quarta-feira, 29 de julho de 2020

Crítica – Cursed: A Lenda do Lago

Análise Crítica – Cursed: A Lenda do Lago

Review – Cursed: A Lenda do Lago
As histórias sobre o Rei Arthur, a espada Excalibur e outros elementos de sua mitologia já foram contadas e recontadas inúmeras vezes sob diferentes perspectivas. Este Cursed: A Lenda do Lago tenta olhar a lenda arturiana sob a perspectiva feminina, algo que não é exatamente novidade, já que As Brumas de Avalon (tanto o livro quanto a minissérie) fizeram isso décadas atrás. Baseado em um romance escrito por Tom Wheeler e Frank Miller, este Cursed: A Lenda do Lago tenta recontar as origens dos personagens arturianos centrando sua história em Nimue, que posteriormente se tornaria A Dama do Lago, figura que guardaria a Excalibur a espera do eterno e futuro rei bretão.

Na série, Nimue (Katherine Langford) é uma jovem ligada ao povo feérico (uma denominação geral para seres mágicos) que é treinada pela mãe para se tornar a próxima sacerdotisa de seu povo por conta de sua afinidade com o oculto. Nimue, no entanto, rejeita os desígnios da mãe e as habilidades que tem. Tudo muda quando paladinos vermelhos da igreja invadem sua vila e atacam os habitantes. Nimue recebe a mítica espada de seu povo das mãos de sua mãe, que a orienta a entregar o artefato para Merlin (Gustaf Skarsgard). Ao longo de sua jornada Nimue encontrará aliados como um jovem ladrão chamado Arthur (Devon Terrell).

O arco de Nimue é uma típica jornada de herói, com o chamado a aventura, a relutância da heroína, obstáculos a serem superados e tudo mais. Langford, no entanto, convence da dor de Nimue pela perda do seu povo, do temor que tem em dar vazão aos próprios poderes e as dúvidas sobre sua capacidade de salvar os feéricos da perseguição da igreja. Outro destaque da temporada é o Merlin de Gustaf Skarsgard que dá ao famoso mago uma personalidade excêntrica, astuta e atormentada, alguém que sente em si o peso dos longos anos que viveu e das decisões que tomou, cujo alcoolismo é uma maneira de silenciar os pesares e arrependimentos. Seu tempo de vida também lhe dá experiência suficiente para saber lidar com pessoas e fazê-las seguir seus propósitos.

Por outro lado alguns coadjuvantes deixam a desejar. Falta a Devon Terrell carisma, charme e presença como o jovem Arthur, que nunca convence do papel de líder que ele pode desempenhar no futuro. Mesmo em cenas em que ele deveria mostrar intensidade, como quando confessa à irmã a vida difícil que teve, o resultado é mais apático do que envolvente. Não ajuda que o texto conduza todo o romance entre Arthur e Nimue como um filme de romance adolescente cuja pieguice destoa tom mais sério e sombrio do resto da trama.

Uther Pendragon (Sebastian Armesto), por sua vez, nunca convence como antagonista. Sempre fazendo caretas e beicinho, o rei britânico soa mais irritante do que ameaçador. Sim, eu sei que a intenção é que ele fosse um idiota mimado, mas ainda assim deveria ser um tolo mimado que evocasse algum perigo (pensem no Joffrey de Game of Thrones). Felizmente Peter Mullan traz gravidade e fervor religioso suficiente para seu Padre Carden, o líder dos paladinos vermelhos, para funcionar como ameaça crível.

A trama tem alguns problemas no fluxo de sua progressão, com muitos episódios girando em torno de Nimue perdendo ou tendo a espada roubada, precisando recuperá-la, ou com os personagens parados, escondidos em algum lugar sendo que muito pouco acontece. Outro problema é que alguns elementos da mitologia do universo não são trabalhados com muita clareza. Mais de uma vez é falado sobre a força corruptora da espada, mas o roteiro é inconsistente em deixar claro se é uma corrupção causada pelas forças místicas do artefato (como se fosse o Um Anel) ou se é simplesmente a corrupção pelo poder que ela representa.

O texto também abusa do recurso de ocultar o nome de um personagem apenas para revelar posteriormente que essa pessoa é alguém importante da mitologia arturiana. Lá pela segunda vez que isso acontece o recurso se torna previsível e eu consegui antever todas as revelações do final, já que praticamente qualquer um que não tenha seu nome dito será posteriormente revelado como alguém importante das tramas arturianas. A maioria dessas ocultações sequer faz sentido narrativamente, com os nomes camuflados só para produzir uma breve surpresa no espectador quando é revelado quem ele é de verdade, sendo que saber o nome dessas pessoas de antemão não mudaria praticamente nada.

A ação chama a atenção pela violência, que serve principalmente para mostrar o poder dos personagens, em especial como Nimue retalha com facilidade seus inimigos usando a espada de seu povo (o nome Excalibur nunca é usado). A produção em geral é competente construção dos ambientes de fantasia medieval. Não chega ao nível de qualidade visual de algo como Game of Thrones ou mesmo The Witcher, mas também não soa artificial como as produções de alguns canais a cabo. 

Apesar do esforço e carisma de Katherine Langford, Cursed: A Lenda do Lago se perde em uma narrativa arrastada, coadjuvantes desinteressantes e a repetição cansativa de certos dispositivos dramatúrgicos.

 

Nota: 5/10

 

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