quarta-feira, 6 de maio de 2015

Crítica - O Franco-Atirador

Análise O Franco-Atirador

Review O Franco-AtiradorDepois que Liam Neeson renovou sua carreira ao se tornar um astro de ação no primeiro Busca Implacável (2008), muitos artistas que pouco tinham se aventurado em produções do gênero resolveram buscar este tipo de filme para aumentar sua rentabilidade e se aproximar do público que vai ao cinema para acompanhar os blockbusters de ação. Este O Franco-Atirador (que nada tem a ver com o filme homônimo de 1978 dirigido por Michael Cimino) parece ser a tentativa do oscarizado Sean Penn de criar para si  uma franquia de ação para chamar de sua, tanto que trabalha ao lado do mesmo Pierre Morel que comandou Neeson em Busca Implacável. O resultado aqui, no entanto, fica aquém do esperado.

Penn interpreta Jim Terrier, um ex-militar que trabalhou como mercenário durante a guerra civil do Congo. Anos depois ele retorna ao país africano para realizar trabalhos humanitários, mas seu passado o alcança quando homens invadem a ONG na qual trabalha e tentam matá-lo. Acuado e sem saber quem lhe persegue, Jim retorna para a Europa e busca o traiçoeiro Felix (Javier Bardem), o único que pode saber o que está acontecendo.


A trama é bastante genérica, investindo mais uma vez na figura do militar atormentado por erros do passado e buscando reparação. Já vimos tudo isso antes e Penn não ajuda a dar identidade a algo tão batido. Ele certamente demonstra físico de herói de ação, mas seu protagonista é inócuo demais para nos engajar em sua jornada. O mesmo pode ser dito do antagonista vivido por Javier Bardem que investe em uma composição carregada de afetações e exageros, tornando seu personagem uma figura mais aborrecida do que propriamente ameaçadora ou odiosa.

O roteiro ainda tenta criar um mistério sobre quem está tentando matar Jim, mas é tudo tão óbvio e previsível que qualquer um consegue perceber que está relacionado ao assassinato cometido no início do filme. A tentativa de criar uma reviravolta em cima disso se revela desastrosa, pois substitui um vilão que já não era grande coisa por outro ainda menos convincente. Além disso a história é cheia de furos e absurdos, como o fato do protagonista filmar tranquilamente o briefing de uma missão de assassinato secreta sem que nenhum de seus colegas se oponham ao registro potencialmente incriminador. Do mesmo modo, é difícil de engolir o embate climático do filme quando o vilão manda seus capangas um por um atrás do herói ao invés de todos de vez, sendo que a esta altura ele já entendeu o quão mortal ele pode ser. O pior, no entanto, são as sequelas de uma concussão que só são sentidas pelo o personagem quando é conveniente para o roteiro, já que durante boa parte do filme ele irá correr, lutar, atirar, apanhar e explodir coisas sem que os sintomas se manifestem.

As cenas de ação são bastante violentas, mas carecem de criatividade e empolgação. O único momento realmente interessante é quando Jim escapa de um banheiro em chamas e de resto temos apenas um amontoado de lutas e tiroteios burocráticos, que falham em transmitir intensidade ou criar qualquer sensação de perigo. O filme ainda tenta tratar da exploração da África pelas potências econômicas mundiais, mas o faz de maneira tão superficial que pouco agrega ao que já foi tratado em filmes melhores sobre a questão como O Jardineiro Fiel (2005), Diamante de Sangue (2006) ou Hotel Ruanda (2004). A verdade é que isso acaba tornando o filme inconsistente, já que ele é tolo e absurdo demais para tratar satisfatoriamente de questões tão sérias, ao mesmo tempo que esses momentos de denúncia incisiva não permitem que ele abrace devidamente o exagero para ser uma bobagem divertida.

O resultado é um meio termo vazio que não consegue nem fazer pensar e nem divertir. Pelos nomes envolvidos era de se esperar uma aventura minimamente apreciável, uma pena que este potencial seja desperdiçado com uma trama clichê, personagens sem carisma e cenas de ação que não empolgam.


Nota: 4/10

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