quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Crítica – O Preço da Verdade


Análise Crítica – O Preço da Verdade


Review – O Preço da Verdade
O diretor Todd Haynes se tornou conhecido por seus dramas sentimentais e filmes que experimentam com a linguagem audiovisual. Este O Preço da Verdade não exibe nenhuma dessas características, focando mais na denúncia em si de um caso de abuso de poder e negligência com impactos no mundo inteiro. O foco está mais na construção da retórica do que no estilo e, para o filme que se pretende, são esforços bem sucedidos.

A trama é baseada na história real do advogado Rob Billot (Mark Ruffalo), que trabalhava com direito corporativo atendendo empresas da indústria química. Um dia ele é procurado em seu escritório por um fazendeiro de sua cidade natal. O trabalhador rural suspeita de alguma contaminação na água de suas terras por parte de um aterro da indústria química DuPont e quando Rob começa a investigar, descobre um caso severo de negligência e contaminação.

Não é a primeira vez que o cinema conta a história de Rob, o documentário The Devil We Know (2018) já tinha narrado a luta do advogado e a negligência da indústria química em alertar sobre os riscos do composto químico usado na produção do teflon. O Preço da Verdade também se encaixa na tradição liberal do cinema hollywoodiano em mostrar histórias sobre um homem comum indo contra grandes empresas ou o governo para mostrar como uma pessoa pode fazer a diferença e que cabe a cada indivíduo lutar pelo que é certo.

Filmes, tanto baseados em eventos reais quanto completamente ficcionais, dessa natureza são uma constante, como Filadélfia (1993), O Homem Que Fazia Chover (1997), Erin Brockovich (2000) ou O Júri (2003) tentam nos lembrar que todos tem direito ao seu dia no tribunal e que a lei tende a prevalecer diante de abusos. O Preço da Verdade não reinventa esse tipo de narrativa, mas é competente na construção da linha do tempo do caso, argumentando como a DuPont envenenou uma cidade inteira e achou que poderia sair impune.

Há um senso de temor que permeia toda a trama e isso não acontece exatamente pelo fato de que a DuPont pode destruir a carreira de Rob ou na maneira que as testemunhas são intimidadas. A fonte desse temor é o sentimento de que nada vai ser capaz de reparar a contaminação em escala global e que mesmo punindo as empresas, elas continuarão com essas práticas sem escrúpulos e negligentes. Afinal, essa nem de longe é a primeira vez que algo assim acontece. Erin Brockovich (2000) mostrou como uma cidade inteira foi envenenada com cromo-6 e a empresa responsável tentou convencer a todos de que não havia risco. Durante a primeira metade do século XX empresas do ramo tentaram convencer o mundo inteiro de que materiais como chumbo ou amianto também não posavam riscos de contaminação.

O que O Preço da Verdade nos mostra é que a história de abusos das grandes indústrias continua a se repetir como tragédia e farsa e certamente continuará a ocorrer. São empresas tão grande, com tanto dinheiro e poder acumulados que pagar indenizações de meio bilhão de dólares mal causa estrago em suas finanças e ter esse nível de capital e influência torna fácil que eles continuem a fazer as mesmas práticas, considerando o quanto as consequências são pequenas para eles.

Por outro lado, a trama pesa a mão quando tenta colocar os personagens em situações diretas de perigo. Um exemplo é a cena em que Rob teme em ligar o carro. Como nada até aquele momento dava indicação que os adversários do advogado chegariam ao extremo de botar uma bomba em um carro (embora tenhamos visto outras tentativas de intimidação) toda a cena soa forçada, como que colocada ali apenas numa tentativa de manter o espectador atento.

Mark Ruffalo é ótimo em nos apresentar a natureza correta e obstinada de Rob, bem como em construir as maneiras como o estresse e a pressão do caso afetam a vida e a saúde do personagem. Já Anne Hathaway acaba sendo desperdiçada como Sarah. É o típico papel da esposa que não tem nada a fazer além de gravitar em torno do marido e só para que ela não fique como uma figura completamente passiva é dada a ela um grande momento dramático em que ela faz um discurso que coloca alguém em seu devido lugar, algo que aconteceu com Sarah Paulson em The Post: A Guerra Secreta (2017) ou com Claire Foy em O Primeiro Homem (2018). Enquanto isso Tim Robbins faz do chefe de Rob alguém que parece ser só mais um advogado corporativo, mas que exibe uma forte bússola moral, sem medo de arriscar a própria empresa para fazer o que é certo.

O Preço da Verdade pode não fazer nada que outros dramas jurídicos não tenham feito, mas a força de sua denúncia o torna um filme que precisa ser visto.

Nota: 7/10


Trailer

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