terça-feira, 17 de novembro de 2015

Crítica - Malala


Resenha Malala

Review Malala
O documentário Malala chega ao Brasil em um momento importante, já que depois de o tema do ENEM ser violência contra a mulher, uma turba de conservadores resolveu fazer pouco do problema e ainda negar a situação, o filme mostra como isso persiste no mundo inteiro.

Malala é uma jovem paquistanesa que quase foi morta pelo Talibã depois de reclamar da proibição do regime ao acesso feminino à educação. Depois do atentado ela se mudou com a família para a Inglaterra e se tornou uma militante dos diretos da mulher, viajando o mundo para tratar do acesso das mulheres à educação.

O filme reconstrói o passado da jovem através de belas sequências animadas que revelam como as coisas se desenvolveram até o atentado contra ela, ao mesmo tempo em que acompanha sua vida no presente, mostrando sua atuação como ativista, bem como sua vida pessoal e relação com a família.

À parte das sequências animadas, é um documentário bem tradicional, feito a partir de entrevistas e filmagens do cotidiano de Malala. O foco não é o estilo, mas sua história de luta e resistência frente ao domínio brutal do Talibã, que não apenas proíbe a presença de mulheres nas escolas, como também destroem qualquer instituição que dê aulas para mulheres e matam qualquer um que se manifeste contra eles. O documentário, no entanto, tem o cuidado de não generalizar a conduta do Talibã à comunidade islâmica, deixando claro as ações e ideias defendidos por eles não refletem o pensamento do restante do islamismo, tanto que em um dado momento alguém diz que "eles não se importam com a religião, eles se importam com o poder", revelando que o fanatismo religioso é apenas uma ferramenta para que eles controlem a população (assim como fazem alguns políticos brasileiros que se dizem cristãos).

Não é só a situação das mulheres no Paquistão que é tratada aqui, mas a de outros lugares do mundo, como a Nigéria, que vem enfrentando problemas semelhantes aos do Paquistão com o grupo Boko Haram, destacando a importância e o poder transformador da educação ao colocar Malala para conversar com um grupo de garotas que revelam aspirações profissionais e acadêmicas que seus pais nunca tiveram acesso.

O filme acerta também ao não santificar demais Malala ou mostrá-la mais como um símbolo do que uma pessoa e os momentos de sua vida em família ajudam a percebê-la como uma pessoa normal, alguém com todas as ansiedades e inseguranças de alguém de sua idade, que tem dificuldade em algumas matérias da escola e lê Paulo Coelho. A ideia é importante porque ao invés de conceber sua luta feminista como algo conduzido por alguém extraordinário, percebemos que essa militância é algo que pode e deve ser feito por todas e que a mudança está ao alcance de qualquer um. Ao falar sobre a família, o filme também consegue mostrar discretamente algumas contradições e preconceitos arraigados, como o momento em que Malala confessa que seu irmão pode namorar sem problemas, mas que seus pais (apesar de se mostrarem bastante progressistas) não ficariam exatamente contentes se ela começasse a namorar.

Malala é um poderoso relato sobre o impacto da violência contra a mulher em várias partes do mundo e como a educação é capaz de fornecer as ferramentas para lutar contra isso.

Nota: 8/10

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