quarta-feira, 6 de julho de 2016

Crítica - Julieta



Em seu vigésimo longa-metragem o direto espanhol Pedro Almodóvar retorna ao seu universo costumaz das neuroses femininas. Com uma trama sinuosa que muitas vezes flerta com o suspense investigativo, este Julieta é fundamentalmente uma história sobre intimista sobre perda, luto e culpa.

Baseado em três contos interligados da escritora Alice Munro, a trama acompanha Julieta (Emma Suarez/ Adriana Ugarte) uma mulher que está prestes a deixar Madri para ir morar em Portugal com o companheiro. Seus planos mudam quando ela encontra uma conhecida na rua e recebe informações sobre a filha, Antía, que não via há mais de uma década, descobrindo não só que ela está bem, como está casada e tem três filhos. Ao descobrir tudo isso, ela desiste de viajar e começa a escrever uma "carta/diário" contando sua vida com o pescador Xoan (Daniel Grao), pai de Antía, sua complexa relação com a amante dele.

É uma narrativa sobre perda e ausência, na qual muita coisa acontece off camera, sutilmente sugerido ao invés de dito, quase como se Julieta estivesse ausente de sua própria vida e visse seus desdobramentos à distância. O filme caminha pelas memórias da protagonista como se nos guiasse por uma investigação e a música ajuda a evocar essa sensação de mistério e suspense quanto ao que levou o afastamento entre Julieta e a filha.

A filha, aliás, é sempre citada, mencionada e explicada por outros, mas nunca aparece no presente e pouco é vista nos flashbacks ao passado. O incômodo de ouvirmos tanto a seu respeito sem vê-la ajuda a entender o sentimento de perda e devastação de Julieta, mas as revelações envolvendo o afastamento delas acaba soando como simples (ainda que crível) demais em relação a tudo que a trama construiu.

A câmera de Almodóvar está boa parte do tempo focada no rosto de Julieta e tanto Emma Suarez (que a interpreta na maturidade) quanto Adriana Ugarte (que a vive na juventude) conseguem transmitir o tormento emocional da personagem, consumida pelo luto, perda e sentimento de culpa.

Os elementos visuais típicos da filmografia do diretor também estão presentes, como as cores em tons intensos, em especial os usos de vermelho, azul e verde (que refletem a intensidade de emoções e afetos das personagens), passando por várias referências ao mundo da arte. Apesar da competente condução de Almodóvar e do texto sutil e enigmático, Julieta parece não ir muito além do que a essa altura já é extremamente familiar ao diretor espanhol, não sendo tão envolvente ou arrebatador quanto seus melhores trabalhos.


Nota: 6/10

Trailer:


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