segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Crítica – One Piece Odyssey

 

Análise Crítica – One Piece Odyssey

Review – One Piece Odyssey

Não sou exatamente um grande fã de One Piece, mas conheço o suficiente o anime e aprecio os jogos. Como fã de JRPGs, fiquei curioso com o anúncio deste One Piece Odyssey, que colocava a tripulação do Chapéu de Palha em uma aventura com estrutura de RPG. O resultado tem muitos bons momentos, mas várias ideias que não são plenamente aproveitadas.

Na trama o grupo de piratas liderados por Luffy bate na misteriosa ilha de Waford. Lá eles são atacados por um colosso de fogo que drena os poderes dos heróis. Com ajuda de Adio e Lim, que parecem estar presos na ilha há algum tempo, os piratas precisam desvendar os mistérios da ilha e coletar os cubos de memória para recuperar sua força. Esses cubos fazem os personagens reviverem aventuras passadas, dando a oportunidade do jogador revisitar alguns dos arcos do mangá.

A ideia de recontar arcos como os de Alabasta ou Water 7 através dessa mecânica de reviver memórias ao invés de nos colocar na cronologia canônica deveria dar oportunidade para a trama explorar com criatividade possíveis cenários alternativos com eventos um pouco diferentes ou como a presença de personagens que não estavam originalmente presente impactaria em alguns eventos. Infelizmente a narrativa não aproveita plenamente essas possibilidades, preferindo se ater a mudanças superficiais e com poucas repercussões, como o fato de Usopp ser sequestrado ao invés de Robin em Water 7.

Os capítulos centrados em reviver esses arcos também fazem pouco para dar contexto aos eventos que levaram às tramas que experimentamos, então quem não for familiar com essas histórias pode ficar boiando em certos elementos. Se DBZ Kakarot foi bem eficiente em reconstruir a trama de DBZ e dar o devido impacto às suas principais batidas narrativas, isso nem sempre acontece em One Piece Odyssey. Por outro lado a trama principal da ilha de Waford traz um mistério intrigante, principalmente no que concerne as intenções de Adio e Lim. A narrativa também acerta na personalidade e senso de humor da trupe do Chapéu de Palha, captando bem a dinâmica entre os personagens.

Os combates se dão em batalhas por turnos nos quais o espaço é dividido em pequenas arenas na qual cada personagem pode ter seu próprio conjunto de inimigos para lidar. Isso é coerente com o espírito desse universo em que cada um dos piratas da trupe seria poderoso o suficiente para despachar uma quantidade considerável de inimigos. É possível se deslocar de uma arena para outra, mas primeiro é preciso eliminar os inimigos em sua área ou possuir habilidades de ataque à distância como Usopp ou Nami. Cada herói ou inimigo é dividido em três categorias: poder, técnica e velocidade, com uma dinâmica estilo “pedra, papel e tesoura” entre os três. Poder tem vantagem contra velocidade, velocidade contra técnica e técnica contra poder. Saber usar estrategicamente esses atributos e posicionar os personagens de acordo com o tipo de adversário é essencial nas batalhas.

Ao longo das batalhas também podem acontecer eventos especiais, tipo resgatar um aliado de um grupo de inimigos ou derrotar uma criatura com determinado personagem. Cumprir esses eventos garante experiência e alguns itens adicionais no fim da batalha. Cada pirata aprende vários golpes especiais que são usados gastando pontos de tensão (TP), se mantendo fiel ao anime, no qual esses ataques são usados constantemente, o TP pode ser recarregado em certas quantidades usando ataques normais, o que deixa essas habilidades sempre disponíveis e estimula que experimentemos com elas, já que cada personagem tem afinidades elementais (Sanji causa dano por fogo, por exemplo) ou status negativos (Zoro causa sangramento, Robin paralisia). Além disso, conforme a trama progride os personagens aprendem ataques combinados que gastam a barra de amizade causando dano alto.

É uma variedade razoável de opções, mas fica a impressão de que o jogo não aproveita algumas mecânicas. A trama estabelece bem no início que é possível trazer temporariamente para Waford coisas encontradas nas memórias (o grupo traz um carangueijo gigante de Alabasta) e isso poderia ser usado para justificar o uso de invocações (summons) com outros personagens para além da trupe do Chapéu de Palha. Guerreiros como Jimbe ou Law poderiam ser usados nessa condição de summons que apareceriam só para um ataque devastador, dando alguma variação nos personagens que aparecem, mas o jogo nunca aproveita esse conceito que a trama introduz, seja em termos de jogabilidade ou de narrativa.

A exploração também encoraja que alternemos entre os vários personagens, já que cada membro da tripulação tem sua função. As habilidades elásticas de Luffy facilitam a navegação, permitindo acessar plataformas distantes, Chopper pode entrar em passagens apertadas, Zoro pode destruir grades de metal. Alguns também servem para fornecer itens: Sanji pode cozinhar, Usopp pode criar munições especiais e Robin cria acessórios. Isso ajuda a entender como os piratas operam em coletivo e agem como um grupo coeso, sempre se ajudando seja em batalha ou na exploração, trazendo um elemento narrativo também para o campo do gameplay.

Por outro lado a exploração é prejudicada pelo tédio das missões secundárias. Muitas delas são fetch quests genéricas que colocam o jogador para zanzar pelos mapas coletando x de um item ou derrotando y de um tipo de monstro. Por mais que poder explorar livremente locações como Water 7 e Dressrosa tenham seu apelo, isso se perde quando você diante de objetivos tão genéricos. Não ajuda que em muitos momentos da história principal o jogo limita seu uso do fast travel ou de visitar diferentes cidades. Isso até faria sentido se usado em momentos específicos em situações que fossem urgentes na trama, já que não faria sentido ter Luffy zanzando atrás de frutas enquanto Usopp está prestes a ser morto pelo CP9, mas o jogo faz isso mesmo quando não há riscos urgentes. Não faz sentido dar amplos espaços para o jogador explorar e constantemente tirar nosso agenciamento para tal, principalmente quando boa parte da trama se passa em recriações que não seguem a cronologia canônica.

É uma pena que certos aspectos não são devidamente polidos, já que havia aqui potencial para um excelente RPG no universo de One Piece. Do jeito que está, One Piece Odyssey oferece combate e exploração competentes, com o habitual carisma e humor de seus personagens, que são prejudicados por uma trama e jogabilidade que não aproveitam plenamente os conceitos que apresentam e fazem pouco para situar o público que não é familiar com esse universo.

 

Nota: 7/10


Trailer

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