quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Crítica – The White Lotus

 

Análise Crítica – The White Lotus

Parte história criminal, parte sátira social, o que mais atrai na série The White Lotus é o senso de humor ácido com o qual o roteirista e diretor Mike White observa as tensões de classe social que emergem em um resort de luxo no Havaí. Filmado em 2020 durante a pandemia, o elenco e equipe ficaram isolados no hotel que serviu de locação para a trama (que estava fechado e sem hóspedes por conta da pandemia) e assim foi possível fazer tudo com alguma segurança.

A trama segue um grupo de hóspedes de classe alta em um resort luxuoso no Havaí e as tensões que emergem entre eles e principalmente das interações entre hóspedes e funcionários do local. O casal em lua de mel Shane (Jake Lacy) e Rachel (Alexandra Daddario) não recebe a suíte que reservaram e Shane começa a atormentar o gerente do hotel, Armond (Murray Bartlett). A ricaça Tanya (Jennifer Coolidge) chega à ilha marcada pelo luto e disposta a despejar as cinzas da mãe no oceano, mas se apega aos conselhos e tratamentos de Belinda (Natasha Rothwell), dedicada massoterapeuta do hotel. Ao mesmo tempo, Armand tem que lidar com os caprichos de outros hóspedes ricos, o que coloca a estabilidade emocional e mental do gerente em xeque.

É uma trama sobre o frágil verniz de civilidade do qual nos revestimos e como facilmente abandonamos essa civilidade quando algo nos incomoda, principalmente quando se é rico e não há consequência para seus atos. Praticamente todos os núcleos de personagem envolvem conflitos de classe e alguém se dando conta que aquilo que separa ricos e pobres é muito mais acentuado do que imaginamos.

Rachel, por exemplo, vai aos poucos se dando conta de que casou com um homem imaturo e fútil que a vê apenas como um bibelô, uma “esposa-troféu” para ele carregar a tiracolo. Paula (Brittany O’Grady) tem uma relação conflituosa com a rica melhor amiga Olivia (Sydney Sweeney), que se dão bem desde que Paula não consiga algo que Olivia não tem, como se Olivia não admitisse que a amiga, alguém de uma classe inferior, pudesse ter algo e ela não. Já Tanya claramente se apega a Belinda pelo fato da massoterapeuta fazê-la se sentir bem e que todo o interesse que Tanya demonstra em ajudar financeiramente Belinda não passa dela achando que pode comprar a amizade de alguém com dinheiro e falsas esperanças.

Aos poucos as tensões entre esses personagens vão se ampliando e ganhando contornos cada vez mais absurdos, como a disputa de egos entre Armand e Shane, que leva ambos a condutas cada vez mais bizarras. O casamento morno de Mark (Steve Zahn) e Nicole (Connie Britton) perpassa pelo fato de Mark se sentir emasculado pela esposa ser mais rica e bem sucedida que ele, com a descoberta que o pai de Mark era um gay enrustido que morreu de AIDS fazendo o sujeito questionar ainda mais a relação com a esposa e até a própria sexualidade.

Pode até ser um pouco lento em termos de progressão de trama, no entanto, são desenvolvimentos que fazem sentido dentro dos temas, divertem pelo absurdo e refletem sobre a natureza dos privilégios de classe. Os diferentes arcos mostram como os ricos sempre conseguem o que querem enquanto que os mais pobres são obrigados a catar os cacos das consequências.

Paula, por exemplo, aprende que a mera presença dela ao lado da família de Olívia a reveste de um privilégio de classe, conforme ela tenta ajudar Kai (Kekoa Kekumano), um funcionário do hotel, a roubar as joias da mãe de Olivia para pagar dívidas e apenas Kai sofre as consequências quando o roubo da errado. Belinda aprende que ricos só se interessam por alguém como ela na medida em que é útil para eles, sendo descartada por Tanya e tendo os sonhos destruídos assim que a ricaça encontra outra pessoa para suprir sua carência emocional. Rachel percebe que não pode habitar o mundo de Shane a menos que seja nos termos dele, sendo obrigada a escolher entre o vazio de uma vida de dondoca ou a realidade de ter que largar tudo e recomeçar a carreira do zero.

Graças ao seu conjunto de personagens excêntricos e ao olhar afiado de Mike White,  The White Lotus funciona como um mordaz estudo de relações de classe e como tudo isso, no fim das contas, mostra o quanto somos patéticos.

 

Nota: 8/10


Trailer

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