse no folclore nórdico com este O Homem do Norte. É também o filme dele que mais se aproxima de uma sensibilidade mais comercial, embalando a narrativa como um grande épico hollywoodiano.

A trama é baseada no mito nórdico que inspirou William Shakespeare a escrever Hamlet. Se passa no século IX e acompanha o príncipe Amleth (Alexander Skarsgard), cujo pai, o rei Aurvandil (Ethan Hawke), é morto diante de seus olhos pelo tio Fjolnir (Claes Bang) quando o príncipe ainda era uma criança. Amleth foge, mas jura vingança e já adulto encontra o tio vivendo na Islândia e casado com sua mãe, a rainha Gudrun (Nicole Kidman). Se passando por escravo, ele passa a viver nas terras do tio enquanto espera o momento de atacar, mas aos poucos se aproxima da jovem Olga (Anya Taylor-Joy), que lhe dá outras razões para viver além da vingança.

Apesar da história envolver batalhas e conquistas, filmadas por Eggers com brutalidade e bastante violência gráfica, o interesse do diretor repousa mesmo na dimensão metafísica e espiritual da jornada de Amleth. Como em seus outros filmes, o foco está nos rituais, nas histórias e na cultura local como maneira de criar e mobilizar imaginários. O esforço é deixar o espectador imerso em um universo no qual deuses, profecias e bruxarias soam presentes em nosso cotidiano, moldando-o, afetando-o, e modificando a realidade ao redor dos personagens.

Nesse sentido, quem gosta dos filmes anteriores de Eggers certamente encontrará muito que apreciar aqui. Por outro lado, quem espera um épico mais tradicional provavelmente ficará decepcionado com o ritmo mais lento e cenas de ação mais espaçadas. O foco aqui é na atmosfera macabra que se forma ao redor desse embate metafísico de Amleth contra o próprio destino e as profecias construídas sobre ele desde criança. As cenas com bruxas e profetas trazem os visuais delirantes típicos da cinematografia de Eggers, como o ritual performado por Willem Dafoe no início ou a profecia declamada pela bruxa interpretada por Bjork.

Assim como em outros filmes de Eggers, a música é um componente importante na ambientação, sempre recorrendo a instrumentos e ritmos típicos da época retratada. As músicas com ritmos percussivos e vozes que parecem estar em transe ajudam a dar a impressão de deuses ou forças metafísicas estão constantemente sussurrando nos ouvidos dos personagens e moldando suas ações.

Alexander Skarsgard acaba limitado por um personagem preso ao padrão do herói estoico e silencioso, embora as cenas de ação sirvam para mostrar a força e fúria do príncipe. Melhor se sai Anya Taylor-Joy como uma ardilosa escrava capaz de manipular aqueles ao seu redor e também Nicole Kidman como uma dura rainha que aos poucos se revela mais algoz do que vítima.

O grande escopo da trama, querendo ser essa grandiosa história de vingança que se estende por um longo período de tempo, acaba prejudicando o ritmo em um miolo que soa arrastado conforme acompanhamos minuciosamente como Amleth vai sabotando os domínios do tio. É um segmento que se estende mais do que deveria e acaba soando redundante depois de um tempo, já que se limita a reproduzir as diferentes maneiras pelas quais o protagonista vai minando o tio. O filme poderia ter uns vinte minutos a menos.

Ainda assim, O Homem do Norte apresenta o tipo de conto folclórico sombrio que Robert Eggers sabe fazer tão bem, ainda que o escopo grandioso da trama nem sempre case perfeitamente com o tipo de cinema do diretor.

 

Nota: 7/10


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