terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Crítica – I Wanna Dance With Somebody: A História de Whitney Houston

 

Análise Crítica – I Wanna Dance With Somebody: A História de Whitney Houston

Review – I Wanna Dance With Somebody: A História de Whitney Houston
Fiquei com um pé atrás quando vi que este I Wanna Dance With Somebody: A História de Whitney Houston seria feito pelos mesmos produtores de Bohemian Rhapsody (2018), cinebiografia do Freddie Mercury. Temi que o resultado fosse a mesma estrutura quadrada que passa superficialmente por vários momentos da vida de sua personagem principal sem qualquer esforço de ir a fundo neles. Pois depois de ver o filme posso dizer: é bem isso mesmo.

A trama acompanha Whitney (Naomi Ackie) desde a juventude em sua trajetória de sucesso até a eventual decadência por conta das drogas e de uma relação conturbada com o rapper Bobby Brown (Ashton Sanders). É aquela biografia bem estilo “melhores momentos” que salta rapidamente entre momentos icônicos da carreira da personagem sem dar tempo para que nenhum evento seja desenvolvido ou tenha qualquer repercussão.

Num instante Whitney termina com a namorada, Robyn (Nafessa Williams), em uma grande briga apenas para na cena seguinte as duas estarem trabalhando junta e sendo melhores amigas como se nada tivesse acontecido. Isso perdura pelo filme inteiro, com um certo elemento sendo inserido apenas para sumir depois, como os questionamentos à “negritude” da cantora, uma questão complexa que o filme varre para debaixo do tapete de maneira simplória.

Desta maneira a fita carece de drama, de conflito ou mesmo de um foco específico. De início o filme parece focar na repressão da sexualidade de Whitney, mas logo pula para o conflito dela com os pais, para depois falar de Bobby Brown ou drogas, sem eleger um eixo central e passando rápido por todos esses temas. Outro problema é que assim como Bohemian Rhapsody o filme higieniza demais certos aspectos da protagonista, como sua sexualidade, seus problemas com drogas ou seu relacionamento abusivo com Bobby Brown. Essas coisas são pinceladas sim, no entanto nunca sentimos o tanto que o vício dela foi destrutivo ou o devido peso negativo de Brown sobre ela.

Na verdade, fica a impressão de que para o filmes todas essas cenas em que conhecemos Whitney são secundárias, um mero pretexto para costurar um número musical no outro. As cenas musicais, por sinal, se limitam a recriar performances e videoclipes icônicos de Whitney e toda a força emocional que transborda delas é mais pelas canções em si e o talento da cantora do que qualquer construção audiovisual que o filme faz com elas ou como as costura na narrativa. Desta forma os principais méritos da produção praticamente não vêm de qualquer decisão criativa interna ao filme. Sim, é difícil não se arrepiar ao ouvir I Will Always Love You, por exemplo, mas esse efeito vem mais da canção em si do que de qualquer coisa que o filme faz com ela.

O que é uma pena considerando o elenco que o filme tem em mãos. De uma Naomi Ackie que emana a confiança e presença de Whitney, passando por Tamara Tunie como a exigente mãe da cantora ou o modo como Ashton Sanders constrói a desfaçatez e cafajestice de Bobby Brown. Há de se destacar também o trabalho do sempre confiável Stanley Tucci como Clive, o agente de Whitney e talvez a única relação saudável que a cantora tem ao longo da narrativa. Tucci traz a Clive um senso de humor e um calor humano que dão uma âncora emocional ao personagem apesar da superficialidade do texto.

A verdade é que este I Wanna Dance With Somebody: A História de Whitney Houston se beneficiaria de ser mais como Rocketman (2019) e menos Bohemian Rhapsody. Mais disposto a se aprofundar na subjetividade de sua biografada e entender o que a impelia e menos focado em meramente mimetizar momentos midiáticos já conhecidos.

 

Nota: 5/10


Trailer

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