segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Crítica – Ozark: 2ª Temporada

Análise Crítica – Ozark: 2ª Temporada


Review – Ozark: 2ª Temporada
Depois de um competente início, a segunda temporada de Ozark traz ainda mais tensão, suspense e dilemas morais para os esquemas criminosos da família Byrde. Cheguei a pensar que seria mais no mesmo, mas neste segundo ano, os membros da família enfrentam constantes desafios que os levam ao limite.

A temporada começa no ponto em que a anterior terminou, com Marty (Jason Bateman) tendo que explicar a morte de Del (Esai Morales) para o cartel depois que Jacob (Peter Mullan) e Darlene Snell (Lisa Emery) o matam por puro despeito. Marty se compromete em construir um cassino em seis meses para poder lavar tanto o dinheiro do cartel quanto o dos Snell. Aprovar o cassino, no entanto, não será tão fácil quanto parece, já que além de manipular políticos para passarem as leis necessárias, ele também precisará lidar com a máfia de Kansas City. Como se esses obstáculos não fossem o suficiente, Marty continua na mira do agente Petty (Jason Butler Harner), disposto a tudo para eliminar o cartel. Outra complicação é a saída do pai de Ruth (Julia Garner) da cadeia, já que ele se torna obcecado em roubar o dinheiro de Marty.

Desde sua estreia no ano passado, a série é comparada a Breaking Bad por também trazer um pai de família aparentemente pacato que recorre ao crime, mas eu diria que as similaridades são meramente superficiais. Enquanto Walter White (Bryan Cranston) buscava estabelecer dominância no submundo do tráfico, não hesitando em usar quem quer que fosse, Marty e Wendy (Laura Linney) estão apenas tentando sobreviver às ameaças que são o cartel e os Snell. Por mais que eles o casal tome ações deploráveis ao longo da série, eles não são nem de longe as piores dali, com Marty muitas vezes se esforçando para tentar conciliar conflitos ao invés de iniciá-los.

Na verdade, ao longo da temporada vemos como as consequências de todas as coisas horríveis começam a pesar na mente de alguém que ainda possui um relativo senso moral como Marty. Isso fica evidente principalmente após a morte de Mason (Michael Mosley). O crime e a violência são como um vírus, uma mácula que impregna aqueles personagens e se espalha por todos ao redor como uma infecção. Por mais que Marty tente, suas ações afetam negativamente seus filhos, Jonah (Skylar Gaetner) parece assustadoramente confortável com todas as trapaças de seus pais e constantemente se oferece para ajudar, enquanto que Charlotte (Sofia Hublitz) se sente cada vez mais sufocada pelo que acontece em casa.

A ideia de que o crime deixa uma marca indelével em todos ao seu redor também é vista no arco dramático da família Langmore. Wyatt (Charlie Tahan) se acha indigno de ir para faculdade por achar que sua família é de algum modo amaldiçoada e todos os seus parentes ou antepassados eram criminosos.

Seus sentimentos são postos para fora nas conversas imaginárias que tem com o falecido pai, a melhor delas é quando Wyatt lembra do pai tocando The Man Who Sold The World (“O Homem Que Vendeu o Mundo” em português) do David Bowie. Além da beleza melancólica que a performance da canção adiciona à cena, a canção não parece ter sido escolhida por acaso, com sua letra falando de um homem que perde o rumo depois de conhecer uma figura misteriosa. A canção dialoga com o arco de Russ (Marc Menchaca), o pai de Wyatt, na temporada anterior, já que sua inesperada relação com o agente Petty foi o que causou sua ruína. A música também funciona como uma síntese da série em si e da jornada de Marty, um homem que chega em uma nova cidade querendo comprar tudo e todos, prometendo fortunas, mas que só causa dor àqueles que aceitam seu dinheiro, como Mason ou Rachel (Jordana Spiro).

A mácula do crime também está presente na subtrama de Ruth envolvendo o retorno de seu abusivo pai, Cade (Trevor Long), por quem ela sente um misto de temor e respeito. A atriz Julia Garner é ótima em mostrar como Ruth tenta esconder seu medo com uma postura durona, nos dando sutis vislumbres de que por baixo de sua fachada de resiliência há uma garota assustada que sente o peso de ter que cuidar da família inteira e que luta consigo mesma para aceitar que eventualmente terá que enfrentar o pai.

Os dez episódios também são hábeis na construção do suspense, sempre nos dando a impressão que de que os Byrdes estão prestes a perder tudo e dos riscos que o não cumprimento de sua promessa para o cartel acarreta. Parte disso se deve à qualidade dos antagonistas, da natureza instável e imprevisível de Darlene Snell ao comportamento obcecado do agente Petty, os antagonistas se mostram oponentes dignos da família principal ao usarem ardis tão inteligentes quanto os da família principal, dando a impressão que os protagonistas sempre estão prestes a serem esmagados por forças maiores que eles.

Impressiona o quanto a trama consegue nos deixar tensos pelos personagens sem precisar muitas vezes recorrer à violência explícita (embora isso ocorra em alguns momentos) ou diálogos. É possível perceber isso quando Ruth é torturada pelo cartel, já que vemos muito pouco da tortura em si, mas ouvimos o som dos gemidos e vemos as reações dos personagens do lado de fora. Do mesmo modo, a caminhada dos Snell pela floresta em um dos últimos episódios da temporada tem um senso palpável de tensão sem que nenhum dos dois precise dizer nada, já que naquele ponto da trama sabemos que o casal chegou a um ponto em que suas diferenças são irreconciliáveis.

Essa segunda temporada de Ozark aprofunda seus personagens ao levá-los por caminhos ainda mais sombrios e confrontá-los com as consequências de suas ações.

Nota: 9/10

Trailer

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