quinta-feira, 5 de abril de 2018

Crítica - Crazy Ex-Girlfriend: 3ª Temporada


Análise Crítica - Crazy Ex-Girlfriend: 3ª Temporada


Review - Crazy Ex-Girlfriend: 3ª TemporadaA temporada anterior de Crazy Ex-Girlfriend terminava com a promessa de que o terceiro ano colocaria Rebecca (Rachel Bloom) para se vingar de Josh (Vincent Rodriguez III) por tê-la abandonado no altar. A trama desta terceira temporada começa praticamente no ponto em que a última acabou e seu começo funciona como uma espécie de paródia de filmes como Atração Fatal (1987) e Fixação (2002), mas não se limita a apenas fazer graça com esses clichês da "mulher louca e vingativa", usando essa trama de vingança para fazer Rebecca perceber seus reais problemas.

O percurso da vingança leva a protagonista a perceber que ela não amava realmente Josh e sim a ideia que fazia dele. Esse momento de virada a faz confrontar todos os excessos que cometeu em seus relacionamentos e como ela sempre colocou sua felicidade como dependente dessas relações idealizadas. É impressionante que apesar de todo o seu bom humor, a série não se furta em tratar com seriedade os aspectos mais sombrios da espiral de Rebecca ao fundo do poço, deixando clara a gravidade representada por sua tentativa de suicídio.

Seria fácil demais para uma série que é primordialmente uma comédia relativizar a depressão e conduta da personagem, mas o roteiro acerta ao tratar o problema com a seriedade que ele merece, mostrando que o caminho para a melhora de Rebecca é lento e irá requerer uma boa dose de esforço e autoconsciência da parte dela. Mesmo diante dessas questões sérias, o texto consegue encontrar momentos de leveza e humor sem parecer que está menosprezando o problema, a exemplo do número musical com a terapeuta de Rebecca, no qual a profissional tenta se convencer que as coisas serão diferentes e a protagonista finalmente irá ouvi-la.

Além de Rebecca, os demais personagens também se dão conta de seus próprios defeitos e problemas. Josh finalmente percebe que vivia uma vida de comodismo e falta de perspectiva, empurrando sua vida com a barriga sem fazer nada relevante com ela, algo pontuado pela divertida canção Get Your Ass Outta My House (algo como "Leve Seu Traseiro pra Fora da Minha Casa") cantada pela mãe de Josh. Do mesmo modo, Paula (Donna Lynne Champlin) percebe que todos os seus esquemas com Rebecca eram uma tentativa de fugir de uma vida familiar da qual ela se sentia desconectada e tenta se reaproximar do marido e dos filhos. Há ainda o arco de Heather (Vella Lovell) que precisa descobrir sua identidade agora que terminou a faculdade e não é mais uma estudante.

A trama também resiste à tentação de seguir adiante na jornada de cura da protagonista sem exibir consequências pelo egoísmo e erros dela no passado, colocando a personagem para finalmente admitir tudo que fez para as pessoas ao seu redor e deixando-a confrontar as duras implicações de revelar a verdade. Se no meu texto sobre a temporada anterior eu mencionava que ela enrolava demais para retratar o amadurecimento emocional de Rebecca, essa daqui compensa esse problema ao colocá-la para reconhecer sua conduta tóxica. Algumas decisões e desenvolvimentos da trama por vezes soam gratuitos, como a decisão de Heather em aceitar ser a barriga de aluguel de Darryl (Pete Gardner), que vem completamente do nada. Eu entendo que a série tem um senso de humor calcado no absurdo, em comentários metaficcionais e na excentricidade de seus personagens, mas mesmo assim incomoda um pouco como certos elementos surgem sem nenhuma construção prévia.

Falando em senso de humor absurdo, a série segue ótima em criar momentos de puro nonsense como o relato de Trent (Paul Welsh) sobre ter sobrevivido um atropelamento e morado com os coiotes do deserto ou o número musical em Darryl canta My Sperm is Healthy ("Meu Esperma é Saudável" em português), cuja melodia e construção visual remetem ao clipe Me Too de Meghan Trainor. Paula rouba para si alguns dos melhores momentos musicais da temporada como em sua descrição gráfica de um parto em The Miracle of Birth (algo como "O Milagre do Nascimento") ou quando ela reencontra seu primeiro namorado no número The First Penis I Saw ("O Primeiro Pênis que Eu Vi" em português). A temporada também mantêm a verve paródica dos números musicais a exemplo daquele que envolve Rebecca e o pai de Paula, com Rebecca dançando e usando um figurino que lembra bastante os antigos filmes de Shirley Temple, ou quando Nathan canta uma canção sobre o zoológico que parece uma paródia de Hotline Bling do Drake, exibindo uma melodia bem similar.

A terceira temporada de Crazy Ex-Girlfriend dá um passo na direção correta ao colocar sua protagonista no caminho de evolução emocional, conseguindo equilibrar seu bom humor com a seriedade dramática que a situação requer. O gancho final desta temporada me deixou bastante curioso para o que virá a seguir no quarto (e talvez último) ano da série.


Nota: 8/10


Trailer

Nenhum comentário: