quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Crítica - Festa no Céu


A história é quase tão velha quanto a própria existência de nossa tradição narrativa, dois amigos de infância tornam-se rivais na disputa pelo afeto de uma bela e virtuosa mulher e esta disputa torna-se um conto épico de amor e ciúme. Bem, a animação Festa no Céu segue isso direitinho e não reinventa a roda mas é tão carismático e criativo visualmente que acaba funcionando.

A narrativa começa quando La Muerte (Kate Del Castillo) e Xibalba (Ron Perlman) os responsáveis pelo mundo dos mortos decidem fazer uma aposta que decidirá quem cuidará da Terra dos Lembrados, onde ficam os espíritos lembrados pelos vivos passando a eternidade em festa, e a Terra dos Esquecidos, uma terra erma na qual vagam as almas esquecidas. A aposta reside em quem conquistará o coração da bela Maria (Zoe Saldana), o romântico músico Manolo (Diego Luna) ou o valente soldado Joaquin (Channing Tatum). Cada uma das divindades escolhe um deles como “campeão” e a partir daí acompanharemos as tentativas dos dois em conquistarem a jovem enquanto o astuto Xibalba tenta intervir para que a aposta transcorra em seu favor.

A animação produzida pelo diretor Guillermo Del Toro chama a atenção pelo seu design criativo ao incorporar diversos elementos da cultura mexicana para criar a pequena vila na qual se passa a história, bem como o mundo dos mortos. Assim como em A Noiva Cadáver (2005), o mundo dos mortos (pelo menos a Terra dos Lembrados) é um lugar colorido e, ironicamente, cheio de vida no qual os mortos festejam pela eternidade, transformados em coloridos esqueletos tal qual aqueles que normalmente vemos nas celebrações do dia de Finados (ou dia dos mortos) no México. É interessante também o visual dos personagens, todos feitos como se fossem bonecos de madeira, dando a impressão de que vemos uma animação em stop-motion (embora não seja). Cada personagem tem um visual único e eles são bastante expressivos e cheios de detalhes. É difícil não se encantar pelos visuais deles e dos ambientes em que habitam e há sempre algo novo, insólito ou interessante aparecendo diante dos nossos olhos.
A trama transcorre de maneira bastante previsível, mas tem um timing cômico bastante preciso, fazendo a maioria das piadas funcionarem, além de criar um bom clima de aventura. O filme ainda tem alguns números musicais, com os personagens cantando músicas pop famosas sob ritmos tradicionalmente mexicanos, o problema é que muitas dessas canções se perdem na tradução e o público as identificará somente pelas melodias. O 3D funciona bem, trabalhando bem a sensação de profundidade e as texturas da superfícies e como tudo é bem colorido, os óculos não atrapalham como acontece em alguns filmes. Não é indispensável, claro, mas pelo menos é uma experiência satisfatória.
Festa no Céu pode trazer uma história bastante familiar e previsível, mas sua construção visual é tão bem cuidada e seus personagens tão carismáticos, que fazem da obra algo encantador.
Nota: 7/10

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