quinta-feira, 9 de julho de 2015

Crítica - Samba



Depois do sucesso do sensível Intocáveis (2011), os diretores Olivier Nakache e Eric Toledano trazem mais uma comédia dramática sobre preconceito e superação novamente protagonizada pelo carismático Omar Sy com este Samba. O resultado, no entanto, não é tão consistentes quanto o filme anterior da trupe.

Aqui acompanhamos a história de Samba Cissé (Omar Sy), um imigrante senegalês que vive há dez anos na França, mas não consegue regularizar sua situação no país. Depois de ser preso e correr o risco de ser deportado, Samba é auxiliado por voluntárias de uma ONG que trabalha com imigrantes. Alice (Charlotte Gainsbourg), uma das voluntárias que o atende, é uma executiva que tenta se reconstruir depois de um colapso nervoso afastá-la do trabalho. Com o tempo, acabam se aproximando um do outro e se ajudam com seus problemas.

Não é preciso estar muito atento para perceber que eles irão se envolver romanticamente, já que os longos olhares e suspiros deixam isso pra lá de óbvio e esse aspecto da história se desenvolve sem muitas surpresas com todas as idas e vindas que se espera desse tipo de história. O filme trata também das dificuldades enfrentadas pelos imigrantes e todo o labirinto jurídico/burocrático que o governo impõe a eles, tornando quase impossível que eles consigam os devidos documentos ao mesmo tempo em que vemos que as empresas não pensam duas vezes em contratar ilegais como mão de obra barata e sem vínculo empregatício, num duplo movimento que reforça o status social destes indivíduos como cidadãos de segunda classe. 

A verdade, porém, é que a crítica social é quase um pano de fundo para a construção do relacionamento entre Samba e Alice e o filme aborda tudo isso de maneira superficial que pouco acrescenta ao que foi dito por um grande número de filmes europeus (e não apenas franceses) sobre as tensões sociais provocadas pela presença do grande número de imigrantes na Europa. Ainda sim a direção consegue criar momentos interessantes, como o uso da câmera em primeira pessoa na cena do metrô, nos colocando na pele do personagem e nos fazendo sentir os olhares hostis dos outros passageiros, nos fazendo vivenciar, mesmo que por um breve momento, o preconceito que essas pessoas experimentam diariamente.

Outra coisa que prejudica é o ritmo arrastado do filme, que demora a desenvolver uma narrativa que é bastante simples e o faz parecer ainda mais longo do que suas duas horas de duração, principalmente pela natureza redundante de algumas cenas, como aquelas que envolvem Samba fugindo da polícia. Além disso, o clímax pesa a mão no melodrama ao forçar a barra para criar um grave mal entendido, apenas para resolvê-lo rapidamente logo depois sem sequer nos dar tempo para reagir aos acontecimentos.

O que torna a jornada aproveitável é o talento de Omar Sy, que consegue criar um personagem complexo e interessante que tenta manter o bom humor, mesmo quando tudo está contra ele, mas que também, fraqueja e perde controle quando a pressão sobre seus ombros se torna insuportável. É, portanto, alguém como nós, que ri, chora e se irrita com as vicissitudes da vida. Além dele, é possível também destacar o trabalho de Tahar Rahim como o melhor amigo de samba, Wilson, um argelino que se faz passar por brasileiro sob a justificativa que "todos são mais legais com brasileiros", há um algo de estereotipado em sua caracterização, mas ainda sim ele é responsável por alguns dos momentos mais engraçados do filme.

Samba pode até trazer um tratamento superficial à questão dos imigrantes em países europeus, mas nos ganha graças ao carisma de seu protagonista.


Nota: 6/10

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