quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Crítica – A Memória Infinita

 

Análise Crítica – A Memória Infinita

Review – A Memória Infinita
A memória do passado orienta nosso presente e informa nossas decisões do futuro. Sem memória seria difícil até estabelecermos nossa personalidade. A importância da memória na identidade pessoal e nacional é o cerne do documentário chileno A Memória Infinita, que indiretamente também pondera sobre o papel do audiovisual na preservação da memória.

O filme é centrado no casal Augusto e Paulina. Eles são casados há 25 anos e há oito Augusto descobriu que está com Alzheimer. Ambos se preocupam com a degeneração mental de Augusto e com a eventualidade de que ele não reconheça mais a esposa ou a si mesmo. O documentário acompanha o cotidiano do casal e das crises causadas pela doença de Augusto e imagens de arquivo que mostram a vida pregressa tanto de Augusto quanto de Paulina.

É tocante ver o cuidado que Paulina tem com o marido e a paciência com a qual conversa com ele nos momentos em que ele está mais confuso e o faz lembrar de quem é e da relação entre eles. É igualmente tocante como Augusto volta a se apaixonar por Paulina mesmo quando não a reconhece, revelando como o amor entre dois sobrevive até mesmo ao esquecimento.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Crítica – Duna: Parte Dois

 

Análise Crítica – Duna: Parte Dois

Review – Duna: Parte Dois
Depois de um Duna: Parte Um (2021) que servia como um grande prólogo para o conflito principal do romance de Frank Herbert, o diretor Denis Villeneuve chega neste Duna: Parte Dois com a expectativa de entregar um desfecho para todos os conflitos iniciados na primeira parte. É uma responsabilidade grande considerando que o livro é bastante denso e nunca teve uma adaptação que fizesse jus a ele.

A narrativa segue no ponto em que o primeiro parou. Paul (Timothee Chalamet) e sua mãe, Lady Jessica (Rebecca Ferguson) agora vivem entre os fremen, o povo do deserto. Paul deseja aprender os modos dele para enfrentar a ocupação dos Harkonnen, mas sua mãe tem planos ainda maiores, usar uma antiga profecia para convencer os fremen de que Paul é o messias prometido e assim fazê-lo se tornar o líder dos povos de Arrakis. As coisas se complicam quando o Barão Harkonnen (Stellan Skarsgard) manda seu cruel sobrinho Feyd-Rautha (Austin Butler) para atacar os fremen e controlar a extração da especiaria no planeta.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Crítica – Zona de Interesse

 

Análise Crítica – Zona de Interesse

Review – Zona de Interesse
O diretor Jonathan Glazer já explorou imagens cruéis e aterrorizantes em filmes como Reencarnação (2004) e Sob a Pele (2013), então a ideia dele explorar o nazismo e os campos de concentração me deixou curioso para ver como ele mostraria os horrores do genocídio perpetrado pelos nazistas. Diante de um horror tão real, as escolhas de Glazer neste Zona de Interesse, que adapta um romance escrito por Martin Amis, vão na contramão do que se esperaria conhecendo seus trabalhos anteriores.

O Naturalismo

O diretor opta por nunca mostrar o que acontece em Auschwitz, ao invés disso focando toda a trama no cotidiano da família do oficial nazista Rudolf Hoss (Christian Fiedel) e sua família que vivem em uma luxuosa casa de dois andares ao lado do campo de concentração, separados por um alto muro. Ao mostrar a normalidade da vida dos nazistas que não apenas moravam ao lado dos campos como gerenciavam o extermínio o filme torna todo o extermínio ainda mais inaceitável. Enquanto famílias inteiras morriam nos campos, Rudolph passeava de canoa com seus filhos em um riacho próximo e sua esposa, Hedwig (Sandra Huller, de Anatomia de Uma Queda), pensa em que flores plantar no jardim. Essa normalidade diante do horror me lembrou um pouco o argentino O Clã (2015), de Pablo Trapero, que se passava durante a ditadura argentina e também contava a história de uma família que vivia uma vida de conforto às custas do horror que acontecia adjacente à sua residência.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Crítica – Amanhã

 

Análise Crítica – Amanhã

Review – Amanhã
O que muda em um país ao longo de vinte e como os problemas sociais se transformam ao longo do tempo? Parece ser a partir dessa pergunta que o documentário Amanhã estrutura sua narrativa. Ele começa em 2002 filmando três crianças e as trocas entre elas. Em Belo Horizonte a Barragem Santa Lúcia divide a cidade em duas realidades distintas: de um lado a favela e de outro um bairro de classe média. Os habitantes de um lado não cruzam para o outro, construindo uma espécie de fronteira implícita que revela a separação de classes no Brasil.

Em 2002 o diretor Marcos Pimentel filma três crianças. Julia e Christian moram no lado pobre da barragem, enquanto Zé Thomaz vive no lado de classe média. Essas crianças passam alguns dias na casa do outro para experimentar as realidades diferentes. Vinte anos depois o filme retoma o contato com esses personagens e usa a vida deles como uma metonímia para as mudanças no Brasil ao longo dessas duas décadas.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Drops – O Jogo do Disfarce

 

Crítica – O Jogo do Disfarce

Review Drops – O Jogo do Disfarce
Produção da Prime Video, O Jogo do Disfarce parece um daqueles filmes que acha que basta combinar elementos de produções de sucesso para ser bem sucedido. O filme é basicamente uma mistura de elementos de filmes como A Honra do Poderoso Prizzi (1985) e True Lies (1994), lembrando o recente (e igualmente fraco) Plano em Família da AppleTV.

A trama é focada em Emma (Kaley Cuoco) e Dave (David Oyelowo), um casal suburbano aparentemente banal. Querendo apimentar o casamento, eles resolvem passar uma noite em um hotel chique e brincam de construir personagens para si. No hotel Emma é acuada pelo assassino internacional Bob (Bill Nighy) e descobrimos que ela está com a cabeça a prêmio por ser uma assassina de aluguel extremamente letal. Agora Emma precisa descobrir quem está atrás dela ao mesmo tempo em que mantem o marido e os filhos em segurança. 

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Crítica – O Sequestro do Voo 375

 

Análise Crítica – O Sequestro do Voo 375

Review – O Sequestro do Voo 375
O cinema brasileiro tem alguns gêneros que são constantemente explorados como filão comercial a exemplo de comédias e biografias. Outros, como o terror, vem até crescendo de produção nos últimos anos. O suspense, por outro lado, segue como um gênero pouco explorado nas nossas produções de vocação mais comercial e O Sequestro do Voo 375 vem para mudar isso.

A trama se passa em 1988 e se baseia na história real do sequestro de um voo da VASP saindo de Minas Gerais. O sequestrador, Nonato (Jorge Paz) toma o controle do avião e ordena que os pilotos mudem a rota para Brasília, desejando jogar a aeronave em cima do Palácio do Planalto para matar o então presidente José Sarney, a quem culpa pelo desemprego e alta inflação que assola o país. Sob a arma do sequestrador, o piloto Murilo (Danilo Grangheia) precisa achar um meio de aterrissar em segurança e manter todos vivos na aeronave.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Crítica – Ferrari

 

Análise Crítica – Ferrari

Review – Ferrari
Acompanhando um recorte bem específico de seu biografado, Ferrari é uma ponderação sobre controle e a dificuldade em aceitar os limites de nossa capacidade de controlar as condições ao nosso redor. A narrativa se passa em 1957 e acompanha um Enzo Ferrari (Adam Driver) cuja montadora está prestes a falir e o casamento com a esposa Laura (Penelope Cruz) está em frangalhos. Enzo também tem uma amante, Lina (Shailene Woodley), com quem tem um filho que mantem em segredo de Laura. Para tentar virar a situação da empresa, Enzo aposta tudo em vencer a corrida Mille Miglia e para isso aposta no piloto espanhol Alfonso de Portago (Gabriel Leone).

Desde os primeiros minutos me chamou atenção o modo como o diretor Michael Mann usa o som. É um filme com pouca música e mesmo quando há ela é bem discreta, pouco intrusiva. Apesar das tensões constantes no cotidiano do protagonista, o filme é permeado por ambientes silenciosos. Isto é, exceto quando Ferrari está nas pistas de corrida e o intenso ronco dos motores domina a paisagem sonora. Parece haver uma clara intenção de manter o resto do filme mais discreto em termos de presença de sons para criar um contraste com a intensidade do ruído dos motores ressaltando a potência desses veículos, não apenas em termos de seu potencial para corridas, mas também de sua brutal letalidade quando algo dá errado.

Carros de corrida nos anos de 1950 eram bem menos seguros do que são hoje e o filme investe as cenas de corrida de um senso de perigo e velocidade que dá a impressão de que um desastre espera a cada curva. O uso de câmeras acopladas à frente dos carros ajuda a transmitir a sensação de vertigem causada pela alta velocidade e como é difícil guiar tão rápido. As cenas são bastante gráficas ao mostrar o que acontece quando aqueles carros colidem ou saem do controle em altíssima velocidade. Perto do final, o filme exibe uma dos acidentes mais chocantes e brutais que me recordo de ter visto no cinema, mostrando o quão horrível são as consequências quando algo dá errado.

Esse acidente, por sinal, é contraposto com imagens de outros membros da equipe de Ferrari cruzando a linha de chegada e comemorando a vitória. É uma escolha que parece ilustrar como o triunfo de uma empresa como a Ferrari se constrói, entre outras coisas, em cima da morte desses pilotos, como se fossem animais abatidos em sacrifício para um bem maior. Enzo, apesar de claramente impactado por essas mortes e disposto a prestar suporte para as famílias, continua a colocar pilotos em seus carros como se isso fosse a coisa mais normal do mundo.

A morte de pilotos, algumas vezes em acidentes fortuitos como o que ocorre no clímax, é só um dos elementos do cotidiano de Enzo que escapa de seu controle e que o protagonista precisa aceitar as próprias limitações. Ao longo do filme vemos como Enzo sempre tenta se manter no controle, apesar de nem todos os seus esforços serem suficientes, como na morte de seu primeiro filho ou no modo em que sua vontade de controlar todas as decisões da empresa sem qualquer sócio a colocaram em risco financeiro. Essa obstinação, intensidade e senso de controle são muito bem construídos na performance de Adam Driver, cujo corpo parece sempre estar em movimento e a mente está sempre maquinando um jeito de resolver os problemas que se apresentam. O roteiro é inteligente o bastante para não romantizar seu biografado, mostrando Ferrari como um homem vaidoso, egocêntrico, controlador e mulherengo, além de expor a contradição de seu discurso sobre se preocupar com os pilotos enquanto lucra com os riscos que eles correm.

O filme também acerta ao evitar tornar Laura Ferrari uma figura passiva que existe apenas para gravitar em torno do marido. Penélope Cruz faz de Laura uma mulher em frangalhos por conta da perda do filho e que agora vive como uma sombra de quem fora por não conseguir lidar com essa perda. A animosidade que ela tem com Enzo parte tanto das traições que ela sabe que o marido comete (embora a esse ponto a relação deles seja mais uma parceria de negócios do que um casamento de fato) como também por culpar Enzo por não ter conseguido salvar o filho deles, uma culpa que o próprio marido carrega também.

O arco de Laura é o de aceitar essa perda e entender que ela ou Enzo não tinham controle sobre isso. O casal só chega a alguma medida de conciliação justamente quando Enzo desiste de manter controle sobre a parte de Laura na empresa e passa a vê-la mais como uma igual do que alguém a ser conduzida por ele. De certa forma, os dois lidavam com questões de controle e só consertam alguns aspectos de sua relação quando abrem mão dessas tentativas de controle;

Shailene Woodley, por outro lado, é o elo fraco do filme. Sua Lina existe mais como um ponto de conflito para Enzo e Laura do que como uma personagem autônoma, falhando em nos fazer entender o que despertou o interesse de Ferrari em Lina. Além disso, a composição de Woodley se perde em um sotaque inconstante, no qual às vezes ela tenta um sotaque italiano e em outros momentos ela parece falar sem sotaque algum, causando algum estranhamento.

Ainda assim, Ferrari é uma competente biografia que examina o que move seu protagonista e exibe os riscos brutais do universo do automobilismo na década de 1950.

 

Nota: 8/10


Trailer

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Crítica – Sr & Sra Smith

 

Análise Crítica – Sr & Sra Smith

Review – Sr & Sra Smith
Não sou lá grande fã do Sr. & Sra. Smith (2005) estrelado por Brad Pitt e Angelina Jolie, então o anúncio de uma série baseada no filme não fez muito para me empolgar. Mesmo a informação de que Donald Glover, responsável pela excelente Atlanta, estaria à frente da série como astro e produtor me fez mudar muito de ideia. Tendo visto a série Sr. & Sra. Smith, porém, posso dizer que é um esforço melhor sucedido que o longa de 2005.

A trama acompanha John (Donald Glover) e Jane (Maya Erskine), uma dupla de agentes que aceitam trabalhar para a misteriosa Companhia. A atividade envolve fingirem ser um casal enquanto desempenham as missões dadas por um contato misterioso que se comunica com eles via mensagens de computador. Aos poucos, a relação de conveniência vai se tornando um casamento de verdade, com um se apaixonando pelo outro, mas o cotidiano de perigo ameaça o relacionamento entre eles. 

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Crítica – True Detective: Terra Noturna

 

Análise Crítica – True Detective: Terra Noturna

Review – True Detective: Terra Noturna
Primeira temporada sem o criador original, Nic Pizzolatto, True Detective: Terra Noturna colocava em questão se a série conseguiria seguir com outra mente criativa, já que era o olhar de Pizzolatto que trazia muito da personalidade da série. Conduzida por Issa López, esse quarto ano se desloca para as paisagens geladas do Alasca e continua a apresentar o tipo de trama sombria e fatalista pelas quais a série se tornou conhecida.

A narrativa se passa em Ennis, pequena cidade ao norte do Alasca, no início do período do inverno em que a região fica trinta dias sem sol. Nessa noite perene a chefe de polícia Liz Danvers (Jodie Foster) é chamada para uma ocorrência na estação de pesquisa Tslal onde todos os cientistas desapareceram. Ao lado da patrulheira Evangeline Navarro (Kali Reis), Danvers descobre que os pesquisadores estão todos mortos, encontrados congelados e nus em posições bizarras no meio do nada a centenas de metros da estação. Ao curso da investigação a dupla encontra conexões entre a morte dos pesquisadores e o assassinato de Annie K, uma ativista ambiental indígena que foi morta anos atrás ao denunciar a poluição causada por uma mina da região. Poluição essa que só fez piorar nos anos seguintes.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Crítica – Todos Menos Você

 

Análise Crítica – Todos Menos Você

Review – Todos Menos Você
Hollywood gosta de modernizar clássicos da literatura e teatro em forma de comédia romântica. Emma, de Jane Austen, foi transformado em As Patricinhas de Beverly Hills (1995), A Megera Domada, de Shakespeare, virou 10 Coisas Que Eu Odeio em Você (1999). Agora outra peça de Shakespeare se torna uma comédia romântica passada na contemporaneidade, com Todos Menos Você tentando ser uma versão modernizada de Muito Barulho Por Nada.

A trama é protagonizada por Ben (Glen Powell) e Bea (Sydney Sweeney). Anos atrás eles tiveram um encontro que não deu muito certo e agora se detestam. Os dois se reencontram indo para um casamento na Austrália, onde Halle (Hadley Robinson), irmã de Bea, vai se casar com Claudia (Alexandra Shipp), melhor amiga de Ben. Temendo que a animosidade dos dois estrague o clima do casamento, as noivas e suas famílias tentam armar para que os dois se apaixonem.