quarta-feira, 27 de março de 2024

Crítica – O Homem dos Sonhos

 

Crítica – O Homem dos Sonhos

Review – O Homem dos Sonhos
Com uma premissa bastante insólita, é difícil não ficar curioso para conferir O Homem dos Sonhos. O filme narra a história do pacato e frustrado professor universitário Paul (Nicolas Cage). Apesar de uma carreira estável, Paul anseia mais reconhecimento, algo que vem quando várias pessoas ao redor do país começam a dizer que estão vendo o professor em seus sonhos. O fenômeno ganha atenção da mídia e Paul logo se torna uma espécie de celebridade. O problema é que a fama não é o que o professor esperava.

É uma trama que transita entre comédia, drama, terror e surrealismo, com muito do que sustenta essa variação sendo a performance de Nicolas Cage. Logo quando conhecemos Paul o vemos como um sujeito pacato e relativamente patético, exemplificado na cena em que ele cobra de outra acadêmica os créditos por um termo que ele crê ter cunhado. A cena em questão nos mostra o anseio do personagem ao mesmo tempo em coloca algo de ridículo no modo como ele parecer exigir do mundo algum reconhecimento. Conforme a trama progride e a fama passa a ser um fardo para Paul e sua família, Cage transita entre a dor e a frustração de ver que nem assim suas ambições irão se realizar.

terça-feira, 26 de março de 2024

Crítica – Madame Teia

 

Análise Crítica – Madame Teia

Review – Madame Teia
Depois do horrendo Morbius (2022) a Sony parece não ter aprendido a lição e continua a insistir na ideia equivocada de construir um universo com personagens que gravitam em torno do Homem-Aranha sem, no entanto, usar o herói. A mais nova adição nesse plantel de erros é Madame Teia, um filme tão equivocado, tão sem sentido e incompetente que acaba se tornando divertido e, nesse sentido, acaba sendo um pouco melhor do que Morbius. Um patamar fácil de superar, admito.

A trama acompanha Cassandra Webb (Dakota Johnson) uma paramédica que desenvolve a capacidade de ver o futuro depois de um incidente de quase morte. Ela passa a ter visões com três garotas sendo assassinadas e quando as encontra no metrô decide protegê-las do perigoso Ezekiel Sims (Tahar Rahim). Assim, Cassie coloca as jovens Julia (Sydney Sweeney), Anya (Isabela Merced) e Mattie (Celeste O’Connor) sob sua proteção, já que elas estão destinadas a serem super-heroínas e Sims tem visões de que elas o matarão no futuro.

segunda-feira, 25 de março de 2024

Crítica – Final Fantasy VII Rebirth

 

Análise Crítica – Final Fantasy VII Rebirth

Review – Final Fantasy VII Rebirth
Depois que Final Fantasy VII Remake se mostrou um bom começo para a reimaginação do clássico RPG para as gerações atuais, ficava a dúvida de como uma segunda parte lidaria com os ambientes mais abertos do game após a linearidade do segmento em Midgar. Outra dúvida também seria de quantas partes mais o remake teria. Felizmente Final Fantasy VII Rebirth entrega tudo que esperávamos, com mais exploração, minigames e personagens, além de explicitar que esse será a segunda parte de uma trilogia que comporá o remake do Final Fantasy VII original.

A trama segue no ponto em que o anterior parou, com Cloud e seus aliados fugindo de Midgar e iniciando uma busca por Sephiroth. Ao longo do caminho encontrarão as consequências das ações da Shinra extraindo a energia do planeta, serão alvos do novo presidente da empresa, Rufus, e também lidarão com seus próprios problemas pessoais.

sexta-feira, 22 de março de 2024

Crítica – Not Dead

 

Resenha Crítica – Not Dead

Review – Not Dead
Quando falamos em música em Salvador normalmente pensamos em axé music, mas o cenário musical da cidade é muito mais diverso que isso e o documentário Not Dead visa falar de uma das formas musicais que teve (e tem) uma presença na cidade que é o punk rock. Como alguém que viveu praticamente a vida toda em Salvador, achei interessante conhecer um aspecto da vida cultural da cidade que é pouco falado e pouco visto nas representações midiáticas.

O filme segue um grupo de pessoas influentes no surgimento da cena punk em Salvador nos anos 80, contando sobre a criação da loja Not Dead, que vendia roupas e mercadorias com estética punk e servia como um espaço para congregar a cultura punk em Salvador. A partir disso ele nos mostra como está a cena punk hoje, as bandas que surgiram naquela época que ainda estão ativas e como a ideologia punk transformou a vida dos envolvidos mesmo aqueles que não seguem diretamente engajados na cena punk soteropolitana hoje.

quinta-feira, 21 de março de 2024

Crítica – A Flor do Buriti

 

Análise Crítica – A Flor do Buriti

Review – A Flor do Buriti
Depois de Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos (2018) os diretores João Salaviza e Renée Nader Messora voltam a falar sobre a população indígena Krahô no interior do Tocantins. Em A Flor do Buriti os realizadores focam em narrar a história de luta pela terra dessa população e como eles resistiram a múltiplos massacres.

A narrativa vai da década de 1940 aos dias atuais, mas sem seguir uma cronologia, acompanhando a população da Aldeia Pedra Branca no presente e se deslocando no tempo conforme eles contam as histórias do passado ou seus espíritos entram em contato com ancestrais no passado, misturando cenas encenadas e personagens reais para narrar como a opressão aos indígenas sempre foi uma constante em suas vidas.

Se filmes como Martírio (2016) mostram anos de descaso ou políticas questionáveis da parte do Estado brasileiro, aqui essas décadas de descaso e perseguição são apresentadas do ponto de vista dos próprios indígenas, narrado, inclusive em sua própria língua. O fato dos Krahô falarem seu em sua língua é uma escolha estética e política, permite que eles se coloquem em seus próprios termos, com seu vernáculo e com toda a construção subjetiva e visão de mundo imbricada na própria língua.

quarta-feira, 20 de março de 2024

Crítica – Ecos do Silêncio

 

Análise Crítica – Ecos do Silêncio

Review – Ecos do Silêncio
Protagonizado por Thalles Cabral (o Nem de As Five) Ecos do Silêncio é um filme sobre errância, sobre se perder, se encontrar e tentar dar algum sentido ao caos da nossa existência. Infelizmente a produção nem sempre alcança as pretensões temáticas que se propõe a discutir.

A narrativa é centrada em Davi (Thalles Cabral), que viaja para a Argentina para estudar musicoterapia na esperança de poder ajudar o irmão que tem autismo severo. De lá ele parte para a Índia em uma jornada espiritual e acaba confrontando sua relação com a família e os traumas que o moveram até então.

O filme se move entre o presente de Davi, memórias de seu passado e ocasionais flashfowards de sua jornada na Índia. A impressão é que o filme tenta nos mergulhar no fluxo de consciência do personagem, mostrando como o passado materializa seu presente e informa o seu futuro, bem como nos faz sentir a conexão metafísica que o protagonista diz sentir em relação ao irmão.

terça-feira, 19 de março de 2024

Crítica – A Batalha da Rua Maria Antônia

 

Análise Crítica – A Batalha da Rua Maria Antônia

Review – A Batalha da Rua Maria Antônia
Apesar do golpe militar de 1964 ter acontecido há sessenta anos e o Brasil ter se redemocratizado em 1988, ainda existem muitos fatos e eventos do período da ditadura que não são conhecidos pelo grande público. Embora certamente deva ser algo conhecido em São Paulo, os eventos narrados em A Batalha da Rua Maria Antônia não são o tipo de coisa que vemos nos livros de história (pelo menos não na minha época de colégio), mas são importantes para compreender como funcionava a violenta repressão do governo do período.

A narrativa se passa ao longo de um dia em outubro de 1968 durante a ocupação da Faculdade de Filosofia da USP pelo movimento estudantil e os confrontos dos estudantes com alunos da Mackenzie e de instituições repressoras. O filme se divide em 21 cenas, todas construídas como planos-sequência, para narrar o aumento das tensões e eventual invasão do prédio da USP pela polícia. No centro disso tudo está Lilian (Pâmela Germano), uma estudante de filosofia que não está envolvida diretamente com o movimento estudantil, mas decide ficar na ocupação para ajudar a amiga Ângela (Isamara Castilho) na esperança de conversar com ela e entender porque Ângela tem se afastado apesar das duas serem amigas de infância.

segunda-feira, 18 de março de 2024

Crítica – Estranho Caminho

 

Análise Crítica – Estranho Caminho

Review – Estranho Caminho
Dirigido por Guto Parente, Estranho Caminho parece ser sobre a experiência da pandemia de Covid-19. Inicialmente temi que, como muitos filmes brasileiros recentes, a urgência de tratar uma crise contemporânea deixasse a produção tão presa a esse contexto que não comunicasse nada fora dele. Felizmente não é o caso e Estranho Caminho, na verdade, acaba sendo mais sobre nossa relação com a morte, usando a pandemia apenas como um pano de fundo sobre esses temas.

A trama é focada em David (Lucas Limeira), um jovem cineasta brasileiro radicado em Portugal que volta para sua cidade natal para apresentar seu longa em um festival de cinema. Quando a pandemia estoura e o lockdown é decretado no Brasil ele fica sem ter como voltar para Portugal e sem hospedagem na cidade. Sem opção, ele tenta entrar em contato com o pai, Geraldo (Carlos Francisco, do excelente Marte Um), com quem não fala há anos.

domingo, 17 de março de 2024

Crítica – Sem Coração

 

Análise Crítica – Sem Coração

Review – Sem Coração
Certos filmes te prendem não pela sua trama em si, mas pelo modo como apresentam essa trama. Sem Coração é um desses casos. Dirigido por Nara Normande e Tião, com um roteiro levemente baseado na juventude de Normande, a produção conta uma típica história de amadurecimento, despertar afetivo e perda de inocência. É um tipo de narrativa que já vimos aos montes, mas, ainda assim, conquista pela sensibilidade na construção dos arcos de seus personagens.

A narrativa se passa durante o verão de 1996 na região litorânea de Alagoas. Tamara (Maya de Vicq) está para ir para a faculdade em Brasília, então aproveita seu último verão com os amigos. Eles passam os dias na praia, em festas e entrando em imóveis vazios ou abandonados no lugar. Tamara acaba voltando a sua atenção para uma garota que seus amigos chamam de Sem Coração (Eduarda Samara) e que se mantem distante do resto da juventude do local. Tamara decide então se aproximar da garota.

sábado, 16 de março de 2024

Crítica – Eros

 

Análise Crítica – Eros

Review – Eros
Apesar de termos mais abertura para falar sobre isso, as discussões sobre sexo ainda encontram tabus nos meio social. O documentário Eros visa abrir uma conversa sobre isso, especificamente sobre o universo de motéis e o que atrai as pessoas para ir a um motel fazer sexo.

A produção retrata diferentes casais que frequentam motéis com filmagens feitas pelos próprios personagens. São imagens que retratam a experiências dessas pessoas nos motéis, conversas sobre relacionamentos, sexo ou o motivo de irem a locais como aquele com frequência e ocasionalmente até as próprias experiências sexuais dos personagens. Com casais de diferentes idades, sexualidades e fetiches, o filme tenta construir um panorama amplo da experiência das pessoas em motéis ao mesmo tempo em que busca pontos comuns.

Nesse sentido, as experiências retratadas nos fazem ver o motel como um lugar de realizar fantasias ou ter experiências que, em geral, não podemos ter em casa já que a maioria das pessoas não pode construir uma gruta artificial dentro de casa ou deixar o quarto todo equipado com artefatos de sadomasoquismo, um casal praticante de BDSM chega a comentar como seria pouco prático colocar em algum cômodo de casa os equipamentos que encontram no motel.