terça-feira, 16 de junho de 2020

Crítica – Superman: Entre a Foice e o Martelo


Análise Crítica – Superman: Entre a Foice e o Martelo

Review – Superman: Entre a Foice e o MarteloLançado em 2003 para o selo Elsewords da DC, que contava histórias de seus super-heróis em universos paralelos, Superman: Entre a Foice e o Martelo imaginava o que teria acontecido se Kal-el tivesse caído na União Soviética ao invés de nos Estados Unidos. O resultado da obra de Mark Millar era uma das melhores histórias do personagem, que mostrava um amplo entendimento do que tornava o Superman tão singular ao mesmo tempo em que celebrava seu legado. Pois agora a Warner decidiu adaptar a história neste longa animado Superman: Entre a Foice e o Martelo e o resultado é quase tão bom quanto o material original.

Na trama, depois de ser revelado ao mundo, a existência do Superman soviético amplia ainda mais as tensões da Guerra Fria e os temores dos Estados Unidos com a expansão soviética. Para tentar conter a ameaça, o governo dos EUA recorre à sua mente mais brilhante: Lex Luthor. A partir de então acompanhamos as décadas de rivalidades entre as duas potências mundiais a partir da rivalidade entre Lex e o Superman.

É uma trama que poderia cair fácil no maniqueísmo e em uma crítica unilateral ao capitalismo ou ao socialismo, mas, tal qual o texto original da Mark Millar, o roteiro aqui evita simplificações grosseiras de sistemas políticos e econômicos que são bastante complexos. Compreendemos os benefícios de uma nação sem desigualdades sociais ao mesmo tempo em que tememos a perda de liberdades individuais. Do mesmo modo, entendemos a importância da abertura política e econômica, mas reconhecemos que a distribuição de poder e recursos é extremamente desigual no capitalismo.

Essa complexidade também se verifica nos personagens, não concebendo Lex ou o Superman como mocinhos ou bandidos completamente. Sim, Lex é o mesmo misantropo arrogante ególatra que conhecemos, mas aqui ele possui um interesse genuíno em melhorar a vida a vida das pessoas, ainda que faça isso para satisfazer a própria vaidade. O Superman tem o mesmo instinto de proteger as pessoas que já conhecemos, mas aqui seus métodos são questionáveis, como fazer lavagem cerebral em seus opositores, ainda que suas motivações sejam moralmente justas e compreensíveis. A Mulher Maravilha talvez seja a mais próxima de uma heroína propriamente dita, desejando um mundo livre de conflito, mas se desencantando com a facilidade com a qual os homens tem seus ideais corrompidos.

Como a minutagem é relativamente curta, com um pouco menos de noventa minutos de duração, é compreensível que alguns elementos não tenham o devido desenvolvimento como tinham nos quadrinhos, a exemplo do Batman soviético, cujo passado nunca é mencionado aqui. São concessões compreensíveis em termos de adaptação e que não chegam a tirar completamente o impacto de muitos momentos. Na verdade, o texto é, em geral, um trabalho bem hábil de adaptação, fazendo funcionar a maioria das alterações.

O que não funciona é justamente o final, que abandona muito da complexidade do material até então e a celebração ao legado e mitologia do Superman contidas no quadrinho do Mark Millar em prol de uma resolução fácil e rápida que falha em causar muito impacto. O desfecho pega todos os riscos que o material correu até então e entrega um maniqueísmo que não se adequa a tudo que foi desenvolvido até aqui.

No geral, Superman: Entre a Foice e o Martelo é uma competente adaptação do quadrinho do Mark Millar, ainda que derrape na construção do final.

Nota: 7/10


Trailer

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