terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Crítica - Spotlight: Segredos Revelados



Na tradição de filmes como Todos os Homens do Presidente (1976), O Informante (1999) ou Frost/Nixon (2008), este Spotlight: Segredos Revelados acompanha o árduo trabalho de um grupo de jornalistas em investigar fatos que foram ocultados do público. Nesse sentido, o filme é tanto uma denúncia das descobertas da reportagem original quanto uma exaltação do trabalho jornalístico e sua função de trazer à luz assuntos de interesse público.

Acompanhamos a equipe da Spotlight, a coluna de jornalismo investigativo do jornal Boston Globe, que no início dos anos 2000 começou a investigar casos de pedofilia cometidos por padres da igreja católica. Ao longo da busca, descobrem que quase uma centena de sacerdotes que passaram pela cidade abusaram crianças sexualmente e pior, descobrem que o alto escalão da igreja sabia a respeito e nada fez.

O filme constrói com cuidado os passos dados pela equipe estabelecendo bem o contexto em que as denúncias chegaram ao jornal e o grau de influência que a arquidiocese tinha na cidade de Boston. Na verdade, o primeiro terço do filme é tão preocupado em municiar o espectador de detalhes que tudo acaba sendo excessivamente expositivo e fazendo a narrativa demorar de engrenar. Não vejo isso como um problema, mas imagino que muitos poderão se incomodar com o ritmo mais lento da trama.

Aos poucos vamos vendo os passos dados pela equipe em levantar dados que ajudem a comprovar a existência de abusos e o quão surpreendente é o alto número de vítimas e também de molestadores. Nas mãos de um realizador inferior, as entrevistas com as vítimas poderiam facilmente descambar para um sentimentalismo excessivo ou se contentar apenas em fazer chorar, mas o diretor Tom McCarthy é inteligente o bastante para evitar isso. Sua direção é sutil e delicada, confiando na inteligência e percepção do público em perceber como aquelas pessoas tiveram suas vidas completamente devastadas pelos atos monstruosos dos padres. Mais que isso, o filme deixa claro o quanto esses abusos são acobertados não apenas pela lideranças da igreja, como também por outros setores da sociedade que constantemente fazem vista grossa, criando assim um ambiente de impunidade no qual os abusos podem ocorrer livremente. A partir disso, monta de maneira bem didática uma estrutura argumentativa que nos permite compreender como a situação chegou a esse ponto.

Um exemplo disso é a cena em que o repórter Mike Rezendes (Mark Ruffalo) entrevista uma das vítimas que relata como foi abordada por um padre. Ao longo da cena, percebemos diversas marcas de agulha do braço do interlocutor, mas nem Mike, nem a própria vítima falam nada a respeito. Não é necessário falar, pois as marcas por si, bem como o tom de voz, a postura e o olhar do falante, já deixam claro o quanto o evento destruiu sua vida. A música segue a condução sutil de McCarthy, mantendo-se discreta e evitando grandes intrusões, deixando as situações e personagens deem o tom da dramaticidade.

O filme consegue dar o devido espaço a cada um dos repórteres, dando a eles suas motivações e conflitos próprios conforme se aprofundam na investigação, sem chegar a eleger um protagonista. A decisão permite destacar o quanto o trabalho em equipe é necessário para uma boa investigação jornalística e também que cada um dos atores consiga mostrar a que veio. É o tipo de filme que se apoia mais no esforço conjunto do elenco do que em uma atuação que chame a atenção. Assim, temos performances bem consistentes de Michael Keaton (engatando mais um bom trabalho depois do excelente Birdman), Mark Ruffalo, Rachael McAdams, Liev Schrieber, Stanley Tucci e mais alguns outros.

Deste modo, Spotlight: Segredos Revelados é um competente tratado sobre o quão grave e extensa é a questão da pedofilia dentro da igreja católica ao mesmo tempo em que nos lembra como o bom trabalho jornalístico pode fazer a diferença.

Nota: 8/10

Trailer:

Um comentário:

Unknown disse...

Sua crítica é muito boa. Obrigada por compartilhar. Eu também gostei de Spotlight, acho que mais que filme de drama, é um filme de suspense, todo o tempo tem a sua atenção e você fica preso no sofá. Este é um dos filmes de Michael Keaton que eu mais gosto, acho que é melhor que The Founder completo dublado que estrenou no ano passado. A verdade este filme vale muito à pena, é um dos melhores do seu gênero. Além, tem pontos extras por ser uma historia muito interessante e controversa. Para uma tarde de lazer é uma boa opção.