segunda-feira, 19 de julho de 2021

Crítica – Eu Nunca..: 2ª Temporada

 

Análise Crítica – Eu Nunca..: 2ª Temporada

Review – Eu Nunca..: 2ª Temporada
A primeira temporada de Eu Nunca... foi uma grata surpresa. Apesar de não sair do tipo de histórias que normalmente encontramos em comédias adolescentes, a trama envolvia pela complexidade de suas personagens, que evitavam os clichês do gênero, e o modo como conseguia observar a conduta de sua protagonista sem romantizá-la ou reduzi-la a uma mocinha sofrida.

Esse segundo ano começa no ponto em que o anterior acabou, com Devi (Maitreyi Ramakrishnan) beijando Ben (Jaren Lewison) depois de jogar as cinzas do pai no mar. Agora, tendo conquistado tanto Ben quanto o garoto popular Paxton (Darren Barnet), Devi precisa tomar uma decisão quanto a quem quer ficar, mas a personalidade impetuosa da garota a faz tentar ficar com os dois ao mesmo tempo, o que, obviamente, tem tudo para dar errado.

Mais uma vez é o tipo de trama que é extremamente comum em histórias sobre adolescentes colegiais nos Estados Unidos, mas tudo é conduzido com uma personalidade tão singular e com uma riqueza no desenvolvimento dessas personagens que é difícil resistir a eles. Há um senso palpável de consequência para as ações de Devi, que causam problemas para ela mesma e as pessoas ao seu redor.

Além dos problemas envolvendo os garotos em sua vida, Devi também lida com a chegada de Aneesa (Megan Suri) uma nova garota indiana na escola que é mais descolada que ela. Com medo de perder a única coisa que a faz se destacar entre os demais, Devi tenta sabotar Aneesa na escola e quando percebe que tem mais em comum com ela do que pensava, já é tarde demais.

Como na primeira temporada, a jornada de Devi é dotada de uma grande sinceridade emocional combinada com puro absurdo cômico (a narração do ex-tenista Joe McEnroe segue divertidíssima). Entendemos as inseguranças e dores que movem a garota a agir de maneiras que lhe causam arrependimento depois sem, no entanto, considerar que isso diminui a gravidade das escolhas que ela faz ao mesmo tempo que o texto nunca a reduz a uma doida ou a alguém maligna. Ela é uma garota tentando encontrar seu lugar no mundo, tentando melhorar mesmo sem saber exatamente como e é isso que a torna fascinante e um retrato tão sincero da confusão emocional da adolescência.

Essa complexidade está presente nos outros personagens, como Paxton, que tenta se redescobrir depois que um acidente o faz se afastar do esporte e teme ser visto só como um bonitão idiota agora que não é atleta. De maneira semelhante, Fabiola (Lee Rodriguez) agora que se assumiu lésbica e está em um relacionamento quer se integrar a comunidade queer embora perceba que nem todos os seus interesses cabem nesse novo grupo em que tenta se integrar. Nalini (Poorna Jagannathan), a mãe de Devi, vislumbra a possibilidade de um novo relacionamento com o colega de profissão Jackson (Common), mas se pergunta se não é cedo demais para isso.

A temporada ainda encontra espaço para tratar de temas sérios como anorexia, relacionamentos abusivos ou o tratamento dado aos imigrantes. A relação entre Eleanor (Ramona Young) e um pedante astro mirim mostra como alguém que inicialmente parece apenas excêntrico pode enredar uma pessoa para um relacionamento alienante e tóxico. A trama que envolve Paxton descobrindo as experiências do avô em um campo de prisioneiros nos EUA revela como a relação do país com os imigrantes mudou pouco ao longo do último século.

Com muito humor e afeto, a segunda temporada de Eu Nunca... continua uma delícia de assistir graças ao cuidado com seus personagens e a complexidade de sua protagonistas.

 

Nota: 8/10


Trailer

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