terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Crítica – Por Que as Mulheres Matam

 Análise Crítica – Por Que as Mulheres Matam


Review – Por Que as Mulheres Matam
Fui assistir a série Por Que as Mulheres Matam sem saber muito o que esperar, mas o que encontrei foi uma deliciosa comédia sombria que subverte diversas romantizações sobre a vida familiar e o papel da mulher na sociedade. Na verdade, um dos principais méritos da série é o modo como constantemente consegue surpreender e nos levar a caminhos inesperados.

A série se pretende como uma antologia e a primeira temporada conta três histórias que acontecem em uma mesma mansão em épocas diferentes. A primeira história se passa na década de 60, com Beth Ann (Ginnifer Goodwin) sendo uma esposa dedicada que descobre uma traição do marido, Rob (Sam Jaeger). A segunda história se passa nos anos 80 e acompanha Simone (Lucy Liu), que descobre que o marido, Karl (Jack Davenport), é gay. Frustrada, Simone começa a ter um caso com um jovem da vizinhança, Tommy (Leo Howard). Já a terceira história se passa nos dias atuais sendo centrada no casal Taylor (Kirby Howell-Baptiste) e Eli (Reid Scott), que vivem um casamento aberto. A dinâmica deles muda depois que Taylor leva para casa uma de suas amantes, Jade (Alexandra Daddario), depois de Jade ser ameaçada por um ex-namorado violento.

Além de se passarem na mesma casa, o que conecta as três histórias são as desventuras amorosas das mulheres que protagonizam cada um dos arcos e também como cada história coloca seus personagens para viverem em uma vida que seria considerada ideal ou mais almejada na época. Beth e Rob passam a imagem de um idílico casal suburbano, com Beth sendo a esposa dedicada que espera o marido chegar do trabalho já com o jantar pronto e um drink na mão para oferecer a ele. Simone é uma chique filantropa que sempre está bem vestida e leva uma vida de glamour e ostentação. Já Taylor é uma advogada ligada a causas sociais e feminismo, vive um casamento aberto com o marido que lhe permite experimenta livremente sua bissexualidade, possuindo uma existência na qual tenta desconstruir preconceitos o tempo todo.

É claro que nenhuma delas realmente vive dentro do ideal que tentam incorporar e ao longo da temporada vão descobrindo o lado sombrio da realidade que vivem. Beth vai percebendo que o marido não é o cônjuge dedicado e trabalhador que imaginava, despertando aos poucos para o fato dele ser manipulador e praticar gaslighting com ela, principalmente em relação ao traumático falecimento da filha deles.

Ao decidir se manter ao lado de Karl mesmo sabendo que ele é gay, Simone vê as pessoas ao seu redor se voltarem contra ela, descobrindo que aquela sociedade de ricos filantropos é muito mais mesquinha e preconceituosa do que imaginava. Já Taylor percebe que tentar formar um “trisal” para salvar o casamento em crise é muito mais complicado do que imaginava, principalmente quando sentimentos entram em jogo e Jade se aproxima demais de Eli.

Tudo é conduzido com um senso de humor carregado de ironia, um clima de “a vida pode ser mais estranha que a ficção” que torna divertido os desencontros absurdos que movem muitas das crises com as quais esses personagens se defrontam. Há sempre um comentário sarcástico ou uma resposta afiada na ponta língua de cada um e o timing do elenco é certeiro em fazer todo o humor ácido funcionar. Além disso, o texto acerta na dubiedade de seus personagens, sempre nos deixando em dúvida quanto a real natureza daquelas pessoas ou as reais intenções delas.

O único problema fica no clímax da trama de Taylor, já que a reviravolta envolvendo Jade a reduz a uma psicopata genérica, longa da ambiguidade dos demais personagens da série. Seria mais interessante se a conduta de Jade fosse motivada pela insegurança e complexo de abandono da personagem, que a faz desesperadamente tentar criar e manter as conexões afetivas ao seu redor do que ela ser uma manipuladora psicótica sem escrúpulo.

Mesmo assim, Por Que As Mulheres Matam é uma deliciosa antologia carregada de humor sombrio sobre a experiência de ser mulher nos Estados Unidos.

 

Nota: 8/10


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