quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Crítica – Cry Macho: O Caminho Para Redenção

 Análise Crítica – Cry Macho: O Caminho Para Redenção


Review – Cry Macho: O Caminho Para Redenção
É curioso que este Cry Macho: O Caminho Para Redenção seja simultaneamente muito arrastado, parando subitamente o desenvolvimento da trama principal e seus temas, e muito apressado ao levar seus personagens a conclusões que não soam plenamente construídas. O filme segue a tendência dos últimos anos da produção de Clint Eastwood em refletir sobre os Estados Unidos e sobre o imaginário do país, aqui especificamente ele pondera sobre ideais de “hombridade” e comunidade.

Na trama, Mike (Clint Eastwood) é um ex-peão de rodeio e criador de cavalos que aceita o pedido de um amigo, Howard (Dwight Yoakam), para ir até o México trazer de volta o filho dele, Rafo (Eduardo Minett), que vive sob a guarda da mãe alcoólatra. A jornada no México não é fácil, já que Rafo inicialmente não quer acompanhar Mike, a mãe do garoto coloca pessoas atrás deles e Howard parece ter motivos ocultos para querer o filho de volta.

Indicado pelo fato de Rafo ter um galo de briga chamado Macho, a relação entre Mike o garoto vai se construindo ao redor da ideia de representação de masculinidade. Para Rafo, ser valente, bruto e brigar são os atributos que envolver ser “macho”, são os elementos constitutivos de ser homem e desempenhar bem a função masculina na sociedade. Mike, aos poucos, vai mostrando ao garoto que nada disso faz um homem ou um vaqueiro, mas agir de maneira correta, sincera, cuidar da comunidade, estar em comunhão com o mundo a sua volta e com os próprios sentimentos, tudo é mais importante do que ser brabo ou qualquer outra coisa similar.

Nesse sentido, as reflexões soam como uma ponderação de Eastwood em relação à própria trajetória, tendo construído uma carreira em tipos como Dirty Harry cuja principal característica era ser bruto. Agora aos noventa anos, Eastwood demonstra ponderar as consequências de pensar desta maneira, algo que ele já tinha explorado (com mais consistência até) no ótimo Gran Torino (2008).

Ao mesmo tempo, a trama é também uma jornada para Mike reencontrar seu caminho. Sendo um viúvo solitário, o arco do personagem é de dar sentido a uma vida na qual já se perdeu aquilo que considerava mais importante. A questão é o arco de Rafo e o de Mike nem sempre convergem organicamente e muitas vezes a impressão é que uma trama para completamente para dar lugar à outra. Isso fica bastante evidente quando a fuga deles cessa para que ambos se escondam em uma pequena cidade mexicana e Mike começa a se aproximar de uma viúva local. Toda a urgência envolvendo a necessidade de trazer Rafo de volta e os capangas da mãe dele simplesmente são deixados de lado pela narrativa.

Essa parada brusca no fluxo da trama poderia servir para aprofundar mais aquilo que o filme construiu até aqui, no entanto, o efeito acaba sendo quase que o inverso, com a narrativa em círculos, repetindo as mesmas ideias. Claro, Clint Eastwood é ótimo como Mike, com sua voz áspera e maneirismos rígidos construindo o caubói como um sujeito que constantemente carrega consigo o peso de seus traumas e escolhas vida, no entanto, todo esse segmento do personagem na vila mexicana e interagindo com a comunidade soa muito rápido para justificar a decisão final do protagonista. A escolha de Mike em ficar no México não soa devidamente merecida ou construída, por isso que no início mencionei que o filme parecia simultaneamente arrastado e apressado.

Assim, apesar de trazer ponderações importantes sobre o modo como o cinema lida com masculinidade e uma boa interpretação de Clint Eastwood, Cry Macho: O Caminho Para Redenção não trata essas ideias com a mesma consistência de outras obras recentes de Eastwood, soando superficial no modo como apresenta o arco de seu protagonista.

 

Nota: 6/10


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